Caso clínico 1
Dona Margarida estava precisando apenas de uma nova receita

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    Síntese

    Paciente portadora de diversas doenças crônicas, entre elas doença renal crônica com necessidade de terapia renal substitutiva, o que consequentemente a leva a frequentar, em caráter regular, outros serviços de saúde, além do serviço de Atenção Básica à Saúde.

    Objetivo

    O caso evidencia como um paciente que faz acompanhamento em diferentes serviços de saúde, em razão de suas doenças, frequentemente estará mais suscetível a riscos relacionados à polifarmácia e descontinuidade, com exames desnecessários e repetidos, entre outras formas de iatrogenia.

  • Margarida tem 72 anos de idade, nasceu e morou, até há alguns anos atrás, em Curiango, povoado pertencente ao município de Almenara, na região do Vale do Jequitinhonha, no nordeste do estado de Minas Gerais.

    Faz sete anos que Margarida mora em Belo Horizonte. Veio para a capital morar com a filha, Marlene, quando ficou viúva. Mas o óbito do esposo não foi a única razão para a mudança.

    Pouco após completar 60 anos de idade, Margarida descobriu que havia desenvolvido doença renal crônica e precisaria submeter-se a hemodiálise daí em diante.

    O diagnóstico foi impactante para toda a família, mas o maior ônus vinha sendo o tratamento. Para realizar seu tratamento, Margarida precisava se deslocar três vezes por semana até o município de Teófilo Otoni, trajeto que fazia em cerca de 5 horas, no micro-ônibus da prefeitura de Almenara.

  • Com o óbito do esposo, a família entendeu que seria melhor que Margarida se mudasse para Belo Horizonte, onde conseguiria fazer seu tratamento mais facilmente. Desde que se mudou para a capital, Margarida é acompanhada no serviço de hemodiálise da Santa Casa de Misericórdia.

    Mas além das idas à hemodiálise, onde se consulta periodicamente com nefrologista, nutricionista e tem o acompanhamento da enfermagem, também vai ao Centro de Saúde (CS Jardim Europa) próximo de sua casa, pois precisa “pegar receitas”. Além da doença renal crônica, Margarida tem hipertensão arterial e diabetes tipo 2 há mais de duas décadas. Tem ainda osteoartrose avançada em ambos os joelhos, que por anos foi motivo de uso quase contínuo de anti-inflamatórios não hormonais. Hoje em dia não usa mais os anti-inflamatórios, mas por causa da artrose conseguiu ser acompanhada no serviço de ortopedia da própria Santa Casa.

  • Nesse mesmo serviço tem feito sessões de fisioterapia, que a ajudam a controlar as dores articulares. Não obstante seu controle na hemodiálise e na ortopedia, é com certa frequência que Margarida vai ao pronto-socorro da Santa Casa quando não está se sentindo bem e também tem acesso a outras clínicas no hospital (nos últimos meses, teve consultas eletivas com dermatologia, endocrinologia, ginecologia e cardiologia).

  • Diante desse cenário, descreva o papel que cabe, conjuntamente, a todos da equipe de saúde da família do Centro de Saúde Jardim Europa no cuidado de Margarida.

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    Cada pessoa adscrita a uma equipe de Saúde da Família sempre terá uma necessidade particular, única, de cuidado à sua saúde. Essas particularidades exigem respostas individualizadas da equipe. Algumas pessoas podem demandar muito da equipe, com necessidade de, por exemplo, muitas consultas ou visitas domiciliares, enquanto outras podem demandar menos. Além disso, algumas pessoas podem ter suas necessidades integralmente atendidas por ações de competência dos membros da equipe de Saúde da Família enquanto outras podem demandar ações de outros serviços de saúde que compõem a rede de atenção do sistema de saúde. É também interessante lembrar que a necessidade por ações de outros serviços de saúde pode ser temporária, por exemplo, uma breve internação para tratamento cirúrgico em razão de uma apendicite aguda, ou pode ser mais duradoura.

    No caso de Margarida, há uma necessidade permanente por ações específicas, como a hemodiálise, que extrapolam a competência e os recursos do serviço de Atenção Básica à Saúde (ABS) e das equipes de saúde da família. Mas mesmo em uma situação como essa, em que a demanda do indivíduo é majoritariamente por ações de outros serviços de saúde que não a ABS, a equipe de Saúde da Família ainda tem um papel fundamental, que é o de desenvolver ações que visem à coordenação de cuidados (ver mais adiante). Portanto, em nenhuma situação, cabe à equipe de Saúde da Família deixar de manter um vínculo de cuidado longitudinal com uma pessoa quem lhe é adscrita.

  • Quais poderiam ser as ações específicas de cada profissional da equipe?

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    Mesmo em situações como a de Margarida, em que a demanda por ações em saúde se concentra mais em serviços de atenção secundária, há uma diversidade de ações possíveis para os membros da equipe de Saúde da Família. Os agentes comunitários de saúde podem, por exemplo, em suas visitas periódicas aos domicílios, verificar se as idas ao serviço de hemodiálise estão ocorrendo a contento e na periodicidade determinada, além de saber se há alguma nova demanda que possa ser avaliada pela própria equipe de Saúde da Família. Os técnicos de enfermagem podem verificar o controle pressórico e o aspecto da fístula arteriovenosa que está sendo utilizada na hemodiálise. O enfermeiro pode orientar para o cuidado com os pés a fim de se evitarem complicações do diabetes e prescrever cuidados de enfermagem para essa e outras finalidades. Já o médico, tanto em consultas no Centro de Saúde como em visitas domiciliares, que em determinados momentos podem não demandar muita frequência, pode avaliar se há algum efeito adverso de medicações em uso, verificar se pode haver interações medicamentosas não desejáveis entre prescrições de diferentes serviços (como na nefrologia e na ortopedia, no caso de Margarida), estar atento a novas demandas e às cascatas terapêuticas que podem ser iatrogênicas, entre outras ações.