Introdução
A queixa de cefaleia é particularmente comum no cotidiano das Unidades de Saúde, tanto no âmbito dos serviços de urgências ou emergências hospitalares como nas unidades que integram a Atenção Básica. Sua ocorrência configura-se em um problema com características potencialmente limitantes, uma vez que influenciam negativamente no bem-estar, na qualidade de vida dos sujeitos e trazem consigo prejuízos econômicos e sociais.
Dados epidemiológicos recentes apontam para a relevância do problema e ajudam a determinar o perfil dos brasileiros que sofrem deste sintoma e que buscam os serviços de saúde em decorrência dele. No Brasil, embora as cefaleias sejam responsáveis por 9% do total de consultas por problemas agudos na Atenção Básica, afetando aparentemente mais mulheres que homens (SBMFC, ABMFR, ABN, 2009), apenas 16% dos usuários com cefaleia tensional e 56% daqueles com enxaqueca ou migrânea procuram atendimento médico (BIGAL, 2000).
A dor de cabeça gera sofrimento físico, além de prejuízos sociais, laborais, emocionais e econômicos. A cefaleia, por ser uma queixa muito frequente entre estudantes, também está relacionada a dificuldades de aprendizado, com fracasso educacional, absenteísmo escolar, em média de 2,8 dias/ano, maior vulnerabilidade a comorbidades e prejuízo na qualidade de vida (BRAGA et al., 2012).
Nesse sentido, a análise de dados estatísticos revela o papel significativo que a ocorrência de cefaleias assume sobre a sociedade, com impactos diretos sobre a vida econômica e a qualidade de vida das pessoas, para além dos custos diretos ao sistema de saúde.
Vincent et al. (1998) afirmam que cerca de 10% dos trabalhadores de uma empresa estudada relataram dor suficientemente intensa a ponto de prejudicar seu desempenho no trabalho, o que representa em números aproximadamente 538,75 horas não trabalhadas por mês. Na pesquisa em questão, o custo indireto das cefaleias foi estimado para cada tipo, resultando em um potencial prejuízo à empresa da ordem de R$145,64 por funcionário ou R$144.682,39 por ano. Para os autores, a enxaqueca é o tipo de cefaleia com maior custo social e financeiro e seu controle é particularmente importante no ambiente de trabalho, com reflexos positivos tanto no bem-estar como na produtividade dos sujeitos.
Nesse sentido, é fundamental que as equipes de Atenção Básica sejam capazes de atuar no enfrentamento deste problema, minimizando seus efeitos deletérios tanto para os sujeitos como para as comunidades atendidas.
Além disso, as equipes da Atenção Básica devem estar suficientemente sensibilizadas para adotar condutas adequadas, eficientes e acessíveis, sem a tendencialidade para os extremos, que vão desde a banalização da queixa ao uso inadvertido de tecnologias mais pesadas, pouco resolutivas e onerosas para o sistema de saúde.
Este material pretende servir de guia e se propõe a auxiliar os profissionais de saúde no reconhecimento e manejo das cefaleias agudas e crônicas na Atenção Básica, permitindo o estabelecimento do diagnóstico e o tratamento adequados, identificando situações de risco e atuando de forma integral e humanizada.


