Desenvolvendo a Habilidade de Comunicação com o Usuário
O trabalho do médico na atenção básica, em especial na ESF, tem como características a longitudinalidade, o vínculo, a coordenação compartilhada do cuidado e a corresponsabilização entre os profissionais e a comunidade.
Quanto mais tempo ele estiver na comunidade, mais conhecerá os usuários. Certamente muitos de vocês já fizeram o pré-natal e seguem acompanhando a criança ao longo dos anos, não é? Os usuários, também ao longo do tempo, vão identificar o médico como uma das referências na atenção à saúde.
Neste sentido, é importante que o médico tenha habilidades de comunicação e de estabelecer uma boa relação médico-usuário.

Considera-se uma boa relação médico-usuário aquela que é centrada na pessoa e não na doença.
Os usuários que procuram o atendimento médico são pais, mães, avôs, avós ou filhos. Eles estabelecem relações, desenvolvem atividades e possuem uma organização familiar que pode ou não ser considerada ideal pelo profissional que os atende. O contexto de cada família ou indivíduo envolve amigos, religião, trabalho e recursos de saúde. Entender tal contexto permite que o médico de família não veja o problema de saúde de forma isolada.
Para explicar como desenvolver uma boa relação médico-usuário, vamos apresentar um caso fictício, acompanhe:
Uma mulher de 68 anos, moradora do bairro e usuária da Unidade de Saúde, chega ao serviço em um final de tarde tumultuado. Ela recebe acolhimento da enfermeira da unidade e, neste momento, relata dificuldade para dormir. Diz ainda que, para sentir-se melhor, necessita levantar e ir até uma janela aberta. A enfermeira, então, verifica os sinais vitais e encontra os seguintes dados:
PA: 140/90mmHg, FC: 78 bpm e FR: 18 mrm.
Como a mulher estava tensa, a equipe procura tranquilizá-la e, por solicitação da enfermeira, a usuária é examinada pelo médico, que a escuta e sugere que ela retorne em outro dia para uma consulta mais detalhada.
No retorno à Unidade, ela apresentava os mesmos sinais vitais e relatou uma história de desconforto abdominal e aumento dos movimentos peristálticos abdominais noturnos. Ela referiu que ficava tensa durante a noite e permanecia acordada por horas, o que fazia com que ela piorasse a ponto de sentir-se sufocada, indo então até a janela. Tinha medo de que fosse câncer. Seu prontuário trazia os registros de mastectomia por câncer e colecistectomia realizadas há a cerca de 20 anos. A mulher era viúva e morava sozinha num imóvel alugado. Queixou-se do valor do aluguel, que havia sido reajustado, pois julgava que o proprietário havia sido “desonesto” e “insensível”. Tinha 2 filhos, um homem e uma mulher, que em breve viriam morar no mesmo bairro.
Durante o exame físico, mantinha frêmito tóraco vocal. À ausculta, foram detectados poucos ruídos sibilantes. O exame do abdômen demonstrou que este estava flácido e com ausência de outros problemas. Assim, o médico conversou acerca de ansiedade e distúrbios de ansiedade e sugeriu que o caso fosse acompanhado no domicílio pela equipe de saúde, inicialmente sem o uso de medicação.
O caso acima é uma boa ilustração de como a abordagem centrada na pessoa pode ser benéfica. Caso não houvesse combinado uma nova consulta em que pudesse escutar com mais tempo e examinar a usuária, provavelmente teria um diagnóstico equivocado.
Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Amante, Cutolo, Padilha e Miranda