Introdução

A dor torácica constitui um dos principais motivos de procura de atendimento médico emergencial. Nos Estados Unidos, ocorrem mais de seis milhões de atendimentos anuais por esse motivo, correspondendo a 5 a 10% de todos os atendimentos emergenciais. Em nosso meio, não temos informações ou estimativas precisas. Estima-se em 20% dos nossos atendimentos de emergência.

Apesar de existirem inúmeras doenças que causam dor torácica, aquelas originadas do aparelho cardiovascular são as de maior risco de mortalidade e de necessidade de hospitalização. Entretanto, somente 10 a 15% dos pacientes que chegam às salas da emergência com dor no peito apresentam infarto agudo do miocárdio, e menos de 1% apresenta embolia pulmonar ou dissecção aórtica.

Cerca de 50% são hospitalizados para investigação diagnóstica – por exemplo, a hipótese de infarto agudo do miocárdio. Entretanto, a minoria desses pacientes possui uma condição clínica ameaçadora à vida. Por outro lado, cerca de 2-3% dos pacientes com síndrome coronária aguda (SCA) são inapropriadamente liberados por não ter sua doença reconhecida ou suspeitada. Portanto, o desafio para o clínico é diferenciar rapidamente os pacientes com dor torácica que necessitam de atendimento e abordagem terapêutica imediata daqueles com uma causa benigna que podem receber alta diretamente da urgência, sem necessidade de internação e propedêutica adicional.

Como a SCA representa quase um quinto das causas de dor torácica nas salas de emergência e possui uma significativa morbimortalidade, a abordagem inicial desses pacientes é sempre feita no sentido de confirmar ou afastar esta e outras condições ameaçadoras à vida.

A dor torácica é definida como sensação de dor ou desconforto na região do tórax. É uma manifestação sintomática frequente e complexa, uma vez que pode ser decorrente de causas cardíacas ou não cardíacas e envolve múltiplos mecanismos fisiopatológicos, manifestando-se aguda ou cronicamente, com expressão clínica de difícil distinção entre suas diferentes etiologias. A dor torácica representa um desafio diagnóstico em qualquer circunstância, pois, embora seja uma condição benigna na maioria dos casos, pode, também, ser manifestação inicial, às vezes única, de doenças mais graves.

O conhecimento dos aspectos semiológicos da dor torácica e o domínio da técnica de exame físico geral e cardiovascular são fundamentais para o diagnóstico diferencial da dor torácica e constituem o passo inicial para avaliação e manejo do paciente, em uma estratégia diagnóstica e terapêutica organizada, com vistas à eficácia – rapidez e objetividade no diagnóstico, eficiência – racionalização dos custos, e efetividade – resultados adequados. Busca-se diminuir o risco de complicações e a mortalidade, especialmente nos casos de dor torácica de origem cardiovascular.

A abordagem de um paciente com dor torácica deve seguir uma estratégia diagnóstica e terapêutica organizada, com vistas à rapidez e objetividade em seu diagnóstico, eficiência e racionalização dos custos. A investigação deve ser cuidadosa, e uma boa anamnese é essencial para diagnóstico correto e conduta adequada, diminuindo o risco de complicações e a mortalidade, especialmente nos casos de dor torácica de origem cardiovascular. Para o profissional da Atenção Básica é importante não só diagnosticar, mas também indicar os principais exames cardiológicos investigatórios e interpretá-los adequadamente, o que lhe dará subsídios para discernir quando deve solicitar a avaliação pelo especialista, encaminhar para serviços de urgência ou para seguir no acompanhamento ambulatorial do paciente.