As práticas em Saúde Bucal na Atenção Primária à Saúde devem ser pautadas pelas observações sobre o território de abrangência, pelas características socioeconômicas e biológicas dos núcleos familiares e pelo modo como elas impactam o Processo saúde-doença bucal, aliadas aos dados coletados na triagem odontológica dos indivíduos das famílias. Tais ações devem considerar o ambiente em que se realizam tais práticas, assim como as diretrizes estabelecidas pelo gestor da respectiva esfera de governo local para o exercício das atividades profissionais junto à população adstrita.
Três situações devem ser observadas no território de abrangência das equipes: a realidade das condições de Saúde Bucal das famílias pertencentes à população local; suas características socioeconômicas e biológicas; o contexto que envolve o modo como vivem os componentes dos núcleos familiares residentes numa determinada região.
Esse movimento em direção ao território é um desafio para a Odontologia na ESF, principalmente por causa da mentalidade da população, que acredita que o locus de trabalho dos profissionais da Equipe de Saúde Bucal, em especial do cirurgião-dentista, é o consultório odontológico, onde deve prestar assistência de modo integral aos pacientes que o procuram ou que estão agendados, e assim não compreendem a importância dessa ação.
Definir o campo de atuação da Equipe de Saúde Bucal (ESB) na Saúde da Família é um dos desafios das equipes de Atenção Básica. As ações de Saúde Bucal integram o rol de atividades voltadas à promoção da qualidade de vida de determinada comunidade. Para tal, é necessário conhecer a realidade dessa comunidade na qual a equipe está inserida, buscando definir claramente seus principais problemas de saúde, suas fragilidades coletivas, seus riscos. Por outro lado, é importante também definir suas fortalezas, sejam estruturais (como a existência de organizações, públicas ou não, que ampliam acesso a bens e serviços), ou culturais (como quando há um saber popular tácito que produz melhorias nas condições de saúde, alimentação, uso de plantas medicinais e outras). A Atenção em Saúde Bucal como prática que integra as Equipes de Saúde da Família, além de resolver os problemas de saúde-doença bucal instalados, deve interferir diretamente nos seus fatores determinantes (SILVEIRA FILHO, 2008).
Isso exige boa articulação e interação comunicativa entre os profissionais das Equipes de Saúde Bucal com aqueles da Equipe de Saúde da Família, a partir da exposição das intencionalidades dos atores envolvidos, voltadas à consecução do trabalho em equipe e pautadas pelo senso de construção coletiva, e da complementaridade do conhecimento que deve nortear as práticas clínicas na ESF (BRASIL, 2008; GENOVESE, 1992; MOYSES; SILVEIRA FILHO, 2002).