Na experiência de Minas Gerais, a proposta de trabalho surgiu da parceria entre a universidade e equipe de saúde, que, trabalhando em conjunto, realizaram como primeira ação a identificação das demandas locais. Para Oliveira et al.(2011), esse cenário retrata a importância do campo de estágio como dispositivo de interação entre o ensino e o serviço. O relato traz à discussão, quais as repercussões da proposta para a saúde da mulher, assim como problematiza os reflexos desta atividade no processo de trabalho dos profissionais da equipe de saúde.
Essa proposta de trabalho tem o conceito de autonomia como sua principal inspiração. Em coerência com essa perspectiva, foram adotadas metodologias participativas, operando com recursos teórico-metodológicos da pesquisa-ação e dos trabalhos de Paulo Freire. Tinha-se a franca intenção de que a intervenção deveria ser um ato político, na medida em que promovesse transformações nas lógicas de poder e opressões existentes. Nesse sentido, evitou-se deliberadamente transformar a ação em grupo de mulheres, buscando discussões transversais, não se propondo à suspensão da vida cotidiana para discussões sobre a saúde da mulher.
Na prática, percebeu-se inclusive pela maneira como os grupos foram sendo formados, que a história da saúde ainda se pauta pelo saber técnico como aquele preponderante para se promover a saúde. Com isso em vista, em muitos momentos o silêncio foi compartilhado, na tentativa de não assumir esse lugar de portadoras do conhecimento que conta. O único encontro do grupo, ocorreu em forma de apresentação com uma convidada, também usuária e com ampla trajetória de participação em conselhos de saúde.
Segundo os autores, a prática em questão possibilitou reflexões e reformulações sobre a atuação e a postura profissional. Sobretudo as reflexões teóricas sobre gênero e empoderamento favoreceram discussões proveitosas e críticas importantes em relação às intervenções propostas.
O segundo semestre de realização da prática trouxe aspectos importantes, demonstrando o quanto as discussões evoluíram para a produção de diferentes e interessantes posicionamentos das mulheres envolvidas. A temática de direitos humanos, que emergiu nos últimos encontros, revelou em certa medida o quanto concepções iniciais de posicionamento no mundo foram se modificando para uma lógica de sujeitos de direitos e de ações. Alguns aspectos precisam ainda ser mais bem compreendidos, como o esvaziamento na prática de mulheres da comunidade, o alto índice de presença de ACS e o envolvimento e desejo dos participantes em continuar a desenvolver a prática. Acredita-se no potencial desta ação como disparador de um novo modelo de atuação em saúde, que promove a oportunidade de crescimento e transformação. A proposta é de continuidade da prática nos próximos semestres, por sugestão e interesse das integrantes, e a expectativa é de que se consiga envolver também homens em alguns momentos para a continuidade e o enriquecimento das discussões. Surgiu a reflexão de que não é possível discutir gênero, enquanto algo relacional, sem convocar os homens para as discussões.
Carcereri, Santos e Tognoli