Considerações sobre o tratamento da insuficiência cardíaca

Após a agressão miocárdica, ocorre remodelação patológica dos ventrículos com dilatação progressiva e perda da contratilidade. O sistema simpático e o sistema renina-angiotensina-aldosterona são ativados; esses sistemas são responsáveis pelos sintomas e pelo caráter progressivo da doença, bem como por sua alta morbidade e mortalidade. O bloqueio efetivo desses sistemas constitui o tratamento efetivo da IC, na atualidade, com redução de mortalidade da ordem de 34%.

Os objetivos do tratamento da IC são:

  • redução dos sintomas,
  • redução da progressão da doença,
  • redução das taxas de hospitalização,
  • redução da mortalidade.

A base do tratamento é o farmacológico, que se constitui de agentes que aliviam os sintomas (diuréticos) e daqueles que modificam o curso da doença e reduzem a mortalidade: inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA); bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA); betabloqueadores, antagonistas da aldosterona, hidralazina associada a nitratos e inibidor da neprilisina (sacubitril / valsartana).

A terapia com diurético alivia a dispneia e o edema, mas não é suficiente. Um IECA ou BRA (se houver intolerância à IECA) e betabloqueador devem ser prescritos. Deve-se tentar alcançar as doses utilizadas nos grandes ensaios clínicos. Se os sintomas persistirem, associar antagonista da aldosterona. Caso os sintomas persistam apesar do tratamento clínico otimizado, pode-se considerar a substituição do IECA ou BRA pelo inibidor da neprilisina (sacubitril / valsartana).

Com esse tratamento, espera-se melhora do quadro clínico e da FEVE ao longo de três a seis meses. Repetir o ecocardiograma e, se os sintomas persistirem e a FEVE <35%, ECG com BRE e QRS> 130ms, considerar terapia de ressincronização cardíaca/cardiodesfibrilador implantável (CDI). O transplante cardíaco é o último recurso.

Mesmo pacientes com IC avançada têm potencial para recuperação clínica e ecocardiográfica quando instituído o tratamento farmacológico ótimo, o que leva à redução da morbidade e da mortalidade. Esta estratégia é fundamental, antes da indicação de terapias avançadas, tais como terapia de ressincronização cardíaca, CDI e transplante cardíaco.