A partir das discussões realizadas nas unidades anteriores, passaremos a refletir nessa unidade quais são os desafios que a efetivação do apoio matricial enfrenta. A ideia que inspirou a criação dos NASFs parte de uma lógica que muitas vezes não consegue alcançar efetividade na prática. No entanto, as barreiras que dificultam sua implementação são conhecidas e, se forem consideradas por gestores, profissionais e comunidade, poderão ser transpostas ou superadas. Nesse sentido, é fundamental que nesta unidade de conteúdo analisemos quais podem ser as barreiras e dificuldades para a implementação do Apoio Matricial como uma realidade nos serviços.
Isso implica na necessidade da abertura para a busca de novos saberes (OLIVEIRA, 2007). Carvalho e Ceccim (2012) referem-se ao ensino de graduação como centrado em conteúdos e numa pedagogia da transmissão, desconexo entre núcleos temáticos e desvinculado da pesquisa e da extensão, predominando um formato enciclopédico e uma orientação pela doença e pela reabilitação.
Embora existam mudanças curriculares objetivando resolver essa problemática, estudos mais recentes indicam a predominância da abordagem de formato enciclopédico ainda nos dias atuais.
Mesmo o Apoio Matricial sendo um importante componente na educação permanente dos profissionais da ESF, você deve ter em mente que os médicos, enfermeiros e cirurgiões dentistas das equipes de referência, provavelmente, não foram formados para o trabalho interdisciplinar. Por isso, sugere-se que o vínculo com os profissionais da ESF aconteça de maneira gradativa, pois tanto eles devem se aproximar dos saberes, percepções e práticas de outras áreas de atuação, como todos os envolvidos precisam estar abertos para essa possibilidade.
Estabelecendo corresponsabilização e horizontalidade nas relações com os profissionais das equipes de referência haverá abertura para que todos aprendam, o que, certamente resultará na melhoria da resolutividade da Atenção Básica.
A forma como os serviços de saúde estão estruturados, com departamentos e setores que atuam de forma isolada, muitas vezes com o mesmo objeto de trabalho, não facilita a implantação do apoio matricial. Na verdade, esta proposta vem no sentido de mudança até mesmo da estrutura dos serviços, hoje fragmentada e obedecendo a lógica corporativa das profissões. Até mesmo os espaços físicos, distribuídos em pequenas salas sem comunicação, dificultam esses processos.
A priorização de espaços coletivos para educação permanente e reuniões é recente na maioria das estruturas das Unidades de Saúde, mas ela já surge em algumas estruturas municipais.
As interferências dos poderes instituídos, formal ou informalmente, podem dificultar a efetivação do apoio matricial, assim, são necessários papéis bem definidos, além de algum grau de cogestão e de democracia institucional na criação de espaços coletivos.
Na Prática:
Os profissionais precisam estar abertos a receber e a fazer críticas para que a tomada de decisão seja compartilhada. Essa não é uma postura predominante nos serviços. Os profissionais tendem a apegar-se ao seu núcleo de conhecimento, dificultando a abertura em espaços interdisciplinares.
Os interesses e visões diferentes muitas vezes impostos ao coletivo e os impasses criados por estas posturas precisam ser resolvidos entre os profissionais envolvidos, uma vez que o apoio matricial promove encontro entre distintas perspectivas, obrigando os profissionais a comporem projetos terapêuticos com outras racionalidades.
O aspecto ético também pode ser considerado um aspecto importante no apoio matricial pelos profissionais envolvidos. Nesse caso, tanto a ética das relações cotidianas quanto a utilização de prontuário único, exigem que os profissionais repensem as questões de segredos e privacidade sobre a história de usuários e suas famílias. Principalmente porque a discussão de casos em equipe e informações circulando entre diferentes categorias profissionais pode ter reflexos na maneira de lidar com o coletivo de informações, de forma a construir um projeto de cuidado sem prejudicar os envolvidos (CAMPOS, 2007).
Delziovo, Moretti-Pires, Coelho e Lindner