O conceito de vulnerabilidade e risco social e suas implicações para a saúde na perspectiva do Projeto de Saúde no Território
Os conceitos de saúde e doença, de saudável e doente vêm sendo discutidos e rediscutidos no decorrer dos anos e ainda são pautas de debates entre aqueles que refletem sobre as práticas de saúde na contemporaneidade e acreditam na saúde como direito fundamental dos cidadãos.
Da mesma forma, diante do cenário de incertezas imposto pela modernidade, a temática do risco no campo da saúde vem ganhando visibilidade, e o seu conceito vem sendo discutido e aplicado nas mais diversas áreas do conhecimento: na antropologia, na sociologia, na saúde e na epidemiologia.
Interessa-nos, neste momento, discutir a noção de risco epidemiológico e os desafios que se impõem à utilização deste conceito na elaboração de políticas públicas e nas ações de prevenção e promoção da saúde.
Restringir o olhar exclusivamente sob a égide da probabilidade de eventos, sem um processo de análise das subjetividades presentes no meio, potencialmente nos conduz a uma reprodução automatizada de ações baseadas apenas em médias e frequências. Para Castiel, Guilam e Ferreira (2010), esse enfoque quantitativista concebendo-o como um risco mensurável, calculável, baseado na probabilidade estatística de um evento do risco o torna uma entidade autônoma e independente, uma vez que desconsidera os complexos contextos socioculturais em que as pessoas se inserem.
A concepção de vulnerabilidade aplicada à saúde emerge, então, entre as décadas de 1980 e 1990, quando a crescente e ainda desconhecida epidemia de AIDS ganhava força. As práticas de saúde vigentes na época, desenvolvidas a partir do conhecimento produzido no decorrer dos séculos XIX e XX, começavam a sofrer um processo de desestabilização. Até então, os avanços científicos e tecnológicos no campo da saúde e da prevenção de agravos levaram à erradicação de doenças infecciosas com altas taxas de morbimortalidade e à crença de que os problemas crônico-degenerativos seriam o grande desafio no campo da saúde (AYRES et al., 2006).

Com a pauperização da epidemia, que passou a atingir especialmente os segmentos sociais menos favorecidos, novos instrumentos para compreender e intervir no combate à disseminação da AIDS foram idealizados. Surge, então, a noção de vulnerabilidade, que amplia a ideia de suscetibilidade, uma vez que considera a participação de componentes sociais, econômicos, culturais e políticos na ocorrência de agravos.
O conceito de vulnerabilidade passa a conceber que características individuais são incapazes de determinar isoladamente o adoecimento, e, por isso, abordagens focadas apenas no comportamento individual são insuficientes e obsoletas.
Operacionalizar o conceito de vulnerabilidade no campo da saúde coletiva, mais especificamente no PST, significa refletir acerca das singularidades existentes nos sujeitos, nas coletividades e nos territórios em uma perspectiva ampliada, que inclua diferentes matizes. De acordo com Oliveira (2007), a proposta não é abandonar a concepção de risco, mas relativizá-lo, considerando a singularidade dos sujeitos individuais e coletivos, suas capacidades (ou falta delas) para protegerem-se, negociar, comprometerem-se e superar ou não situações desfavoráveis.
Para o autor, é preciso compreender as situações de vulnerabilidade ou de proteção em distintos planos:

Verdi, Freitas e Souza