Pacientes crônicos e com queixas agudas que buscam atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS) necessitam ser atendidos com mais brevidade.
A partir disso, é importante compreender como a APS se organiza para o atendimento à demanda espontânea. Você, profissional de saúde, está pronto para receber o usuário em suas mais diversas situações de saúde?
Este recurso multimídia tratará da necessidade de um acolhimento eficaz, capaz de identificar situações de risco e vulnerabilidades e, a partir delas, traçar condutas apropriadas.
Nosso objetivo, é que ao final da leitura deste recurso, você consiga compreender a avaliação de risco e vulnerabilidades no atendimento à demanda espontânea e na organização do fluxo de trabalho na APS.
A Atenção Primária à Saúde (APS) é definida como a ordenadora da Rede de Atenção à Saúde (RAS), sendo a porta de entrada preferencial do usuário ao sistema. É por meio dela que se ofertam cuidados de promoção, diagnóstico, tratamento e reabilitação em saúde. Assim, é preconizado que a Atenção Primária seja um serviço de alta resolutividade clínica e capaz de se articular com outros pontos da RAS, quando necessário1,2.
Ao entender que a APS atua como um serviço de porta de entrada ao usuário, é de se esperar que os profissionais de saúde respondam a uma demanda variada de situações clínicas: desde casos crônicos que buscam atendimento ambulatorial até casos agudos que possam necessitar de atendimento de emergência1,2.
Assim, é importante pensar sobre o modo de organização do serviço e sobre o processo de trabalho a ser adotado, de modo que, ao buscar atendimento, o usuário tenha sua necessidade de saúde satisfeita, conforme sua prioridade e risco. Para isso, é preconizado que a APS se utilize de instrumentos garantidores do acesso, como Acolhimento à Demanda Espontânea.
De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica 2017, o Acolhimento à demanda espontânea se constitui por1:
Mecanismo de ampliação do Acesso:
Por meio do acolhimento, todo e qualquer usuário que compareça à Unidade de Saúde da Família (USF) deve ser ouvido, através de escuta qualificada, e ser atendido conforme sua necessidade, de acordo com sua prioridade;
Tecnologia do cuidado:
Em seu conceito mais amplo, o acolhimento é um norteador da postura e atitude dos profissionais; é a base das relações de cuidado e um meio facilitador da criação do vínculo com o usuário;
Dispositivo de (re)organização do processo de trabalho em equipe:
O acolhimento configura uma estruturação do processo de trabalho da equipe e não um meio de triagem. A partir dele, é possível definir quais profissionais serão os responsáveis por receber o usuário na Unidade de Saúde, como será feita a avaliação de risco e vulnerabilidades, quais os fluxos e protocolos clínicos para definir os encaminhamentos, como será organizada e estruturada a agenda dos profissionais etc.
Para auxiliar nessa organização do Acolhimento à Demanda Espontânea, é importante implementar a classificação de riscos, por meio da qual os casos de maior urgência são identificados e a intervenção adequada será implementada. É importante entender que ao falar de risco, o aspecto mencionado não é exclusivamente biológico, pois vulnerabilidades sociais ou familiares também podem ser fatores que identifiquem a necessidade de oportunizar o atendimento2,3.
Como vimos, a APS deve ter uma equipe pronta para receber o usuário em suas mais diversas situações de saúde. Para isso, necessita de um acolhimento eficaz, capaz de identificar situações de risco e vulnerabilidades e, a partir delas, traçar condutas apropriadas2,3.
Vejamos:
Cenário 1: Atendimento a um paciente em situação crônica
Condutas indicadas:
Orientação.
Adiantamento de condutas previstas.
Exemplos: paciente já com diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica pode ser encaminhado para aferição de pressão arterial; paciente com diagnóstico de Diabetes Mellitus pode ser encaminhado para aferição glicemia capilar; mulher em idade fértil com atraso menstrual pode ser orientada a realizar teste de gravidez etc.
Agendamento de consulta.
Cenário 2: Atendimento a um paciente em situação aguda
Condutas indicadas:
Atendimento imediato: intervenção imediata com atendimento médico.
Exemplos: situações ameaçadoras à vida como anafilaxia, parada cardiorrespiratória, aspiração de corpo estranho, angina pectoris etc.
Atendimento prioritário: intervenção breve, atendimento inicial com equipe de enfermagem.
Exemplos: crise asmática leve e moderada, febre sem complicação, gestante com dor abdominal, transtorno de ansiedade significativa etc.
Atendimento no dia: baseado na classificação de risco biológico e vulnerabilidade psicossocial. Manejo poderá ser feito pela equipe de referência, pelo profissional que seja mais adequado para o caso.
Exemplos: disúria, lombalgia leve, renovação de medicamento de uso contínuo etc3.
Abaixo segue o fluxograma ilustrando o Acolhimento à Demanda Espontânea com Classificação de Risco:
Fonte: Adaptado de BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na atenção básica. 1ª ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica, 2012. v. 1.
Vale ressaltar que os pontos apresentados são organizadores do processo de trabalho, mas que as particularidades do território, da população assistida e da Unidade de Saúde que serão os norteadores de cada realidade. Um exemplo: unidades de saúde que são campos de estágio para cursos de graduação da área da saúde ou centro de formação de residência médica ou multiprofissional, podem apresentar maior dinamismo no atendimento, permitindo maior resolutibilidade e disponibilidade de atendimento a pacientes crônicos, que permita o atendimento para o mesmo dia; situação que pode não ocorrer em uma unidade que não tenha sua equipe completa.
Agora que já entendemos como a Atenção Primária se organiza frente a demanda dos atendimentos, podemos avançar com os temas do módulo. Ao longo de cada tópico, você verá a importância do tema e como você poderá agir diante de um atendimento na Atenção Primária.
Vamos lá!
Neste material, vimos que cada atendimento necessita de uma demanda adequada da equipe de saúde, assim, é preciso saber o que é ofertado para a população assistida e como a equipe se organiza para a escuta qualificada. A partir do que foi estudado, você conseguirá implementar a classificação de riscos, identificando os casos de maior urgência e fazendo a intervenção adequada. Esperamos que a partir do que foi apresentado aqui, você consiga, em sua prática, compreender a avaliação de risco e vulnerabilidades no atendimento à demanda espontânea e na organização do fluxo de trabalho na APS.
Coordenação do Projeto
Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Coordenação Geral da DTED/UNA-SUS/UFMA
Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Gestão de projetos da UNA-SUS/UFMA
Amanda Rocha Araujo
Coordenação de Produção Pedagógica da UNA-SUS/UFMA
Paola Trindade Garcia
Coordenação de Ofertas Educacionais da UNA-SUS/UFMA
Elza Bernardes Monier
Coordenação de Tecnologia da Informação da UNA-SUS/UFMA
Mário Antônio Meireles Teixeira
Coordenação de Comunicação da UNA-SUS/ UFMA
José Henrique Coutinho Pinheiro
Professora-autora
Flávia Castro Andrade
Validadora técnica
Validadora Pedagógica
Deysianne Costa das Chagas
Larissa Di Leo Nogueira Costa
Revisora textual
Talita Guimarães Santos Sousa
Designers instrucionai
Nayra Anielly Cabral Cantanhede
Steffi Greyce de Castro Lima
Designer gráfico
Priscila Penha Coelho
Tecnologia da informação
Jefferson de Almeida Paixão
Rayanne Maria Cunha Silveira
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica.Brasília, DF: [s. n.], 2012.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na atenção básica. 1ª ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.
Como citar este material: ANDRADE, Flávia Castro. Avaliação de risco e vulnerabilidades no atendimento à demanda espontânea e na organização do processo de trabalho. In: UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Cuidado nas queixas comuns no atendimento à demanda espontânea na Atenção Primária à Saúde. Cuidado em casos de mordedura de animais e intoxicação por animais peçonhentos, plantas tóxicas e medicamentos. São Luís: UFMA; UNA-SUS, 2021.
© 2021. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz & Universidade Federal do Maranhão. É permitida a reprodução, a disseminação e a utilização desta obra, em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada sua utilização comercial, sem a autorização expressa dos seus autores, conforme a Lei de Direitos Autorais - LDA (Lei n° 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).