A relação destas reflexões com o cotidiano dos serviços pode ser realizada a partir de algumas questões: diversidade de serviços e acolhimento, adesão ao tratamento, sucesso no tratamento. A diversidade de serviços pode ser tanto na composição da rede, quanto, por exemplo, na oferta de diferentes atividades no mesmo serviço. Em verdade, a diversidade de pontos de atenção de uma rede (e num mesmo serviço) é característica fundamental para cumprir o papel de acolher o usuário e oferecer respostas às suas demandas.

A partir desta premissa, o desafio seguinte é criar ambiente que favoreça a adesão do usuário. É importante chamar a atenção para o efeito das possíveis distorções entre as demandas dos usuários e as respostas produzidas pelos serviços. Por exemplo: (clique nos círculos)

A aposta nas intervenções de saúde pública para lidar com o consumo de drogas e suas consequências é vital para, primeiramente, ampliar o acesso aos serviços de saúde e tornar concreta a disposição constitucional de que saúde é um direito de todos. O entendimento de que a ênfase deve ser dada no aprofundamento da garantia de direitos – à saúde, entre tantos outros – é determinante para superar a lógica do encarceramento e da exclusão como forma de lidar com o tema. Quanto mais desafios o consumo de drogas colocar ao setor saúde (profissionais de saúde, serviços, gestores, usuários, familiares), mais será necessária a articulação para sustentar o compromisso ético de garantir o cuidado de qualidade. Este entendimento é compartilhado pela UNODC (2010), em documento intitulado “Da coerção à coesão”.

Em detrimento das sanções judiciais aplicadas ao consumo de drogas, lutar todos os dias para garantir direitos às pessoas que usam drogas. Direito à saúde, ao trabalho, à moradia, à educação, ao lazer, garantir todos os direitos humanos. Esta compreensão nos remete imediatamente à limitação do alcance das intervenções específicas de saúde para o consumo de drogas e nos remete à necessidade da articulação com outros serviços, políticas sociais e poderes constituídos. Porque, na verdade, a ausência de garantia de direitos perpetua um circuito fechado vulnerabilidade→droga→vulnerabilidade, impedindo que a sociedade seja mais coesa ética e socialmente.

A proposta de responsabilização coletiva sobre este tema está refletida no título da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial, realizada em 2010. Seu relatório final (BRASIL, 2011), aponta a imprescindibilidade da articulação de diferentes políticas sociais e de Estado no sentido de garantir não só o cuidado às pessoas que usam drogas, mas primeiramente sua cidadania. A garantia de direitos deste grupo populacional não reside somente nos serviços de saúde, mas em todos os campos.