Atenção Integral à Saúde da Criança

Experiências exitosas do trabalho interdisciplinar na atenção básica

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Equipe de Saúde Bucal aposta na parceria com escola para promover a ortodontia preventiva e interceptativa

Em uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, a cerca de 180 quilômetros de Porto Alegre, a população de 2.300 habitantes conta com 100% de cobertura da Saúde da Família. E essa cobertura tem se mostrado decisiva para a construção de uma saúde bucal nas crianças e jovens do município. Em 2003, o resultado de um levantamento epidemiológico realizado junto aos alunos do Ensino Fundamental da cidade revelou índices elevados de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D). Enquanto, no Brasil, esse índice, aos 12 anos de idade, é de 2,78, a cidade registrou 3,68 (BRASIL, 2008c).

O mesmo levantamento registrou o índice de CEO-D (dente decíduo cariado, com extração indicada e obturado) de 4,33, contra 2,80 da média nacional. Esses indicativos levaram a Equipe Saúde da Família (ESF) a elaborar uma estratégia específica para o combate a esses males, identificando que as ações a serem adotadas deveriam partir da educação e prevenção nas escolas. Considerando que os dentes permanentes nascem normalmente dos 6 aos 12 anos, em idade escolar, a escola é considerada como um espaço privilegiado para o desenvolver ações de promoção da saúde, assim como projetos preventivos.

A Escola Estadual de Ensino Médio Silvio Sanson, com mais de 330 alunos, tem uma realidade singular, pois mais de 30% desses alunos são migrantes, provenientes de outras cidades. Para o diretor da escola, esse fator é decisivo na hora de elaborar o projeto pedagógico dos alunos. A introdução da agricultura familiar como disciplina da 5ª - 8ª séries, por exemplo, foi idealizada a partir da realidade local. A região conta com muitas famílias com pequenas propriedades, em que as pessoas vivem praticamente da subsistência.

A partir da parceria entre a unidade de saúde e a escola, os profissionais de saúde puderam identificar e tratar muitos alunos com problemas de saúde. À medida que o trabalho foi avançando, a abordagem foi ampliando o leque de ações, pautando-se sempre por busca de qualidade de vida. Desse modo, foram desenvolvidas práticas de prevenção e promoção, como o escovódromo na escola, o projeto Sorrindo para Passear e a prevenção e o tratamento da má oclusão dentária.

Esse problema, assim como a cárie e a doença periodontal, não precisa ser tratado apenas nos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). É possível tratá-lo na própria Unidade de Saúde.

É o que a equipe de saúde bucal da Unidade São Valentim tem feito a partir do momento em que foi identificado um elevado número de crianças com esse problema. Aliado à ortodontia preventiva, a equipe tem atuado junto à escola também com ortodontia interceptativa.

A ortodontia preventiva visa a evitar más oclusões por meio da discussão de valores, saberes e crenças da população. Por isso, na cidade, o tema é trabalhado com o grupo de gestantes, nas reuniões de pais na escola, nas campanhas de vacinação infantil e, sobretudo, conta a auxiliar de consultório dentário, nos momentos de visitas domiciliares. O trabalho é de toda a equipe e, sobretudo, das Agentes Comunitárias de Saúde, que discutem com os adultos e as crianças acerca da importância da escovação e dos cuidados em saúde bucal.

O trabalho é de toda equipe

O gestor também participa ativamente do processo, apontando o diálogo em saúde e a educação como pilares da Atenção Básica, e reconhecendo que as ações de prevenção de doenças e de promoção à saúde merecem receber maiores investimentos.

Embora seja possível prevenir e amenizar alguns problemas de má oclusão dentária, há aqueles casos em que é necessária uma intervenção mecânica. Aí entra a ortodontia interceptativa, que procura atenuar o problema ainda precocemente, evitando ou facilitando um posterior tratamento, que, no caso de aparelhos ortodônticos, em geral, são caros, e o tratamento é mais demorado. Entre as intervenções possíveis de serem feitas pela Equipe de Saúde Bucal, estão: a rampa acrílica autopolimerizável para descruzamento de dentes anteriores; a guia canina com resina fotopolimerizável; e ajuste oclusal, para alguns casos de mordida cruzada lateral.

Anders, Boehs, Souza

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