Cachoeira da Serra II: conhecendo o sistema de saúde local

Ilha das Flores

O trabalho em equipe

As reuniões da equipe Amarela ocorrem semanalmente, de forma bem organizada. A estrutura de informação e cadastro das famílias tem estado bem atualizada. A cada 15 dias, Margarida, gerente da Unidade, realiza um encontro com todos os funcionários para compartilhar o trabalho diário, além de participar em todas as reuniões das equipes. A equipe Verde tem mais dificuldade de reunir todos os seus membros, pois Daniel, o médico da equipe, alega nunca poder participar e diz que não concorda com esta estrutura, já que recebe todas as informações de que necessita por meio dos agentes comunitários. Margarida evita confrontar Daniel, pois o médico sempre recebeu elogios por sua capacidade profissional e sua paciência com os pacientes que o procuram.

Margarida, por outro lado, estava preocupada com outro problema que tinha de enfrentar pela primeira vez em sua carreira. Há cerca de cinco dias havia sido convocada para uma reunião na Secretaria Municipal de Saúde, setor de ouvidoria, que recebera uma denúncia a respeito de um profissional da Unidade. Ela havia notado um clima estranho na última reunião da equipe Verde, mas foi somente ali que ficou sabendo que Daniel desviava pacientes do assentamento para seu novo consultório, com a colaboração de dois agentes comunitários de saúde que não foram identificados.

Na última reunião da equipe Amarela, Juliana (dentista), que nunca participara das reuniões por não ser convidada, questionou Margarida a respeito da falta de material de consumo, sentida desde a sua chegada à Unidade. O clima ficou tenso, pois Valéria (ACS) já havia argumentado sobre a necessidade de aumentar o número de pessoas atendidas pela odontologia, já que muitas pessoas do assentamento Mundo Melhor (do MST) estavam cobrando esse atendimento. Juliana respondeu que não havia mais condições de atendimento clínico, pois a Unidade estava sem material restaurador básico (amálgama e resina). Margarida prometeu averiguar o caso junto à Secretaria Municipal de Saúde, mas já havia sido informada de que receberiam alguns poucos kits de resina. O restante, segundo a gerente, demoraria a chegar e, portanto, o atendimento teria de ser reorganizado.

Por último, na reunião anterior da equipe Amarela, a enfermeira Elza e a auxiliar Claudivânia trouxeram a notícia de que mais uma série de casos de catapora estava atingindo a escola, e que não estavam conseguindo isolar as crianças – as mães estavam levando os filhos doentes para a escola, pois precisavam trabalhar e não tinham como deixar os filhos em casa.

Mesmo com os problemas, as equipes estão muito felizes por desde já participarem da organização da festa de Páscoa, em parceria com a associação dos moradores da região do lixão. Os profissionais oferecerão oficina para elaboração de ovos de chocolate com menor teor de açúcar para diabéticos, além de uma oficina de coelhinhos feitos de material reciclável recolhidos pelas crianças diretamente nas casas de moradores, e não no lixão. Até o mês de abril seria possível realizar um grande trabalho.

A equipe de saúde bucal (modalidade I) composta pela Dra. Juliana, odontóloga, e por Eliana, auxiliar de saúde bucal (ASB) iniciou o trabalho no distrito há dois meses.

Especialização em Saúde da Família
Copyright 2012|UnA-SUS UNIFESP