Projeto Terapêutico Singular

Como formular um Projeto Terapêutico Singular – PTS

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Etapas do processo de construção do PTS

Avaliação da Situação

Os profissionais com maior vínculo à Situação Singular farão o levantamento do contexto considerado, identificando todos os dados do sujeito, família, número de cadastros, histórico das queixas apresentadas e levantadas, histórico terapêutico, a fim de colocar todos os envolvidos no PTS a par da situação. A delimitação da localização territorial e elementos relevantes deste território devem ser apresentados. Porém, com o cuidado de não limitarem-se às impressões pessoais dos profissionais, acrescentando informações objetivas e principalmente a percepção do sujeito sobre esse território e suas condições.

Tabela 1: Exemplo de descrição de aspectos observados na visita domiciliar

Para esta etapa é importante que a equipe faça uso de instrumentos já reconhecidos no trabalho terapêutico ou clínico, tais como o genograma que é um instrumento gráfico de fácil utilização e reconhecimento e que congrega diálogos da equipe, questionamentos, reflexões e estratégias de enfrentamento da situação singular.

O genograma é uma representação gráfica utilizada para evidenciar diferentes arranjos familiares. Entende-se por arranjo familiar “grupamento de pessoas que convivem em uma unidade domiciliar, mesmo sem relação de parentesco” (IBGE, 2006). Nesse contexto Mauricio Andolfi (2003), médico e terapeuta familiar, afirma que o genograma utilizado na clinica psicológica e mais especificamente no trabalho com famílias foi um desdobramento do que se conhece como árvore genealógica que tem como principal característica o fato de ser utilizada no contexto da anamnese médica e centralizar-se nos fatores hereditários ou etiopatogênicos.

No que diz respeito ao genograma, Mauricio Andolfi (2003) o define como uma rede ampla de pessoas e eventos, cujo acesso às informações pode ir além de nomes, idade de todos os membros de uma família, dados de acontecimentos específicos significativos, como: nascimento, casamento, separações, mortes e de outros eventos de relevância particular, focalizando principalmente a história afetiva dos indivíduos (p. 134).

Essa representação pode agilizar o processo de discussão com os envolvidos compreendendo as relações interpessoais na situação considerada e deve refletir o entendimento de todos sobre a situação e inter-relações do arranjo familiar para que seja útil ao processo, por isso é indicada a construção coletiva a partir dos dados diretos do usuário e complementada pelas informações que os diversos integrantes da equipe possam vir a ter.

O gráfico do genograma assenta em um conjunto de símbolos possíveis de serem usados na sua construção e que auxiliam no seu entendimento. Vejamos os Símbolos Básicos do Genograma representando uma geração familiar, sendo que ele é utilizado também para evidenciar as diferentes gerações: avós, pais, filhos:

Figura 3: Exemplos de Símbolos Básicos do Genograma

Símbolos para representar peculiaridades de fatos acontecidos nas três gerações:

Figura 4: Símbolos para representar peculiaridades

Símbolos para representar a qualidade relacional da família:

Figura 5: Símbolos para representar a qualidade relacional da família

Veja no exemplo abaixo os dados contemplados para a construção de um genograma:

Um caso de violência familiar acolhido no contexto da Atenção Básica:

Andrea, 32 anos, constantemente procura a equipe de saúde por problemas recorrentes de distúrbios gastrointestinais, com sintomas de ansiedade e dificuldade para dormir. Alega, por sua vez, que tem dificuldades com relação ao filho de 9 anos, pois ele não a obedece. Sente-se ambivalente com relação ao menino, pois entende o filho por um lado, já que seu ex-companheiro afetivo, do qual se separou faz pouco tempo, batia nele, mas por outro lado fica com muita raiva pela sua desobediência, chegando em algumas situações a bater nele também. Ao relatar aspectos de sua história de vida, visualiza-se uma história transgeracional de violência. Tendo estes breves dados do caso em mente, observe o genograma realizado com Andrea:

Figura 6: Genograma de Andrea evidenciando 3 gerações, a partir do filho de 9 anos

Na figura, Andrea (32) aparece ao lado de um quadro marcado com X que representa o esposo falecido e pai do menino de 9 anos, onde o traço em ziguezague representa a situação conflitante e o símbolo interrompido representa a quebra de relação, neste caso por morte do cônjuge. O quadro que representa o falecido esposo está conectado em grupo familiar composto por mãe (55 anos), pai (57 anos), duas irmãs (32 anos). Do mesmo modo, o círculo que representa Andrea (32 anos) está conectado à mãe (55 anos), ao pai (falecido), e a uma irmã (27 anos). Note que Andrea tem uma relação mais íntima com a sogra e com a irmã, e mais distante com a mãe. Também ligada ao círculo que representa a Andrea, está representada a relação conflitante entre ela e o ex-companheiro (33 anos) que agredia o seu filho de 9 anos. Este ex-companheiro está ligado às figuras que representam seus pais (mãe falecida e pai com 59 anos). As siglas VF representam as relações que envolvem violência familiar.

Tendo como referência os símbolos acima, pode-se compreender o genograma construído junto com Andrea como uma radiografia singular, tanto das configurações familiares e eventos importantes na história trangeracional da família, como das evidências da qualidade das relações. Assim, observa-se o fenômeno da violência familiar, representado pela flechas e a sigla VF, tanto no tempo presente, como nas gerações passadas; a ruptura de vínculo com seu companheiro atual; a morte do pai do filho de Andrea e outras mortes de pessoas nas famílias mencionadas.

Por sua vez, é preciso destacar a leitura da qualidade das relações, pois ela permite, de um modo estratégico, ver quem são as pessoas significativas para Andrea em termos relacionais. Por exemplo, no genograma observa-se uma boa relação com a avó paterna do filho e com a irmã, e uma relação de distanciamento com a mãe.  Essas pessoas podem ser consideradas aliadas estratégicas para a equipe, quando evidenciada a necessidade de avaliar o suporte relacional significativo familiar de Andrea.

Na prática:

Existem outros recursos gráficos passíveis de serem utilizados, tais como o mapa de redes, proposto por Carlos Sluzki (1997), utilizado na intervenção psicológica e familiar, com vistas a mapear o conjunto de pessoas significativas nas áreas da família, das amizades, da comunidade e do trabalho, para uma pessoa ou um grupo, que ofereçam suporte emocional, cognitivo, financeiro e de companhia.

Miranda, Coelho e Moré

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