Desafios do trabalho em equipe
Uma equipe pode ser multiprofissional e estar distante de ser interdisciplinar. O trabalho conjunto de agentes de saúde, enfermeiros, médicos, dentistas, auxiliares, equipe administrativa (quando existe) não necessariamente garante que a equipe atue de forma competente e harmônica na ESF. Uma equipe que não compartilha os mesmos objetivos, que não converge seus processos de trabalho, tem grande dificuldade em enfrentar casos complexos como o da família de Darlene e os problemas da área de abrangência das equipes.
É importante que os profissionais alinhem o entendimento dos processos pelos quais a equipe vai sistematizar o trabalho. No caso em questão, observamos uma clara discordância entre a enfermeira Rita e o médico Felipe a respeito da rotina de abordagem na puericultura. Naturalmente os profissionais podem ter pontos de vista distintos, mas devem saber tratar as diferenças com maturidade para que consigam trabalhar numa direção específica. Caso haja divergência quanto a essa "direção", corre-se o risco de essa equipe se desagregar. A postura da auxiliar Cleonice, como vemos na passagem "já fazendo uma aliança para o debate do dia seguinte", aponta para risco de polarização. É importante que todo profissional envolvido no trabalho em equipe tenha tolerância para ouvir críticas, que devem ser feitas também focadas no aspecto profissional e, se possível, baseadas em fatos e/ou rotinas bem estabelecidos.
As equipes são campo fértil para fofocas e intrigas. A polarização e as críticas, quando feitas de forma "sigilosa", logo ganham vulto e tendem a desarmonizar o trabalho. Por isso, como ocorreu acertadamente no caso, os profissionais acharam por bem realizar o debate em conjunto, durante a reunião em equipe. Outro exemplo de maturidade desta equipe é sua organização para entender e apoiar Darlene e sua família. Observamos também um bom exemplo de atendimento compartilhado e de divisão de responsabilidades.
Com a média de mil famílias por equipe, é fundamental que os profissionais saibam dividir tarefas e confiem uns nos outros. Mas a formação de todos os profissionais ainda não inclui aspectos para o trabalho em equipe interdisciplinar, o que deve ser alvo de atenção de todos. Dessa forma, a crítica "fraterna", a capacidade de escuta, a humildade e o cooperativismo devem ser sempre maiores que a vaidade e o corporativismo profissional.