Fundamentos para a Abordagem Integral aos Usuários com Doenças Crônicas Não Transmissíveis
O debate sobre os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) iniciou-se nos anos 1970/1980 a partir do entendimento de que as intervenções curativas e orientadas para o risco de adoecer eram insuficientes para a produção da saúde e da qualidade de vida de uma sociedade, tendo-se em vista que muitos fatores sociais também influenciam na saúde dos indivíduos, como as condições em que as pessoas nascem, vivem, trabalham e envelhecem.
A relação estabelecida entre os seres humanos e o meio ambiente ao longo dos tempos tem sido crucial na determinação do impacto causado pelas doenças na sociedade humana.
O crescimento rápido das cidades criou uma grande deterioração ambiental, em termos de condições de vida, saúde e poluição. A má qualidade do ar, por exemplo, é a grande responsável por doenças respiratórias.
Nesse contexto, ações sobre os DSS que diminuam os diferenciais de exposição aos riscos, tendo como alvo, por exemplo, grupos que vivem e trabalham em condições insalubres, em ambientes pouco seguros ou expostos a contaminantes ambientais e com deficiências nutricionais, são de suma relevância para enfrentar as DCNT.
Ação Intersetorial:
Ações de prevenção e controle de DCNT requerem articulação e suporte de todos os setores do governo, da sociedade civil e do setor privado, com a finalidade de obter sucesso contra a epidemia das DCNT.
Desenvolvimento Sustentável: A epidemia de DCNT tem relevante impacto negativo sobre o desenvolvimento humano e social. A prevenção deveria, por essa razão, ser incluída como prioridade nas iniciativas de desenvolvimento e investimento.
O fortalecimento da prevenção e o controle de DCNT devem também ser considerados como parte integral dos programas de redução da pobreza e outros programas de assistência ao desenvolvimento.
A Sociedade Civil e o Setor Privado:
As instituições, os grupos da sociedade civil e a Atenção Básica à Saúde são locais distintos para mobilização política e conscientização dos usuários para esforços na prevenção e no controle de DCNT. As empresas podem fazer contribuições importantes em relação aos desafios da prevenção de DCNT, principalmente quanto à redução dos teores de sal, gorduras saturadas e açúcar dos alimentos.
Além disso, um setor que evite a propaganda de alimentação ou de outros comportamentos prejudiciais ou, ainda, que reformule produtos para proporcionar acesso a opções de alimentos saudáveis estará dando exemplos de abordagens e ações que deveriam ser implementadas por parceiros de todo o setor corporativo.
Os governos são responsáveis por estimular as parcerias para a produção de alimentos mais saudáveis, bem como monitorar os acordos estabelecidos entre as partes. E os profissionais da saúde poderão orientar os usuários a compreenderem as informações nutricionais que constam nos rótulos, sobre a ingestão diária de cada nutriente e sua relação com a dieta adequada a cada indivíduo. Para isso a Equipe de Saúde da Família pode contar com o auxílio do profissional nutricionista da Equipe do NASF.
Modelos de Atenção aos Portadores de Doenças Crônicas:
O modelo de cuidado direcionado às doenças crônicas tem componentes no suporte ao autogerenciamento (aconselhamento, educação e informação), ao sistema de saúde (equipes multidisciplinares), à decisão (guidelines baseados em evidências, treinamento dos profissionais) e ao sistema de informação clínico (informações do portador).
Os pontos centrais desse modelo são: a produção de informações entre os serviços, a avaliação de portadores, o autogerenciamento, a otimização das terapias e o seguimento. Veja a figura abaixo.

FIGURA 1: Abordagem integral da linha de cuidado em doenças crônicas.
Fonte: Noite e McKee, 2008 (apud BRASIL 2011).
Atuar em todo o Ciclo Vital:
A abordagem de DCNT estende-se por todo o ciclo da vida. As ações de promoção da saúde e prevenção de DCNT iniciam-se durante a gravidez, promovendo os cuidados pré-natais e a nutrição adequada, passam pelo estímulo ao aleitamento materno, pela proteção à infância e à adolescência quanto à exposição aos fatores de risco (álcool, tabaco) e quanto ao estímulo aos fatores protetores (alimentação equilibrada, prática de atividade física) e persistem na fase adulta e durante todo o curso da vida. Veja a figura a seguir.

Figura 2: Benefícios na atuação sobre fatores ambientais e comportamento saudável ao longo do ciclo de vida.
Fonte: WHO, 2003 (apud BRASIL, 2011).
Em virtude da relação existente entre o processo saúde-doença e os aspectos de cunho social e histórico envolvidos, é importante que a equipe de saúde compreenda o usuário como parte da sociedade. Ele influencia e é influenciado por ela no cuidado de sua própria saúde, como também nas diferentes concepções que possui desta.
Esta unidade pretende oferecer uma base conceitual que o auxilie na compreensão da importância desses aspectos no tratamento das principais doenças crônicas que assolam atualmente nossa sociedade: a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, as doenças respiratórias e as lesões neurológicas.
Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Amante, Cutolo, Padilha e Miranda