A incidência de infecções respiratórias agudas em crianças é elevada, estimando-se em cerca de 4-6 episódios por ano (Bulla et al, 1978). A etiologia dessas infecções é muito variada e os vírus são muito prevalentes, sendo aqueles com maior destaque o rinovírus, vírus da influenza (A e B), sincicial respiratório, parainfluenza, adenovírus e metapneumovírus (Fontes et al., 2013). A faixa etária da criança e a sazonalidade podem ajudar na diferenciação de alguns quadros, ressaltando que o vírus sincicial respiratório é mais frequente no outono e em crianças menores de dois anos e o vírus da influenza circula com maior intensidade no inverno. Os dados de vigilância da região podem ajudar a orientar os profissionais de saúde. A avaliação do cartão vacinal da criança também é importante no diagnóstico diferencial entre os vários agentes causadores de infecção respiratória como, por exemplo, a coqueluche.
Um aspecto discutido no caso de Eduardo é a preparação da solução de oseltamivir a partir da apresentação em cápsula. De acordo com as recomendações do Ministério da Saúde (2013), deve-se abrir a cápsula de 75mg e dissolvê-la em um copo com água, misturando bem. Sugere-se a diluição em 7,5 ml para obtenção de uma solução contendo 10 mg/ml de oseltamivir. A quantidade a ser administrada dependerá do peso do paciente. Em pacientes com suspeita de influenza, particularmente crianças, devem evitar a utilização de ácido acetilsalicílico (AAS) devido ao risco de desenvolvimento da síndrome de Reye (quadro grave de hepatopatia associada à encefalopatia).
O quadro de Frederico é mais preocupante. Sabendo-se que a criança apresenta tiragem intercostal e satO2 < 95%, opta-se pelo manejo em unidade de internação. Como há critérios para diagnóstico de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e a epidemiologia aponta para a possibilidade de influenza, o oseltamivir é iniciado. O fato de Frederico ter apresentado tiragem intercostal aponta para um quadro de pneumonia grave (OMS, 2005) e, dessa forma, o médico optou por associar ao antiviral também um esquema antimicrobiano para pneumonia adquirida na comunidade (PAC). Os agentes etiológicos bacterianos mais prevalentes de PAC na faixa etária de Frederico são pneumococo, H. influenzae e Staphylococcus aureus (Alvim et al, 2013) e, diante da gravidade do quadro, opta-se pelo uso de uma cefalosporina de 3ª geração (SBPT, 2007).
A coleta de material está indicada em casos de pacientes hospitalizados com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e para investigação de surtos em comunidades fechadas, independentemente da idade. A coleta de material deve ser feita preferencialmente por aspirado de nasofaringe; na impossibilidade de realização do aspirado, pode-se realizar swab, combinado de orofaringe e nasofaringe com swab de Rayon. O período de coleta ideal é nos primeiros três dias de doença, mas pode ser coletado até o sétimo dia.
Por fim discute-se a quimioprofilaxia e suspensão de aulas em escolas. De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde (2013), não está indicada a suspensão de aulas ou outras atividades para controle de surto de influenza como medida de prevenção e controle de infecção. A indicação para quimioprofilaxia deve ser feita apenas em situações especiais, avaliados os fatores de risco para complicações individualmente.
REFERÊNCIAS:
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Alvim, CG, Picinin, IFM, Camargos, PAM. Pneumonia adquirida na comunidade em crianças e adolescentes. In: Leão E, Correa EJ. Pediatria Ambulatorial 5a ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2013.
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Bulla A, Hitze KL. Acute respiratory infections: a review. Bull World Health Organ., 1978;56(3):481-98.
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European Medicines Agency – EMA. Tamiflu. Summary of product characteristics. Disponível em http://www.emea.europa.eu/docs/en_GB/document_library/EPAR_-_Product_Information/human/000402/WC500033106.pdf
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Fontes, MJF, Andrade, CR, Pedrosa, BF et al. Infecções Respiratórias Agudas. In: Leão E, Correa EJ. Pediatria Ambulatorial 5a ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2013.