Alguns autores têm se debruçado mais sistematicamente em investigar as representações sociais relacionadas ao uso, ao usuário e ao cuidado ofertado para pessoas com necessidades decorrentes do consumo de álcool ou outras drogas. Coutinho et al (2004) encontraram distintas avaliações de estudantes universitários de 3 áreas diferentes: saúde, tecnologia e direito. Quando perguntados sobre a postura assumida frente a um usuário de maconha obteve-se respostas classificadas como favoráveis, desfavoráveis e neutras. Os estudantes de saúde e tecnologia explicitaram respostas mais favoráveis (44% e 60%, respectivamente); já os estudantes da área do direito, 60% se colocaram de forma desfavorável. Como forma de exemplificar estes posicionamentos no discurso de cada grupo, os autores apresentaram alguns trechos das entrevistas, que revelam o “viver de forma normal” dos usuários de maconha, na opinião dos estudantes que tiveram respostas mais favoráveis; por outro lado, trecho apresentado por um estudante de direito acentua o caráter do usuário de maconha como “infrator” e “fora da lei” (p. 474).

A perspectiva de gênero dentre pessoas que usam drogas foi pesquisada por Oliveira et al (2006). Os participantes eram profissionais de saúde de um serviço de tratamento para pessoas que usam drogas em Salvador. As autoras encontraram resultados importantes tanto das representações sociais relacionadas ao consumo de drogas por mulheres e suas consequências para a organização dos serviços de tratamento, mas também das relações deste consumo com o cumprimento dos papéis social e culturalmente atribuídos às mulheres na sociedade atual. Chama atenção a compreensão dos entrevistados de que o uso de drogas por mulheres é mais estigmatizado pela sociedade do que o uso entre homens, o que pode explicar a diferença entre os tempos de procura por tratamento – seria interessante ressaltar que o que se observa no cotidiano dos serviços é que as mulheres chegam mais tarde e mais graves para tratamento, em função destes valores sociais em questão. O estudo também identifica que o início do consumo de drogas entre mulheres pode estar ligado à manutenção de relação com o parceiro. A interpretação dos resultados obtidos sugere que o consumo de drogas entre mulheres e a chegada destas mulheres aos serviços de tratamento inaugura a necessidade de elaborar intervenções de saúde específicas e que leve em conta a perspectiva de gênero.