Unidade 1 | Atenção Domiciliar: território, redes de atenção e necessidades de saúde |
Aqui, boas condições de vida podem ser entendidas em dois sentidos: o dos fatores externos, que determinam o processo saúde-doença, mais conhecido; o outro, considerando os lugares ocupados pelos indivíduos no processo produtivo. Juntos, estes entendimentos nos dão a perspectiva de que a maneira como se vive se traduz em diferentes necessidades de saúde. Esta compreensão reforça a importância de ações intersetoriais e de promoção de saúde, estímulo à participação nos Conselhos de Saúde e entidades da sociedade civil que lutem pela garantia da cidadania.
Para redefinir esta necessidade, Cecílio (2001) recorre aos conceitos de 'tecnologias leves', 'leve-duras' e 'duras' (Merhy & Franco 2003, apud Campos 2007), destacando que a 'importância dessas tecnologias deve ser estabelecida pelos profissionais de saúde em conjunto com os usuários. Ela está relacionada à percepção que, dependendo do momento, a tecnologia de saúde de que o usuário necessita pode estar em uma unidade básica de saúde ou em algum serviço de referência. Ou seja, de acordo com o momento, pode-se precisar de uma consulta, uma tomografia ou uma orientação. Esta concepção aponta a necessidade de garantir as linhas de cuidado em todos os níveis de atenção, com responsabilização dos serviços de saúde e do próprio usuário.
"Para além da simples adscrição a um serviço ou à inscrição formal em um programa, vínculo é entendido como referência e relação de confiança. Significa o estabelecimento de uma relação contínua no tempo, pessoal, intransferível e calorosa, ou seja, um encontro de subjetividades" (Cecílio, 2001).
A produção de vínculo propicia a construção de sujeitos (profissionais e usuários) autônomos. Cabe ressalvar que os profissionais de saúde nem sempre estão preparados para lidar com as necessidades de saúde dos usuários, de modo a promover a autonomia dos sujeitos, sendo necessária a educação permanente como meio de sanar esse déficit. (Santos, 2010)
Nesse sentido, as estratégias de saúde da família e o trabalho dos ACS constituem-se como estratégias favoráveis à criação de vínculos e à responsabilização da equipe pela população.
Campos (2005) afirma que curar alguém é sempre aumentar seu 'coeficiente de autonomia' e o auto cuidado, melhorando seu entendimento do próprio corpo, sua doença, suas relações com o meio social e, sua possibilidade de reconstruir os sentidos da própria vida e lutar pela satisfação de suas necessidades, da forma mais ampla possível.