Segundo essa ideia, estaríamos, no nosso modo de sentir o outro, distantes do modelo de atenção psicossocial, de seus valores e princípios fundantes: liberdade, integralidade, singularidade, autonomia.
Ao se reconhecer a necessidade de superação do paradigma manicomial pela perspectiva psicossocial, é preciso reconhecer que a força deste paradigma não se aloja somente no manicômio – lugar concreto onde ocorrem práticas desumanas e desumanizadoras – ela se aloja, sobretudo, no manicômio interno – lugar subjetivo onde sobrevivem as representações dos sujeitos a cerca da loucura e de onde emergem posturas individuais ou coletivas que se aproximam do modo manicomial [...] A desconstrução do manicômio interno, neste sentido, deve ser tomada como ponto de partida para superação de tal paradigma e para inclusão social da pessoal portadora de doença mental. (MACHADO, 2006, p. 38-39)

Desconstruir nosso manicômio interno é imprescindível, vital. É fundamental tarefa à qual devemos nos dedicar. Um processo que iria mudando a cada um e a sociedade pois, como sabemos, o cuidado é uma relação dialética. Ou seja, o sujeito em cuidado recebe a ação do sujeito cuidador e esta o modifica de algum modo. Mas, ao mesmo tempo, o contrário também ocorre: o sujeito que cuida também se modifica pelo encontro. Por consequência, cada modo de cuidar produz sujeitos que refletem esse modo na vida concreta e vice-versa. Vincular-se tem relação direta com confiança, segurança. O modo como vemos e sentimos os usuários é vital nesse processo de vinculação. Pois os usuários têm capacidade de perceber aqueles com quem se relacionam. Assim “percebem” a disponibilidade para o encontro com eles. Como todos, percebem quando são “desejados” ou não.