Para a lógica financeira dessas clínicas privadas (mas pagas pelo setor público), era importante ter os leitos sempre ocupados, e o mecanismo de financiamento funcionava como um estímulo a manter o paciente internado por períodos longos. Os dados do sistema mostram que a “taxa de ocupação” era invariavelmente de 100%.

Essa lógica mercantilista transformava cada paciente em um “cheque ao portador”, conforme a expressão de um grande crítico do sistema de compra estatal de serviços de saúde, o sanitarista Carlos Gentile de Mello, nos anos 1970. Ocorria, portanto, segundo as críticas do MTSM, uma “mercantilização da loucura”.

Eram dois sistemas, mas com um ponto em comum: só ofereciam, como recurso terapêutico, a internação hospitalar. Portanto, o sistema de atenção em saúde mental era integralmente “hospitalocêntrico”. Por esse motivo, não conseguia oferecer atendimento à maior parte dos pacientes, porque sua única modalidade de tratamento era a internação.

E os ambulatórios? Eram muito raros, ofereciam poucas vagas, sendo em sua maioria anexos aos hospitais, dos quais funcionavam como porta de entrada. Assim era a saúde mental no Brasil até o início dos anos 80.

Reflexão

Você lembra dessa época em que não havia nenhum outro serviço e todas as pessoas consideradas loucas eram enviadas para os hospitais psiquiátricos ou hospícios? Como era isso em sua cidade? Para onde eram enviados os loucos? E as pessoas com problemas relacionados ao consumo de drogas, inclusive o álcool? Para onde iam? Que argumentos sustentavam essa ideia de que “lugar de louco é no hospício”? E o que isso produziu?