Sabemos que, historicamente, a estrutura dos serviços de saúde no Brasil não previa a inclusão dos usuários nos processos de gestão do Sistema. Da mesma forma, a organização do trabalho das equipes de saúde não visualizava o usuário como sujeito, ou seja, não era capaz de perceber sua potencial contribuição para a produção de saúde nos territórios.
A partir da instituição do SUS e das políticas de saúde que se propõem a reorientar o modelo tradicional de atenção e a repensar suas práticas, essa realidade começa a se transformar. Como exemplo dessa disposição para a mudança, podemos citar a crescente preocupação com a participação e a integração dos sujeitos ao gerenciamento dos serviços e do próprio cuidado em saúde, inscrita na Política Nacional de Atenção Básica e na Política Nacional de Humanização.
Estruturando-se a partir desta lógica, Campos(2006) desenvolveu o Método Paideia ou Método da Roda. Nesta proposta, através da cogestão ou da administração compartilhada do pensar e do fazer coletivo, pretende-se democratizar relações, bem como produzir saúde, realização profissional e pessoal dos trabalhadores e reproduzir o SUS como política democrática e solidária (BRASIL, 2009, p. 10).
A democracia para este autor é uma reforma social, um produto genuinamente coletivo e relaciona-se com o compartilhamento de poder e de decisões. O Método trata, portanto, de uma forma de gestãodo trabalho que tem como pressuposto a estruturação da democracia organizacional,de modo a fomentar a capacidade de análise e intervenção dos sujeitos e dos coletivos a partir da consideração da existência legítima de diferentes grupos, interesses, projetos e sujeitos no processo de gestão (CAMPOS, 2005, p.158).
Na perspectiva do Método, os sujeitos são coproduzidos pela interação de uma multiplicidade de fatores, tanto imanentes ao sujeito(aspectos biológicos, subjetivos, desejos e interesses) como transcendentes a ele – como as necessidades sociais, a organização das instituições, os contextos socioeconômicos e culturais e o ambiente(CAMPOS, 2006).
Permeado por esses elementos está o contexto singular, que nada mais é que o resultado sintético da influência dos distintos fatores de coprodução sobre os sujeitos. A figura abaixo procura explicitar de que maneira a interação de forças internas e externas aos indivíduos ou grupos interfere nesse processo de coprodução: a síntese singular, por exemplo, é resultado da influência de contextos particulares e universais e, ao mesmo tempo, é consequência da atuação destes sobre o contexto e sobre a coconstituição de si mesmos e de suas instituições (CAMPOS, 2006).

Figura 2 – Mapa de coprodução de sujeitos
Fonte: CUNHA, 2009
Verdi, Freitas e Souza