De modo geral, a dinâmica familiar é regida por uma divisão sexual do trabalho, que coloca a figura masculina adulta como provedor econômico do grupo, que tem sua identidade associada ao espaço da rua, do trabalho extra lar. A mulher adulta, sobretudo a mãe-esposa esteve associada com o trabalho doméstico e o cuidado do outro, tendo sua identidade relacionada às dimensões afetivas, emocionais do grupo e ao trabalho não pago, invisível para a sociedade como um todo. Há algumas décadas, esta divisão sexual do trabalho vem sofrendo mudanças. Mudanças decorrentes principalmente da inserção das mulheres no mercado formal de trabalho e ocorrência de famílias monoparentais, sustentadas especialmente por mulheres-mães, cujos companheiros as abandonaram sem manter a co-responsabilidades pela família.

Melman (2001); Rosa (2003) e Bandeira (2013), argumentam que o provimento de cuidados em geral para pessoas vulneráveis e que demandem cuidados de terceiros no meio familiar, exige alterações, sobretudo, na rotina de vida das figuras femininas – mãe-esposa, irmã ou filha, que tenderão a figurar como única cuidadora, o que compromete sua qualidade de vida, que passa a ter como centro o cuidado do outro.

Persistindo este cenário, sem contar com retaguarda dos serviços de saúde e outros suportes sociais e assistenciais, há uma tendência de a (o) cuidadora (or) familiar se sentir sobrecarregada (o), chegando à exaustão, o que pode agravar o rompimento dos vínculos familiares desta e da pessoa em uso de drogas. Tal fato está relacionado a outros elementos, pois, prover cuidado a uma pessoa com problemas decorrentes do uso de drogas, especialmente para os casos mais graves, está associado frequentemente: à recusa de ser cuidado; uso da violência verbal (ameaças) e física, roubos e furto de bens adquiridos pelo grupo familiar e muito sofrimento também do provedor de cuidado, que investe temporal, material e emocionalmente sem perspectiva de retorno nem material nem simbólico.