Portanto, nessa etapa, são analisados tanto os fatores que contribuem para o aumento do gradiente de vulnerabilidade da situação estudada, como os que contribuem para seu decréscimo, como é possível observar na figura abaixo.

Figura: Avaliação de Vulnerabilidade em Sujeitos Singulares (balança de vulnerabilidade)
Fonte: OLIVEIRA (2007, p. 99).
Os entendimentos acerca dos elementos inseridos na avaliação e que podem afetar a questão da vulnerabilidade, seja de risco, seja de proteção, são interpretações absolutamente singulares: se o mesmo caso estivesse sendo discutido por outra equipe, haveria a possibilidade de uma avaliação diferente. O modo como a equipe entende a problemática envolvida em cada caso, permeado pelo contexto, determina, portanto, as variáveis pertinentes em cada situação (OLIVEIRA, 2007).
Para que se possa conhecer em profundidade os processos histórico-sociais, é preciso analisar dados objetivos, mas é imprescindível que a equipe conheça a população, ouça seus depoimentos, seus dramas pessoais e sua própria interpretação do território, buscando compreender sua apreensão sobre o que faz com que aquele lugar seja de uma determinada maneira. Isso significa ampliar o olhar sobre a localidade sem ficar preso somente a diagnósticos médicos.
Assim, destacados os pontos importantes dos três passos iniciais do projeto, é possível dizer que a compreensão da situação é ampliada gradativamente na medida em que as equipes definem a área e população vulnerável, os problemas prioritários do PST e examinam cuidadosamente os processos histórico-sociais relacionados ao território e à área e população escolhida.
A essa altura, a equipe já pode suscitar um debate, baseando-se em “hipóteses explicativas” sobre a situação-problema, o que, para Oliveira (2007), consiste na verdadeira discussão do caso, uma vez que dá um passo adiante e supera a simples troca de conhecimentos sobre fatos ligados à história objetiva da situação em questão.
Assim, é possível dizer que o debate dos objetivos remete-nos ao reconhecimento da legitimidade das necessidades de saúde presentes no caso. Indiretamente, ocorrerão debates sobre a prioridade de intervenção, sobre quais são as demandas mais importantes, quais poderão ser respondidas, quais serão adiadas. Por essa razão, a participação da comunidade nos espaços coletivos de discussão do PST torna-se imprescindível.
Definir e discutir as ações possíveis para implementar o projeto de intervenção na área escolhida, definindo responsáveis e profissional de referência
Uma vez definidos os objetivos do PST, a equipe de saúde está apta a discutir quais ações efetivas serão propostas para alcançá-los.
Porém, antes de iniciar a discussão propriamente dita acerca de novas ações, é importante que a equipe faça um resgate histórico das intervenções já realizadas, no sentido de resolver o problema em questão, de saber quais foram seus resultados e quais foram suas limitações. Para Oliveira (2007), esse olhar retrospectivo permite ampliar as possibilidades de sucesso do Projeto atual, uma vez que a equipe pode reavaliar o processo anterior, identificando e corrigindo possíveis distorções ou desvios.
Nesse momento, devem ser definidos, também, o profissional de referência e as responsabilidades correspondentes a cada ator na implementação das ações elencadas. O profissional de referência deve ser aquele responsável por articular todo o processo e que estiver informado de todas as ações planejadas no PST, podendo ser qualquer componente da equipe. Já o responsável é aquele que vai se comprometer com a execução da ação proposta. Portanto, para o sucesso do PST , não é aconselhável dispersar as ações entre vários responsáveis, tampouco concentrar várias ações em uma única pessoa (OLIVEIRA, 2007).
Identificar os sujeitos e as organizações (redes) potencialmente implicados com o Projeto: usuários interessados, rede social e grupos com interesses contrariados
Nessa etapa, a equipe procura estabelecer redes de cogestão e corresponsabilidade por meio da identificação de sujeitos e organizações estratégicas e potencialmente implicadas para a elaboração e o desenvolvimento do PST.
Esses atores variam conforme a finalidade de cada PST e de acordo com a realidade de cada território. Assim, poderiam estar envolvidos, desde representantes de associações ou grupos religiosos, lideranças locais, até membros de outras políticas ou serviços públicos existentes.
Com a criação dos espaços coletivos (passo seguinte), o PST será amplamente rediscutido, trazendo à tona sua finalidade e seu processo de implementação. É a constituição desse espaço que permitirá aos sujeitos implicados a possibilidade de reformular, pactuar, estabelecer responsabilidades e apropriar-se do projeto de saúde para a comunidade.
Nessa direção, é igualmente importante associar instrumentos de planejamento e gestão do setor saúde ou fora dele, como o Termo de Compromisso de Gestão, Plano Municipal de Saúde, Agenda 21 Local, Plano Diretor da Cidade, o Projeto Político-Pedagógico das Escolas presente no território de responsabilidade, entre outros (BRASIL, 2010).
Criar um ou mais espaços coletivos de discussão em que a equipe abra possibilidades de conversa e pactuação (combinados) com os outros sujeitos e organizações interessados, para discutir o problema, os objetivos e as ações do Projeto proposto para a área escolhida.
É nesse momento que a equipe de saúde propõe a criação de espaços coletivos de debate e convida todos os envolvidos na situação eleita como prioritária do PST. O convite pode ser feito por meio de diferentes canais de comunicação: telefone, visita domiciliar ou institucional, e-mail, atentando para a necessidade de documentá-lo através de ofícios, quando for o caso.
O principal objetivo desse fórum é apresentar o anteprojeto do PST, elaborado pela equipe a fim de discutir sua finalidade, objetivos, ações propostas para a resolução da demanda em questão e a necessidade de inclusão de novos atores.
Entretanto, deve-se considerar que este Projeto não é algo estanque, pois pode ser modificado, considerando-se as propostas dos novos atores envolvidos. Isso significa considerar a percepção que cada ator tem acerca do problema e quais são as expectativas de sucesso do Projeto. É a partir dessa reflexão que são redefinidos os rumos, os objetivos, as linhas de ação e as prioridades de cada PST (OLIVEIRA, 2007).
A pactuação do Projeto no espaço coletivo estabelece a parceria e a cooperação entre os interessados, procurando superar as relações prescritivas e geradoras de dependência.
Rediscutir entre a equipe: o problema, os objetivos e as ações do Projeto de intervenção na área de risco escolhida, após a discussão e pactuação com os outros sujeitos potencialmente implicados no PST, e traçar estratégias para implementação das ações propostas
Após a reunião de pactuação com todos os sujeitos envolvidos no processo, cada um dos grupos de interesse, assim como a equipe de saúde, precisam se reunir a fim de traçarem as estratégias para a implementação das ações propostas.
As estratégias construídas pela equipe podem envolver a utilização de recursos sociais da própria comunidade, como escola, grupo de mães, associações de moradores, dentre outros, ou, ainda, de organizações governamentais e não governamentais. Essa articulação é decisiva na constituição de redes de apoio no território que ampliem a capacidade de resolução de problemas.
À medida que a discussão se aprofunda e a equipe consegue perceber o problema de maneira ampliada, compondo uma análise coletiva sobre seu território, novas estratégias surgem, trazendo consigo outras possibilidades de intervenção.
Criar momentos de avaliação da implementação do Projeto entre a equipe e entre a equipe e os outros sujeitos implicados no PST
Uma vez implementado, o Projeto deve ser rediscutido e avaliado periodicamente. A proposta é que as equipes organizem uma rotina de discussões no serviço, prevendo a inclusão de todos os sujeitos envolvidos no PST. Para tanto, é necessário criar uma agenda que contemple a revisão sistemática do Projeto em andamento.
Oliveira (2007) indica que a periodicidade das reuniões de reavaliação é definida, levando-se em consideração intervalos minimamente razoáveis para que as ações planejadas produzam o efeito esperado e que não impliquem em danos à população. Desse modo, a ocorrência de reuniões avaliativas de maneira repetitiva é desnecessária. Caso surjam problemas pontuais durante o processo, é possível que um subgrupo, composto por pessoas diretamente ligadas à situação específica, e o profissional de referência do PST se reúnam para a tomada de decisões.
Outro ponto importante a ser destacado é a necessidade de registrar todos os encontros em memórias, as quais devem estar acessíveis a qualquer um dos interessados. Isso vale também para a execução do projeto, cujas informações devem ser transcritas em livro próprio, incluindo a descrição das etapas executadas, as ações desenvolvidas, os resultados, etc.
Verdi, Freitas e Souza