A hipótese diagnóstica com base nos dados relatados é de episódio depressivo no puerpério. A Depressão no Pós-Parto (DPP), transtorno do humor que pode ocorrer até um ano após o parto, foi agravada neste caso pelo falecimento precoce de seu outro filho.
Cabe indagar se os sintomas que são manifestados na consulta a que Darlene leva seu filho Danrley Anderson, “o bebê de 15 dias”, se iniciaram após o parto atual, ou permaneceram durante o período da gravidez, desencadeados pelo parto anterior e subsequente falecimento. As manifestações psicopatológicas relatadas direcionam para o diagnóstico diferencial de Depressão no Pós-Parto (DPP) e blues puerperal (“baby blues”). O blues puerperal é o quadro mais comum e mais leve encontrado no puerpério, com início ao redor de dois a quatro dias após o parto e remissão no máximo em duas semanas. O quadro inclui choro fácil, labilidade afetiva, irritabilidade, ansiedade, cansaço, inquietação e comportamento hostil para com familiares, ou seja, sintomas depressivos com menor intensidade e repercussão, não requerendo intervenções específicas, necessitando de suporte emocional, compreensão e auxílio nos cuidados com o bebê. As pacientes devem ser acompanhadas para avaliar uma eventual evolução para um quadro depressivo puerperal. A depressão no pós-parto ou puerperal inclui redução da qualidade de vida, isolamento social, ataques de ansiedade, choro fácil, perda de interesse na vida, insegurança excessiva, pensamentos obsessivos inapropriados, irritabilidade, fadiga, sentimentos de culpa e inutilidade, sobretudo por se sentir incapaz de cuidar do bebê, medo de machucar o bebê e relutância em amamentá-lo, desligamento emocional do bebê e de outros familiares; podem ocorrer também queixas somáticas, como dor na incisão cirúrgica, cefaleia e dor lombar, além de ideias de autoagressão e planos suicidas.
O diagnóstico atual de Darlene, portanto, direciona-se para Depressão no Pós-Parto, perante a intensidade e a variedade dos sintomas, e com duração que já excede duas semanas, sem indícios de redução. A paciente deve ser submetida ao plano terapêutico que inclui uma intervenção psicossocial, incluindo orientação familiar, se possível reduzindo suas responsabilidades e garantindo as necessidades básicas para o bebê. O suporte psicoterápico ao marido também tem demonstrado bons resultados na evolução dessas pacientes. Deve-se avaliar o suporte familiar de outros membros principalmente do sexo feminino, tais como mãe, irmãs, cunhadas e tias, com quem a paciente mantenha um relacionamento afetivo e nas quais tenha confiança para receber ajuda necessária, sobretudo para dividir os cuidados com o bebê. Estimular a prática de exercícios físicos, ajustados às suas condições psicossociais, também pode auxiliar o tratamento. O uso de antidepressivos tricíclicos (ADTs) ou Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRSs) está indicado para pacientes nessas condições, com os devidos cuidados em relação à lactação.
A sertralina (ISRS) e a nortriptilina (ADT) seriam escolhas favoráveis por apresentarem níveis séricos baixos em crianças amamentadas com leite materno. O benefício da amamentação com leite materno é inquestionável. No entanto, o possível impacto negativo de um transtorno do humor materno não tratado na relação mãe-bebê e no desenvolvimento do bebê também deve ser considerado. As decisões em relação à lactação envolvem a análise cuidadosa do risco-benefício e devem ser avaliadas individualmente pela paciente e pelo médico, incluindo também outros membros da família. A convocação do marido é imprescindível para avaliar o grau de continência ao sofrimento da paciente e esclarecer o quadro clínico, principalmente a sua percepção em relação a esse transtorno mental, incluindo os “mitos” quanto à depressão. Além disso, o diagnóstico de depressão nesse período se encontra prejudicado devido à sobreposição de mudanças fisiológicas da gestação, como alteração de sono, energia e peso. Anemia, hipotireoidismo e diabetes gestacional também podem produzir sintomas semelhantes a um quadro depressivo, portanto um exame físico e exames laboratoriais devem ser avaliados para investigar possíveis associações de condições clínicas com o estado depressivo.