Coaduna-se aqui a perspectiva sistêmico/ecológica da família e da temática da violência, a qual sustenta um olhar interdisciplinar, que permite reconhecer e pensar na interação complexa de fatores que se afetam mutuamente. Assim, nesse item, trazemos elementos importantes tanto para o planejamento/organização como para a intervenção familiar, advindos dos diversos olhares do conhecimento, que se somam para pensar a família e a repercussão da violência nesse sistema.

Nesse contexto, Moré (2014) destaca conhecimentos importantes, advindos da terapia familiar e da teoria da comunicação, considerados necessários para sustentar a intervenção na violência familiar:

A violência familiar se sustenta, pois a família enrijece suas fronteiras enquanto sistema dinâmico, gerando o isolamento ou afastamento social. Este enrijecimento se ancora em sentimentos de vergonha e impotência, tendo como resultado, o silêncio, o medo e o sentimento da impossibilidade de encontrar uma solução para a situação de violência.

A violência familiar é produto de um processo histórico que se sustenta no tempo através de um circuito de relações entre os membros das famílias que possibilita a repetição de condutas violentas, no qual os participantes têm papéis definidos que alimentam a rigidez do sistema familiar. Assim, a capacidade de articulação com outros sistemas fica totalmente comprometida, afetando diretamente sua capacidade de procurar ajuda.

A violência familiar se sustenta pela presença de sistemas hierárquicos ou autoritários na família, que justificam ações ou agressões, gerando opressão e as consequências a ela relacionadas. Também pela presença de sistemas de gênero, fortemente enraizados na identidade de uma cultura, que funcionam como argumentos explicativos que naturalizam e justificam a violência, neutralizando possibilidades de se insurgir contra ela (RAVAZZOLA, 2005).

A violência familiar se sustenta num silêncio co-construído pelos seus integrantes. Esse silêncio é autoimposto e implica a presença de um sentimento de humilhação social, tendo como consequência o isolamento familiar.

A violência familiar é testemunhada por pessoas para além da família e que podem vir a constituir redes sociais significativas, em termos de sua proximidade, e as redes comunitárias e institucionais, em termos de suporte social. Elas têm um papel essencial, na medida em que atuam como controle e possibilidade de intervir nas situações de violência familiar. Por sua vez, as ações de prevenção à violência têm como contexto fundamental as redes constituídas em torno da família.