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Reflexão
Qual a melhor referência para orientar nossas ações ou nosso aprendizado? Os relatos de sucessos em assuntos correlatos ao que estamos tentando fazer ou aprender, como queriam os poetas e os sofistas, ou apreender os modelos, as essências ou as formas inteligíveis dos objetos com os quais estamos trabalhando? |
Objetos ideais - objetos reais
Seguindo seu raciocínio, uma cidade ideal seria a melhor referência para orientar nossas ações do que as cidades existentes com suas imperfeições, contradições e problemas. A partir das diferenças constatadas entre uma cidade ideal e uma cidade real um governante ou gestor poderia gerar um programa de trabalho no sentido de aproximar a cidade concreta da cidade ideal. Dito de outra forma, a diferença entre o ideal e o real corresponde ao que deve ser feito.
Esse debate de Platão tem continuidade com seu discípulo Aristóteles, segundo o qual a doutrina das ideias não poderia ser estendida a todos os campos do conhecimento e da ação. Para Aristóteles, existiam fatos ou situações que eram singulares e por isso não eram passíveis de ser universalizados ou enquadrados em modelos. Além do mais acreditava que...
“[...] não se deve querer a mesma precisão em todos os raciocínios (mas) [...] buscar a precisão, em cada gênero de coisas, apenas até o ponto que a natureza do assunto permite do mesmo modo que é insensato aceitar um raciocínio apenas provável da parte de um matemático, e exigir demonstrações científicas de um retórico.”
Dessa forma, enquanto em sua República Platão vai construir uma cidade ideal, que todos deveríamos ter como referência para agir em nossas próprias cidades, Aristóteles vai propor que nos inspiremos em cidades concretas e conhecidas, bem governadas, onde a vida é boa, para orientar nossas ações frente a um problema a resolver.
Para as leis ou a constituição de nossa cidade, enquanto Platão vai sugerir que ela devesse seguir um modelo racional e inteligível, Aristóteles vai propor que nos inspiremos nas melhores constituições existentes, para adequar ou construir a nossa própria constituição.
Bem, podemos considerar que ambas são alternativas passíveis de ser utilizadas e podem ajudar, dependendo da situação em que nos encontremos.
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Observação
O grande problema com os modelos teóricos é a instituição de verdades eternas ou incontestáveis. É querer transformá-los no argumento que acaba com o diálogo ou no parâmetro final, pelo qual o sistema de saúde ou o trabalho de uma equipe é avaliado. Por seu turno, inspirar-se no que está sendo feito em um determinado lugar ou para lidar com um determinado problema, pode nos deixar equivocados em função de que este problema, neste lugar determinado, se reveste de um contexto específico, que não é o mesmo no qual estamos vivendo. |
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Leitura Complementar
Como ponto de partida você deve ler o texto que discute o conceito de modelo assistencial em saúde (Clique aqui para abrir). |
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Para refletir...
Estas questões estão postas também para que os gestores reflitam em relação à organização dos sistemas de saúde, e para as Equipes de Saúde na organização do seu processo de trabalho. Dessa forma, qual a melhor alternativa ser buscada? Basear- se em modelos e fórmulas idealizadas, ou inspirar-se em sistemas e equipes já existentes e que mostram bom desempenho? Em qual dessas alternativas você incluiria a concepção do SUS – Sistema Único de Saúde? |