Introdução

O acompanhamento clínico das pessoas com multimorbidade exige grande habilidade dos profissionais de saúde. Uma abordagem clínica que seja mais centrada nas doenças do que nos aspectos particulares de uma determinada pessoa pode não contribuir para um melhor controle de duas doenças, além de criar mais rótulos, muitas vezes agravando problemas associados, como a polifarmácia.

Uma abordagem adequada deve ter como princípio estratégias sistemáticas de identificação e avaliação das pessoas com multimorbidade, pois não é raro que a multimorbidade se passe como um fenômeno invisível nos serviços de saúde. A avaliação também é relevante para definir qual a necessidade de se adotarem determinadas condutas no cuidado do paciente (por exemplo, quais exames devem ser solicitados periodicamente para a segurança do tratamento ou quais medicamentos precisam ser substituídos e em qual ordem de prioridade).

A abordagem centrada na pessoa, como veremos, é uma das ferramentas que devemos utilizar para oferecer um cuidado adequado a essas pessoas. Nesse sentido, atitudes simples como a pactuação de uma lista de prioridades e ponderações sobre quais ideias, sentimentos, medos e expectativas da pessoa em relação ao seu estado de saúde podem ser de grande valia.

Por fim, é preciso compreender melhor como se dá o fenômeno da multimorbidade, como as doenças em conjunto têm um impacto maior na saúde das pessoas – em vez de considerarmos o que é decorrente de cada uma delas isoladamente – e como a apropriação de diretrizes clínicas e recomendações em geral, de forma pouco crítica e descontextualizada, pode contribuir para o agravamento do fenômeno da multimorbidade.