Para uma prática clínica responsável e correspondente às expectativas da população local, cabe aos profissionais das Equipes de Saúde Bucal a devida apropriação das principais características de ordem social, econômica e biológica que cercam o modo como as pessoas vivem no território de abrangência da Unidade Básica de Saúde, identificando as áreas em que os fatores de risco que determinam e/ou condicionam o Processo saúde-doença possam se relacionar também à etiologia das principais doenças bucais. O Agente Comunitário de Saúde (ACS) assume um papel de extrema relevância nessa ação.
Esse momento em que se traça um olhar mais acurado sobre a população adstrita pode ser fundamental também para o apontamento de critérios capazes de eleger as famílias mais vulneráveis do ponto de vista social e biológico, em maior situação de risco entre as demais, para o consequente convite destas para os grupos estabelecidos e a triagem odontológica, instante em que os profissionais das Equipes de Saúde Bucal deverão avaliar as condições de saúde bucal da população residente em seu território (BRASIL, 2004a).
Observou-se nas duas últimas décadas uma mudança do perfil epidemiológico da cárie dentária, principalmente em crianças (BRASIL, 2004b; BRASIL, 2011). Verificou-se também nestas pesquisas de base populacional que a redução não foi uniforme, sendo que crianças e famílias expostas a privações econômicas e sociais apresentaram maior prevalência de agravos; assim sendo, a incorporação de critérios de risco no diagnóstico e no tratamento das necessidade é fundamental para agilizar ações e otimizar recursos, assim como a avaliação do risco individual para doenças bucais é instrumento valioso na organização dos serviços.
Considerando os determinantes socioeconômicos e culturais do Processo saúde-doença e a integralidade das ações, é fundamental o risco para o planejamento. A identificação do risco facilita a organização da demanda e potencializa o acesso aos serviços de Saúde Bucal.
Um conceito fundamental para o planejamento de ação em saúde é a ideia de risco, portanto fatores de risco são atributos de um grupo que apresenta maior incidência de uma dada patologia, em comparação com outros grupos populacionais. Esse grupo exposto aos riscos reúne características que possibilitam o desenvolvimento de determinado agravo, mas não o condicionam. A avaliação do risco em Saúde Bucal é uma ferramenta fundamental para o planejamento de ações coletivas e de assistência, propiciando assim a equidade na Atenção em Saúde. Conheça os riscos:
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Em alguns instrumentos de risco pode ser utilizada a Escala de Coelho, instrumento de estratificação de risco familiar que, aplicado às famílias adscritas a uma equipe de saúde, pretende determinar seu risco social e de saúde refletindo o potencial de adoecimento de cada núcleo familiar. Utiliza dados presentes na Ficha A SIAB e outros disponíveis na rotina das equipes de Saúde da Família (COELHO; SAVASSI, 2004).
A triagem odontológica tem o objetivo de identificar a parcela da população que esteve mais exposta aos fatores de risco que concorrem para o maior aparecimento de doenças bucais, tais como cárie e doença periodontal, e da presença ou não de alterações da normalidade em tecidos moles, e/ou possui algum grau de atividade dessas doenças em curso. A proposta é estratificar as famílias segundo tais critérios e convidá-las para tratamento odontológico com base em seus componentes, respeitando o princípio doutrinário da equidade do SUS. Essa ação norteia a organização da assistência odontológica programática ao público mais vulnerável que, aliado a uma boa retaguarda na produção de respostas adequadas à demanda espontânea, gera oportunidades para uma avaliação positiva da população adstrita em função da qualidade da atenção promovida (MENDES-GOLÇALVES, 1992; SÃO PAULO, 2009).
Saiba mais sobre os temas apresentados acessando os resultados principais da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal – SB Brasil, 2010 http://189.28.128.100/dab/docs/geral/projeto_sb2010_relatorio_final.pdf e conhecendo a Escala de Coelho: http://medicinadefamiliabr.blogspot.com/2009/12/sistematizacao-da-escala-de-risco.html.