Olá, aluna(o)!
A endocardite infecciosa configura-se como uma grave condição de saúde que ocorre em decorrência de uma complexa interação entre patógenos na corrente sanguínea e o tecido endocárdico. Algumas condições cardíacas acabam por facilitar a ocorrência de lesões ao endocárdio que favorecem a a deposição de plaquetas e fibrinas, iniciando o quadro de endocardite trombótica não bacteriana que pode evoluir com a deposição e proliferação de bactérias no local, iniciando o quadro de endocardite infecciosa.
Você sabe a relação entre o atendimento odontológico e a ocorrência de endocardite infecciosa? Sabe como o cirurgião-dentista pode atuar na prevenção desta condição?
Eventos que causem bacteremia transitória, como a manipulação de tecidos bucais, devem ser realizados com atenção em pacientes com condições cardíacas que sejam risco para lesões do endocárdio, evitando a colonização bacteriana dos tecidos cardíacos. Assim, é importante que o cirurgião-dentista esteja atento as condições de saúde do paciente de forma a prevenir a ocorrência dessa complicação.
Ao longo desse material, apresentaremos as condições cardíacas risco para endocardite infecciosa, relacionando-as aos tratamentos odontológicos que podem causar bacteremia transitória. Discutiremos, ainda, estratégia de prevenção da endocardite a partir da implementação de profilaxia antibiótica segundo recomendações da Associação Americana do Coração. Vamos lá?
Ao explorar este material, você será capaz de entender a profilaxia antibiótica para a prevenção de endocardite infecciosa da pessoa com doença cardiovascular.
A endocardite infecciosa (EI) é uma condição rara, mas com alta taxa de mortalidade e morbidade, com necessidade de internação hospitalar para tratamento, podendo ser associado a cirurgia cardíaca, ocasionando aumento dos custos. Não apresenta predileção nem por sexo e nem por faixa etária. Tem difícil diagnóstico devido as características clínicas pouco específicas1.
A endocardite infecciosa pode ser ocasionada por microrganismos presentes na boca, sendo o Streptococcus viridans do grupo A de Lancefild mais associado a essa infecção. Entretanto, outros grupos de microrganismos também estão associados à etiologia da doença1.
Em virtude da associação entre a presença destes microrganismos na boca e endocardite infecciosa, os procedimentos odontológicos podem ser fator de risco à ocorrência desta condição1.
Existem diversos protocolos de profilaxia antibiótica para a prevenção de EI. Atualmente, temos o da American Heart Association, protocolo instituído para a população americana, que considera as condições cardíacas e procedimentos odontológicos que requerem a utilização da profilaxia antibiótica. Veja abaixo quais são estas condições e procedimentos:
No Brasil, ainda temos muitos casos de febre reumática, doença que ocasiona muitas morbidades, como as doenças valvares. Em casos de estenose da valva mitral em decorrência de febre reumática na infância, devemos instituir o protocolo para profilaxia antibiótica prévio a realização de procedimentos cruentos, adotando as recomendações do protocolo da American Heart Association de 2007.
Vimos que a instituição da profilaxia antibiótica só deve ser indicada para pacientes cardiopatas que apresentem alguma condição sistêmica, e nas situações em que o profissional irá realizar procedimentos odontológicos cruentos, ou seja, aqueles que são potencialmente capazes de provocar um quadro de bacteremia1-3.
Você sabe quais são esses procedimentos? Veja abaixo uma lista de procedimentos odontológicos com recomendação de profilaxia antibiótica nos pacientes indicados4.
Exodontias
Implantes dentários
Raspagem periodontal
Cirurgia periodontal
Pulpotomia, pulpectomia, penetração desinfectante e instrumentação endodôntica
Colocação de bandas ortodônticas
Restaurações subgengivais com uso de matriz subgengival
Drenagem de abscesso dentário ou periodontal
Reconhecendo a indicação de profilaxia antibiótica, é importante saber a posologia e os antibióticos a serem administrados. Veja no quadro abaixo os medicamentos de escolha, a forma de uso e a dose em adultos e crianças.
As cefalosporinas (cefalexina e cefazolina) não devem ser empregadas em pacientes com história de anafilaxia, angioedema ou urticária decorrente do uso das penicilinas. Embora a ampicilina e a penicilina V sejam igualmente efetivas contra os estreptococos alfa-hemolíticos in vitro, a amoxicilina é recomendada por sua melhor absorção pelo trato gastrintestinal e por proporcionar níveis séricos mais elevados e duradouros.
Em síntese, a prevenção da endocardite infecciosa para pacientes com condições cardiovasculares envolve as ações descritas no fluxograma abaixo.
Ao longo desse recurso você pôde conhecer aspectos importantes sobre a endocardite infecciosa, focados especialmente no papel do cirurgião-dentista na prevenção da ocorrência dessa condição. Apresentamos as condições cardíacas de alto risco para desenvolvimento da EI e os procedimentos odontológicos que ocasionam bacteremia transitória. Com estas informações em mãos, é possível que você saiba quando indicar a realização da profilaxia antibiótica, de acordo com os protocolos aqui apresentados.
Esperamos que o conteúdo aqui apresentado possa auxiliar na sua prática profissional com vistas na integralidade do cuidado de pessoas com condições cardiovasculares.
Até a próxima!
1. WILSON, W. et al. American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis and Kawasaki Disease Committee, Council on Cardiovascular Disease in the Young; Council on Clinical Cardiology; Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia; Quality of Care and Outcomes Research Interdisciplinary Working Group; American Dental Association. Prevention of infective endocarditis: guidelines from the American Heart Association: a guideline from the American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis and Kawasaki Disease. J Am Dent Assoc, v. 138, n. 6, p. 739-45, 2007.
2. KUFTA, Kenneth; SARAGHI, Mana; GIANNAKOPOULOS, Helen. Cardiovascular considerations for the dental practitioner. 1. Review of cardiac anatomy and preoperative evaluation. General dentistry, v. 65, n. 6, p. 50, 2017.
3. KUFTA, Kenneth; SARAGHI, Mana; GIANNAKOPOULOS, Helen. Cardiovascular considerations for the dental practitioner. 2. Management of cardiac emergencies. General Dentistry, v. 66, n. 1, p. 49-53, 2018.
4. WILSON, Walter et al. Prevention of infective endocarditis: guidelines from the American heart association: a guideline from the American heart association rheumatic fever, endocarditis, and Kawasaki disease committee, council on cardiovascular disease in the young, and the council on clinical cardiology, council on cardiovascular surgery and anesthesia, and the quality of care and outcomes research interdisciplinary working group. Circulation, v. 116, n. 15, p. 1736-1754, 2007.
A. Priscia Penha Coelho. UNA-SUS/UFMA. Licença: Termo de uso ARES (2016). Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/.... Acesso em: 26 jul. 2020.
Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Katherine Marjorie Mendonça de Assis
Paola Trindade Garcia
Elza Bernardes Monier
Mário Antônio Meireles Teixeira
José Henrique Coutinho Pinheiro
Juliana Bertoldi Franco
Elisa Miranda Costa
José Benedito Dias Lemos
Nicole Aimée Rodrigues José
Luana Martins Cantanhede
Talita Guimarães Santos Sousa
Isabelle Aguiar Pradoe
Priscila Penha Coelho
Jefferson de Almeida Paixão
Rayanne Maria Cunha Silveira
FRANCO, Juliana Bertoldi. Prevenção da endocardite infecciosa e a pessoa com doença cardiovascular. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS. Programa Assistência odontológica para pacientes com Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) na Atenção Primária à Saúde (APS). Assistência odontológica para pacientes com DCNT: doenças cardiovasculares. São Luís: UFMA; UNA-SUS, 2020.