
A noção, hoje comum, de "vício" ligado às drogas é característica de uma época mercantil e industrial capitalista, na qual a compulsividade se tornou a regra, com uma incitação ao consumo excessivo, de drogas, de alimentos e de outras condutas passíveis de excessos, como o jogo, o uso de TV e computadores e até mesmo o uso obsessivo de celulares, por meio da promoção sistemática do consumismo pela propaganda.
O resultado é uma crise civilizatória, produzindo comportamentos aditivos (que criam dependência) em relação a objetos e bens de consumo. Refrigerantes, por exemplo, são consumidos abusivamente, causando problemas pelo excesso de açúcar e de sódio. A OMS (Organização Mundial da Saúde) calcula em cerca de 180 mil o número de mortos a cada ano em todo o mundo por doenças causadas pelo excesso do açúcar dos refrigerantes!
Existem diferentes representações sociais do uso de drogas e do usuário na atualidade, que exercem sua influência no processo de cuidar e na complexidade deste cuidado.

As diferenças entre estes três tipos de circulação se refletem nas suas representações. O consumidor de maconha, por exemplo, é taxado de criminoso, mesmo que faça um uso ocasional. Mas o consumidor de tabaco, que em muitos aspectos provoca mais danos à saúde do que a maconha, é visto apenas como alguém que precisa de sua droga e que, no máximo, pode incomodar aos outros se consumir em lugares fechados e públicos. O alcoolista é visto como um doente, mas o apreciador de vinho, cerveja ou uísque é considerado um gastrônomo ou um gourmet.
Quem usa remédios psicoativos da indústria farmacêutica, mesmo que excessivamente, não é visto como um "drogado", mas alguém que toma "remédios".