O trabalho em equipe
A equipe da Vila Santo Antônio nunca mais foi a mesma desde sua mudança. Antes, com a população bem definida e o trabalho organizado, as dificuldades se limitavam à falta de infraestrutura da UBS antiga. Com o novo prédio, veio mais espaço e mais trabalho!
Agora, com o crescimento da demanda espontânea de pacientes "fora de área", Joana, médica, não consegue mais participar das reuniões de equipe. Para complicar, a enfermeira Ana Lígia está em licença-maternidade, sendo substituída pela enfermeira Lúcia. Lúcia se recusa a escutar as demandas das pessoas, pois o COREN a proíbe de fazer "triagem". Acha que os usuários, por serem em sua grande parte pessoas humildes, "são todos burros" e não aderem aos tratamentos recomendados. Sua função é organizar o trabalho das auxiliares e das agentes de saúde, já que não têm formação para realizar consultas de enfermagem. Lúcia aguarda definição do protocolo municipal de enfermagem para respaldar sua atuação. Este protocolo foi prometido há cinco anos, porém não há nenhuma previsão de quando ficará pronto. Enquanto isso, Lúcia não atende ninguém. Tal fato foi agravado, pois, durante um dia na semana, Joana foi deslocada para cobrir a escala de atendimento da Unidade de Atendimento Integrado (UAI).
Como solução para o problema do território do Bairro Vitória e da Vila Santo Antônio, a gestão municipal conseguiu incentivo financeiro federal para implantar uma UAI. Sua inauguração foi um grande evento. Após dois meses de funcionamento, a população da área de abrangência da UBS Vila Industrial e da UBS Vitória tem frequentado bastante esse serviço, dito resolutivo. Após o primeiro atendimento, os pacientes são encaminhados para a UBS de origem – há inclusive espaço na agenda das UBS reservado para os pacientes da UAI.
Mesmo com a UAI, o atendimento da UBS Santo Antônio continua elevado, pois nesta nova Unidade não há regulação médica nem coleta de material para exames. As pessoas chegam às UBS para levar os encaminhamentos e pedidos de exames fornecidos pela UAI, o que resulta em uma pressão de demanda e no aumento de trabalho considerável para a equipe.
Em reunião da equipe, todos, menos Lúcia, decidiram fazer um momento de escuta qualificada. Quem mais está se destacando é o dentista Érico e a auxiliar de saúde bucal Mariane. Sem poder trabalhar, já que seu equipamento se encontra quebrado há dois meses e o contrato de manutenção ainda não foi renovado (grande parte dos recursos foi desviada para construção da UAI), os dois profissionais estão se dedicando a acolher a população. Em seu grupo de "acolhimento", levantam as demandas mais urgentes e discutem com a equipe quando podem. Joana começou a organizar "grupos de resolutividade" para avaliar os encaminhamentos e tem tentado sensibilizar os colegas da UAI sobre o funcionamento da Saúde da Família.
Na última reunião foi esquematizada a campanha de vacinação contra a gripe, que será iniciada no dia 30 de abril. Porém houve muita resistência por parte de alguns membros da equipe, pois, além de envolver visitas domiciliares na zona rural para vacinar a população, a equipe de saúde bucal terá que examinar idosos para a campanha de prevenção do câncer bucal, tradicionalmente realizada na mesma época – campanha esta que encontra muita resistência por parte da população, que não gosta de abrir a boca quando não está em uma cadeira odontológica.