Na perspectiva Paideia, a análise da realidade por meio da compreensão de si mesmo e do mundo a sua volta possibilita a proposição de intervenções sobre os fatores (externos ou internos) estruturados que condicionam o processo saúde-doença. Para Campos (2005), esse método tem como objetivo a construção de sujeitos de reflexão e de ação, capazes de pensar e agir diante da realidade, interferindo na dinâmica social e, portanto, no processo de produção de saúde.
O exercício da cogestão pressupõe a criação de espaços coletivos de gestão capazes de debater em torno dos distintos interesses e necessidades, muitas vezes comple¬xos e contraditórios, que emanam da vontade coletiva. Nessas instâncias, a discus¬são e a análise das demandas trazidas pelos sujeitos constituem-se em uma forma de provocar mudanças,levando à produção de sujeitos autônomos e corresponsáveis pela coprodução de saúde. Nessa perspectiva de corresponsabilização, o usuário não é simplesmente um indivíduo que manifesta seus interesses, mas sim, aquele que faz parte de todo processo de gestão: um sujeito capaz de pensar e de fazer saúde.
Para implementar uma gestão ampliada e compartilhada nessa direção, é indispensável que exista disposição política para reinventar o modo de organização das instituições, redirecionando a forma de produzir saúde e os fluxos de poder existentes no setor. É necessário, portanto, um arranjo institucional descentralizado que fomente processos de comunicação transversais entre os diferentes sujeitos e interesses envolvidos (BRASIL, 2009).
Essa nova arquitetura parte do entendimento de que o processo de transformação da realidade depende da ação interdisciplinar, ou seja, do encontro entre os diferentes saberes no sentido de propor intervençõesarticuladas e capazes de enfrentar as complexas demandas encontradas nos territórios. A organização de rodas, por exemplo, é uma diretriz dacogestão que aposta na mudança das práticas de gestão e de atenção a partir do movimento de desestabilização provocado pelo encontro entre os diferentes.
Leitura complementar:
Para aprofundar seu conhecimento sobre os arranjos e dispositivos propostos pela Cogestão, clique aqui e acesse o link.
Tais arranjos e dispositivos estão relacionados tanto com a organização do espaço coletivo de gestão como aos mecanismos de garantia de participação cidadã dos sujeitos no cotidianodas Unidades de Saúde e nos ProjetosTerapêuticos propostos pelas equipes, como o PST. Por derivar de uma pactuação entre a equipe e os sujeitos coletivos, considerando as singularidades presentes em cada contexto, o Projeto de Saúde no Território propõe intervenções a partir de necessidades de saúde discutidas coletivamente, fomentando a corresponsabilidade coma produção da saúde.
Verdi, Freitas e Souza