Neste estudo, vamos compreender, na prática, como realizar ações que levam a estabelecer o conceito de Saúde Baseada em Evidências. Para tanto, vamos estudar dois métodos importantes que levam à análise dos estudos de evidências e à sumarização de seus resultados. O objetivo é, ao final deste estudo, ser capaz de compreender os métodos que propiciam a descoberta de evidências que auxiliam na promoção da saúde; compreender, na prática, a utilização de tais métodos; entender as limitações dos métodos e o Ensaio Clínico Randomizado (ECR).
A Revisão Sistemática é um método de investigação científica com planejamento e reunião de estudos originais, sintetizando os resultados de múltiplas investigações primárias através de estratégias que limitam viéses e erros aleatórios. Nesse contexto, viés é qualquer erro na coleta, análise, interpretação, publicação ou revisão de dados que leva a resultados distantes do “verdadeiro”; e erro aleatório é a proporção da variação de uma medida, geralmente devido à chance.
Dessa forma, as Revisões Sistemáticas diferem de revisões narrativas, conforme pode ser observado a seguir. Acompanhe.
A meta-análise é uma técnica de análise estatística que permite combinar e sintetizar os resultados de vários estudos, abordando uma mesma doença ou condição de saúde, os quais foram selecionados por meio de revisão sistemática.
Os estudos de meta-análise têm como unidade de análise os trabalhos selecionados na revisão sistemática e seu objetivo principal é a identificação de padrões comuns e diferenças entre os achados de tais estudos.
Saiba mais:
Para mais detalhes sobre esse tipo de estudo, recomenda-se conhecer o trabalho da Colaboração Cochrane que tem se dedicado à preparação, armazenamento e disseminação dos estudos de meta-análise, constituindo um amplo repertório sobre as melhores evidências científicas disponíveis para os cuidados à saúde.
THE COCHRANE Collaboration: working together to provide the best evidence for health care. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php?lang=pt.
Para entender tais conceitos na prática, vamos observar um exemplo a seguir. Acompanhe.
Cinquenta anos após os estudos pioneiros que avaliaram, através de Ensaios Clínicos Randomizados (ECR), a eficácia do uso da Clorpromazina no tratamento da esquizofrenia, Adams et al (2005) realizaram uma revisão sistemática e meta-análise de ECR, avaliando a eficácia da droga. Apenas ECR desenvolvidos no período entre 1955 e 2000 foram incluídos na análise, totalizando 5.276 participantes alocados nos grupos experimental (clorpromazina) e placebo. Os resultados da meta-ánalise mostraram uma melhora global do quadro de saúde mental nos indivíduos expostos à droga, embora um efeito placebo também tenha sido identificado:
Risco Relativo (RR): 0,76 (IC95% 0,7 – 0,9);
Número Necessário para Tratar NNT: de 7 (IC 95% 5 – 10).
Ou seja, houve um efeito protetor sobre os efeitos globais da esquizofrenia de 24% (1 – 0,76 X 100), sendo necessárias 7 pessoas a serem tratadas com a droga para se prevenir um caso de piora dos efeitos globais da esquizofrenia.
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Clique aqui e observe no gráfico os resultados da meta-análise. Confira.
Uma criança de cinco anos de idade vai à consulta odontológica na Unidade Básica de Saúde (UBS) acompanhada de sua mãe. Esta criança apresenta os primeiros molares permanentes em erupção e algumas lesões de cárie dentária na dentição decídua. A mãe relata que assistiu na televisão e ouviu no rádio que existem dentifrícios especiais para crianças com concentração de flúor mais baixa do que os usados por adultos ou mesmo sem flúor, mas que não sabe como proceder com relação ao seu filho. A mãe está preocupada, pois observou alguns “pontos” “escuros nos dentes do “fundo” da boca da criança. Eles residem na área central do município onde existe abastecimento de água tratada e fluoretada.
Qual deve ser a conduta do dentista clínico da UBS ao orientar a mãe a respeito do tipo de dentifrício que deve ser utilizado na escovação dos dentes do seu filho?
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Para ajudar na resposta, é importante utilizarmos a abordagem baseada em evidências. Clique aqui e confira como foi feito o estudo e qual o resultado final da análise.
Nesse contexto, é relevante também conhecer as limitações. Acompanhe.
Apesar de serem essenciais para a avaliação da eficácia de intervenções clínicas nas quais a cadeia causal é relativamente simples e similar em qualquer contexto, os ECR não são necessariamente os melhores produtores de evidências científicas de ações de saúde pública.
Em geral, os ECR são desenvolvidos com indivíduos de países ricos que apresentam características sociais, educacionais, nutricionais e imunológicas dos participantes e diferem, em muito, das populações dos países de baixa e média renda, o que pode comprometer o grau de generalização de seus resultados.
O desenvolvimento de estudos de intervenção bem delineados, dirigidos aos problemas de saúde mais comuns das populações dos países pobres e de renda média, pode auxliar na superação de algumas das limitações aqui apontadas.
Saiba mais:
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, consulte:
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Telessaúde. Atenção Primária à Saúde. Portal Telessaúde Brasil e BVS APS. São Paulo. Disponível em: http://www.telessaudebrasil.org.br.
The Cochrane database (base de dados da Colaboração Cochrane de revisões sistemáticas):
www.cochrane.org
Chegamos ao final desta etapa de estudos, quando vimos a importância da utilização das práticas em saúde baseadas em evidências científicas rigorosas para o melhor cuidado com as pessoas e populações.
A adoção de práticas de saúde baseadas em evidências, além do compromisso com a ciência, pauta-se em valores éticos, ao evitar práticas iatrogênicas e ao produzir o melhor cuidado com o uso parcimonioso de recursos materiais e tecnológicos, na maior parte das vezes, escassos.
Agora, para colocar em prática o conhecimento aprofundado, vamos fazer a autoavaliação proposta para esta etapa.