A inflamação das células do fígado (hepatócitos e outros), denominada hepatite, pode ter diversas causas, entre elas a infecção por diferentes cepas virais. As hepatites virais são provocadas por agentes etiológicos distintos, que têm em comum o tropismo primário pelo tecido hepático e que também demonstram particularidades na forma como atingem as populações, embora tenham características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais semelhantes. As hepatites virais apresentam distribuição universal, mas sua magnitude varia nas diferentes regiões do país e do mundo.
A Organização Pan-Americana de Saúde (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2010) estima cerca de 130 casos novos de hepatite A e E por 100 mil habitantes ao ano no Brasil, com exposição ao vírus por mais de 90% da população maior de 20 anos. E, para a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2012), dois bilhões de pessoas no mundo já tiveram contato com o vírus da hepatite B e cerca de 325 milhões tornaram-se portadores crônicos.
Os padrões de distribuição da hepatite B foram definidos como de alta endemicidade (prevalência superior a 7%), endemicidade intermediária (prevalência entre 2% e 7%) e baixa endemicidade (prevalência abaixo de 2%). A região Sul é considerada de baixa endemicidade, mas mantém prevalência moderada no oeste de Santa Catarina e alta endemicidade no oeste do Paraná.
A hepatite delta concentra-se na Amazônia ocidental (uma das maiores incidências mundiais, por condições ambientais, sociais, culturais e genéticas da população), onde ocorrem surtos epidêmicos ictero-hemorrágicos e alta prevalência de hepatopatias crônicas e hepatocarcinoma entre portadores.
A vigilância epidemiológica das hepatites virais no Brasil utiliza o sistema universal e passivo, baseado na notificação de casos suspeitos. O número de notificações não reflete a real incidência da infecção, pois a grande maioria dos acometidos apresenta formas assintomáticas ou oligossintomáticas, sendo dificilmente captados. Estados e municípios estão em diferentes estágios de implantação, refletindo diferentes níveis de sensibilidade e de capacitação das equipes das vigilâncias epidemiológicas. (BRASIL, 2005 - 2012).
Você tem informações sobre a existência de casos de hepatite crônica em sua área de abrangência? Aliás, em que situações pode-se considerar que um caso se tornou crônico?
Do mesmo modo que é importante reconhecer os diferentes tipos de hepatites, é preciso não perder de vista que um cuidado integral só poderá ser alcançado pela articulação de diferentes ações e competências, desenvolvidas em cada nível de complexidade e organização do Sistema de Saúde. Neste caso, é relevante conhecer algumas ações de cada nível, para um efetivo encaminhamento e continuidade do cuidado, conforme se demonstra no quadro síntese proposto pelo Ministério da Saúde.
Quadro 1 - Competências dos diferentes níveis de assistência à saúde no cuidado integral ao usuário com diagnóstico de Hepatite
Fonte: Brasil (2006 a)
A persistência sem melhoras, por mais de seis meses, do quadro inflamatório agudo, indica que a infecção está evoluindo para a forma crônica.
Ações contra as hepatites virais
As hepatites virais A e E estão relacionadas a condições de vida, saneamento básico, nível socioeconômico da população e, também, à educação sanitária da população. A exposição ao HAV, vírus da hepatite A, pode ocorrer em idades precoces, e as formas subclínicas (anictéricas) dificultam o diagnóstico e o tratamento. Para todas as hepatites virais, a educação e a prevenção são fundamentais.
Confira a seguir um rol de medidas de prevenção às hepatites:
As hepatites A e B podem ser prevenidas pela utilização das vacinas específicas contra o vírus A e B.
Indivíduos infectados devem ser orientados a não doar sangue, esperma ou qualquer órgão para transplante.
Educação e divulgação do problema são fundamentais para prevenir a hepatite B e C e outras DSTs.
Orientações adequadas para as pessoas infectadas podem reduzir a transmissão e a prevenção de novos casos.
Usuários de drogas injetáveis poderão ser incluídos em programas de redução de danos, receber equipamentos para uso individual e orientações sobre o não compartilhamento de agulhas, seringas ou canudos.
Profissionais da área da Saúde são responsáveis pelo uso de equipamentos de proteção individual.
A partir dessas formas de prevenção, pense em possibilidades de atuação no seu contexto de trabalho. Compartilhe essas informações com a população adscrita, desenvolva projetos de educação em saúde com metodologias ativas em que a comunidade pode sugerir e aplicar algumas práticas preventivas na comunidade.
A vacina contra o vírus da hepatite A é disponibilizada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) nas seguintes situações:
Pessoas com outras doenças hepáticas crônicas que sejam suscetíveis à hepatite A.
Receptores de transplantes alogênicos ou autólogos, após transplante de medula óssea.
Doenças que indicam esplenectomia.
Candidatos a receber transplantes autólogos de medula óssea, antes da coleta, e doadores de transplante alogênico de medula óssea.
Leitura Complementar
Indicamos como leitura complementar o artigo Políticas públicas de saúde voltadas à atenção à prostituta: breve resgate histórico, clique aqui e baixe-o
O uso de imunoglobulina humana antivírus da hepatite B é indicado nas seguintes situações:
recém-nascidos de mães portadoras do HBsAg;
contatos sexuais com portadores do vírus ou com infecção aguda (o mais cedo possível e até 14 dias após a relação sexual);
vítimas de violência sexual (o mais cedo possível e até 14 dias após o estupro);
acidentes ocupacionais segundo Manual de Exposição Ocupacional.
A equipe de saúde deve acompanhar usuários com hepatites virais a fim de ajudá-los a replanejar suas rotinas, reconhecendo suas limitações e necessidades, orientando acerca da necessidade de repouso, uma exigência da própria condição de adoecimento. Esse acompanhamento poderá ser domiciliar, na unidade de saúde ou ambulatório, numa periodicidade a ser avaliada, também levando em consideração as necessidades de:
cuidados voltados aos sintomas (digestivos, febre, astenia);
controles do peso e de exames;
o tratamento medicamentoso de algumas formas crônicas (geralmente referenciado para a especialidade).
Na Prática
Tal avaliação poderá ajudar a definir o tipo de acompanhamento por parte de cada profissional.
Problemas comuns, como a anorexia e a intolerância alimentar, prejudicam a aceitação alimentar. Daí ser conhecida a recomendação de dieta pobre em gordura e rica em carboidratos (para facilitar a digestão). Na prática, a única restrição se refere à ingestão de álcool (abstinência por seis meses a um ano). As opções de dieta podem ser planejadas, considerando-se as possibilidades e preferências.
Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Amante, Cutolo, Padilha e Miranda