Processo saúde-doença

Lucila Amaral Carneiro Vianna

Revisão de Celso Zilbovicius e Daniel Almeida Gonçalves

Conclusão

Segundo Brêtas e Gamba (2006), por mais que se pense a saúde na dimensão do coletivo, é o ser humano que adoece e, como tal, requer cuidados. A saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, conhecidas de maneira intuitiva, dificilmente descritas ou quantificáveis. É na lógica relacional que se visualizam o cuidado e a assistência pelos profissionais da saúde, que se concretizam de forma abrangente quando aliados aos conhecimentos técnicos, científicos e políticos, capazes de sustentar as bases do cuidado profissional, a sensibilidade humana para compreender a subjetividade expressa pelo ser que está sendo cuidado.

É necessário compreender as condições impostas como passíveis de interferência e atentar para não culpar os indivíduos quando tais condições são insalubres e interferem em seu estilo de vida. Trabalhar com as condições de vida impostas requer um esforço interdisciplinar e intersetorial. A área da saúde sozinha não consegue assegurar qualidade de vida e, consequentemente, de saúde. É na esfera da ética que compreenderemos a necessidade do empenho de parte significativa da sociedade para assegurar a dignidade da vida humana.

Nós, profissionais da área da saúde, temos que imaginar o cliente – assim como nós mesmos – como alguém capaz de perceber e explorar o mundo externo a partir de experiências pessoais, sua cultura, sua linguagem, crenças, valores, interesses e pressuposições. Cada um de nós dá um sentido ao mundo que lhe é apresentado. Podemos dizer que cada um traça um mapa, ou seja, um panorama próprio do mundo. Portanto os mapas são seletivos: prestamos atenção aos aspectos do mundo que nos interessam e ignoramos outros.

Assim, no entendimento de Brêtas e Gamba (2006), um bom profissional da área da saúde é aquele capaz de traduzir o inaparente, o indizível, em um primeiro contato com o ser doente. Ao compreender que o corpo humano não é um produto genérico isolado, pois existe em relação aos outros seres em um dado contexto social, cultural e político, o bom profissional entende que, para cuidar da pessoa, faz-se necessário considerar algumas questões pertinentes ao vínculo saúde-doença-adoecimento-sociedade: as condições de vida impostas e os estilos de vida escolhidos pelos próprios indivíduos. A primeira situação diz respeito à esfera pública, na qual nem sempre o indivíduo consegue interferir sem a participação do Poder Público; a segunda localiza-se no mundo privado, no qual o indivíduo define a melhor forma de se utilizar da própria vida (CAPONI, S. In: BRÊTAS; GAMBA, 2006). Ao trabalharmos na esfera da Estratégia Saúde da Família, precisamos ficar atentos para, em nome da Educação para a Saúde, não nos intrometermos na vida privada das pessoas que cuidamos. A escolha é individual e, desde que não prejudique o coletivo, deve ser respeitada.


    Cabe aos profissionais da saúde rever sua prática, buscando entender que não basta trabalhar com as doenças: é necessário compreender o indivíduo no todo como alguém que vive a experiência da necessidade, do adoecimento, carregada de valores e significados subjetivos, únicos, capazes de interferir na qualidade do cuidado prestado. Assim, resta-nos, como profissionais da saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias para conceber a saúde no âmbito da Atenção Básica de forma mais solidária e menos punitiva na convivência com os estilos de vida individuais (CAPONI, S. In: BRÊTAS; GAMBA, 2006).


Especialização em Saúde da Família
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