O setting do cuidado, o lugar onde ele se estabelece, não é necessariamente um lugar (física e objetivamente falando). O cuidado se dá no encontro entre cuidador e pessoa a ser cuidada. A porta que se abre para propiciar esse encontro está em diferentes lugares e condições, e muitos podem ser responsáveis por abrir esta porta: qualquer trabalhador do serviço, outro usuário, um parceiro...
É importante ressaltar que essa porta da qual falamos aqui não é somente objetiva, concreta. Escutar, por exemplo, é uma forma de abrir a porta (ou não, se não soubermos escutar). Se o usuário percebe que não está sendo escutado de forma qualificada, não vê sentido em permanecer no serviço. No máximo, fica o suficiente para conseguir algo de seu interesse imediato e depois se vai. Não raro, quando isso acontece, a equipe deposita exclusivamente no usuário a responsabilidade pelo “fracasso” do encontro.

Há uma disponibilidade para acolher e para cuidar que precisa ser ativada.
Basaglia (2005), assim como outros autores do movimento conhecido como Psiquiatria Democrática Italiana, falava de um manicômio interno a todos nós, que prejudicaria a priori nossa capacidade de constituir, pelo cuidado e dialeticamente, sujeitos livres e autônomos. Porque nosso “jeito de ver” o outro - o louco, o usuário de drogas - estaria “contaminado” pelo modelo manicomial e tudo que ele representa nas relações interpessoais e institucionais: exclusão, isolamento, tutela, massificação, poder sobre o outro.