A Andragogia constitui o conjunto de princípios referentes à aprendizagem de adultos, em contraponto a Pedagogia, que trata da aprendizagem de crianças. O adulto, segundo princípios de andragogia, conforme indica Malcom Knowles, um de seus primeiros divulgadores, aprende com motivação diferente de uma criança, é menos dependente, sempre tem algum referencial, valoriza o que percebe ter utilidade mais imediata, prioriza no seu aprendizado aquilo que possa lhe propiciar algum destaque, mesmo que de natureza social, devendo ainda ter estimulada sua autonomia.
O primeiro desses princípios é que o mundo mudou bastante, e essas mudanças atingem a relação de todos com o conhecimento e afetam as relações sociais de um modo geral.
Conhecimento relacionado com notícias do dia-a-dia
Seja o conhecimento relacionado com notícias de ocorrências em locais remotos do planeta, os terremotos, os tsunamis, as enchentes e os desabamentos com as chuvas recentes em nosso próprio país, cujas reportagens e flagrantes constantes permitem seu acompanhamento quase instantâneo, seja a expectativa de assistir ao vivo as competições da 30ª Olimpíada em Londres, a partir de 27/07, os eventos tornaram-se globalizados, facilmente assistidos na midia televisiva, conforto e intimidade dos lares ou em locais públicos.
Conhecimento científico
O conhecimento científico, cuja produção é célere ano após ano, e em todas as profissões, determinando um volume indescritível de informações, independentemente do tema ou assunto, é bastante superior ao existente há apenas alguns anos ou décadas passadas. E, do mesmo modo que o seu volume aumentou, cresceu sua disponibilidade com o advento da internet, principalmente com a chegada de sua interface gráfica, a web (ou WWW). A possibilidade de obter informações, seja qual for a sua natureza, de um modo geral, experimentou uma verdadeira revolução, pois sua disponibilização, entre outros detalhes, ocorre praticamente sem limites, e as diversas mídias tendem à evolução e à convergência, pois a palavra de ordem atual é inovação, e as provas cercam-nos insidiosamente por todos os lados: à telefonia fixa acrescentou-se a telefonia celular, os telefones celulares transformaram-se em “smartphones”, e a televisão em preto e branco, e a própria versão a cores, tornaram-se peças de colecionador frente à tão propalada televisão digital.
WWW
Muitos ainda confundem as palavra internet e web, tomando-as como sinônimas. De fato internet significa a rede mundial de computadores, formada de inúmeras outras redes menores, enquanto a web é apenas uma de suas funcionalidades, identificada pelo protocolo de comunicação HTTP, em meio a outras disponibilidades, como os protocolos relativos a arquivos FPT, e mesmo o correio eletrônico. O acesso à internet antes da web se dava via interface críptica, ou seja, por meio de linhas de comando, sem nenhum elemento gráfico, estático ou não. A web facilitou muito a comunicação entre os usuários, exatamente por criar uma metáfora mais próxima da maneira como os seres humanos se comunicam diariamente e há muito tempo.
Vistas as argumentações acima, e antes de entrar na conceituação propriamente dita sobre o que é a EaD, é também interessante saber que ela não constitui uma novidade.
Essa ideia de se tratar de uma invenção moderna decorre muito mais do fato de sua maior visibilidade ter ocorrido principalmente com o advento da internet e da web dos anos 90 para cá, e tudo o que se fazia antes na área da EaD ficou pouco conhecido para as gerações mais novas, ou para quem só veio a ter contato com a EaD depois dessa fase.
Em diferentes países, há mais de um século, já se fazia Educação a Distância, que sempre empregou os recursos tecnológicos existentes na época, basicamente os meios que permitissem criar um receptáculo, um continente para o conhecimento a ser transmitido, e suas tecnologias associadas – taboas de argila, pergaminho, papel, e o alfabeto escrito, de um lado, estiletes, penas de ganso, lápis e canetas como acessórios tecnológicos correlatos, e de outro lado os meios de transporte para o material produzido (continente e conteúdo).
É de se pensar, portanto, que a Educação a Distância já estaria disponível, pelo menos em potencial, desde que os seres humanos, após a invenção da linguagem, conceberam um meio de registrá-la por meio da invenção da escrita, bastando então, a partir daí, enviar informações codificadas em algum meio físico utilizando algum tipo de transporte. Nesse sentido, por exemplo, há quem considere que as cartas de Platão e as epístolas de São Paulo constituem o marco inicial, ou seja, à época já representavam um exemplo de EaD.
Diversas instituições, ao longo dos anos, tornaram-se referência internacional em Educação a Distância, tais como a Open University, na Inglaterra, possivelmente a mais antiga e a mais famosa de todas, possivelmente também a primeira a praticar Educação Aberta e a Distância, mas muitas outras ganharam notoriedade, nos dois lados do oceano atlântico, utilizando as tecnologias disponíveis na época. No Brasil algumas particularidades tornaram-se interessantes, mas um tanto negativamente: por exemplo, o ensino a distância em nosso país esteve por muitas décadas associada à disponibilização de cursos técnicos profissionalizantes, demorando muito para atingir o ensino superior, o que resultou numa visão reducionista, de que a EaD só serviria para cursos de menor importância. O ensino universitário, portanto, não poderia se beneficiar de metodologia que seria efetiva somente para cursos de corte e costura, fotografia, desenho artístico e industrial, conserto e manutenção de rádio e televisão, técnico em conserto de relógios, etc.
As universidades, afinal, têm uma história que se confunde com parte da própria história da humanidade. As áreas às quais se têm dedicado há séculos são consideradas nobres, e nelas só o modelo presencial pode ser aceito como garantia de qualidade. Não sem motivo, essas mesmas vetustas instituições universitárias têm resistido tanto a qualquer tentativa de serem avaliadas. Essa fase em que a EaD fica restrita a um nicho de atuação considerado menos nobre foi muito bem descrita por Pierre Levy, retratando o preconceito contra a EaD, quando menciona que “por muito tempo a EaD foi vista como o estepe da educação. Algo como um ensino de segunda classe, destinada a quem não tinha condições de tempo, de vencer distâncias geográficas e/ou, talvez principalmente, condições econômicas para realizar cursos presenciais no formato tradicional. Destinada, portanto, aos menos favorecidos e até excluídos econômica e socialmente. Esse conceito, felizmente, está mudando celeremente, muito embora com atraso de algumas décadas em nosso meio.
Nesse contexto, instalou-se assim e de fato um grande preconceito contra a EaD, e na realidade ainda não totalmente abolido. Só recentemente, e não sem certo esforço, ela foi alçada à esfera do ensino superior, principalmente com iniciativas oficiais tais como a criação da Universidade Aberta do Brasil, pelo MEC, e da Universidade Aberta do SUS, UnA-SUS, pelo Ministério da Saúde. Sim, tomados os devidos cuidados e respeitados os devidos padrões, é verdade ser possível obter aprendizado de excelente qualidade empregando EaD online, e até mesmo com resultados melhores do que no ensino presencial, segundo mostra pesquisa do U.S. Department of Education.
Diante desses comentários todos, afinal, como se poderia conceituar o que venha a ser Educação a Distância?
Conforme Moran, a EaD é um “processo de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias”, no qual o professor e o aluno encontram-se afastados por contingências de distanciamento geográfico, pelo tempo ou ambos. As tecnologias provêm o(s) meio(s) para que, em ocorrendo a comunicação, a interação entre professor e alunos, do aluno com o material a ser aprendido, e dos alunos entre si, o ensino se processe favorecendo a ocorrência efetiva do aprendizado.
É mais uma vez interessante lembrar que por se encontrarem distantes no tempo e no espaço não significa que a interatividade não possa alcançar níveis ótimos ou pelo menos satisfatórios. Na verdade a Educação a Distância “não deve ser entendida como uma simples separação geográfica entre alunos e professores, mas sim, e mais importante, um conceito pedagógico”.
Em relação ao ensino ou educação presencial, de fato, vários tópicos tornam-se comparativamente diferentes. De início o uso de tecnologias é mais variado na EaD online.
No presencial a tecnologia básica é a lectoescrita, que pouco mudou desde a invenção da impressora de tipos móveis, há quase seis séculos. Obviamente não é fácil modificar algo arraigado pelo uso de tanto tempo. Mas a mudança mais radical, fundamentalmente, é quanto ao foco da atividade. No presencial, o foco é o ensino em si mesmo, e a figura central é o professor, como fonte de todo o conhecimento ou pelo menos das principais orientações para obtê-lo.
Na EaD, o foco é o aprendizado, a figura central é o aluno, o professor torna-se um auxiliar mais experimentado no rumo de obter o aprendizado. O ato de aprender, por sua vez, é tarefa cuja responsabilidade maior recai sobre o próprio aluno, cuja autonomia deve ser estimulada, numa sociedade em que o aprendizado é permanente, ao longo da vida, face às demandas mutantes de uma sociedade em constante evolução (LITTO, F.M; FORMIGA, M., 2008). A tríade básica da EaD online, portanto se constitui de: conectividade, comunicação (interatividade) e autonomia.
Leitura Complementar
“O processo de mudança na Educação a Distância não é uniforme nem fácil. Iremos mudando aos poucos, em todos os níveis e modalidades educacionais” (Moran). Leia e reflita sobre o texto"O que é educação a distância?" (clique aqui), de José Manuel Moran.