Enquanto isso, na sala de curativo:
A enfermeira Elza teve que arrumar todos os materiais para curativo, pois não é dia de curativo e a sala ia ser usada para dar vacina. Mas como percebeu a boa oportunidade de avaliar a ferida da Sra. Josélia, resolveu mandar a auxiliar Virgínia organizar tudo. Esse processo demorou uns 20 minutos e deixou Josélia impaciente. Quando estava saindo da UBS, a auxiliar a chamou:
– Vocês pensam que eu tenho o dia todo? Tenho que trabalhar para comprar a mistura para meus filhos... – reclama Josélia.
– Calma, Dona Josélia, estamos nos esforçando, mas tivemos que arrumar a sala para poder fazer seu curativo. Queremos te ajudar a ficar livre dessa ferida. Você não quer ficar boa? – pergunta a auxiliar Virgínia.
– Desculpa – diz Josélia. – Claro que quero ficar boa... Mas vocês sempre só colocam soro na ferida, enfaixam e pedem para eu ficar com a perna para cima. Assim não vai melhorar nunca. O doutor já falou que varizes nunca melhora... – acrescenta Josélia em tom desolador.

Enquanto retira as faixas, a auxiliar de enfermagem Claudivânia conversa com Josélia:
– Está tudo bem com sua filha? – Pergunta Claudivânia
– Sim. Apareceram umas manchas na pele, mas logo sumiu...
– E a vacina dela, tá em dia? Ela já passou com dentista na triagem?
– Nem sei da vacina. A agente de saúde falou que está atrasada. No dia da triagem não puder vir. Até levei uma bronca...
– Porque então enquanto você não está aqui fazendo curativo, ela não passa com a doutora Juliana? O Reinaldo, que acaba de sair da consulta com Dr. Marcelo, pode acompanhar. O que você acha?
– Pode ser, daí ganhamos tempo...

Após a retirada das faixas, chega a enfermeira Elza, que encontra uma lesão ulcerada com cinco centímetros de diâmetro, em face lateral de perna esquerda, perimaleolar. A lesão tem bordos bem delimitados, porém é irregular, com intensa hiperemia à volta, associada a edema de membro inferior. Apresenta fundo com acúmulo de fibrina. A paciente nega dor na lesão, no entanto conta que começou a sair um líquido amarelado, sujando os curativos que ela mesma faz em casa. Às vezes tem que trocar o curativo duas vezes por dia.
– Dona Josélia, isso está péssimo! – critica Elza. – Como você deixou piorar assim? Na última vez a ferida estava linda! Vermelhinha no fundo, com dois centímetros. – pergunta, indignada.
– Porque não é na sua perna, doutora! – responde Josélia, também indignada. – Tenho que trabalhar, daí não pude mais cuidar. A meia que a doutora passou é muito cara e a minha rasgou. Além disso, não tenho mais material para curativo – diz em tom de defesa. Neste momento, chega Marcelo, que diz:
– Nossa, parece que está com infecção. Vou te passar um antibiótico e você deve obedecer à enfermeira, viu, Josélia?
– Vou marcar mais dias de curativo, e começar a ir também até sua casa para te apoiar, tá bom? – tranquiliza Elza. – Vou também falar com a enfermeira da prefeitura para ver se tem alguma placa para colocar na ferida. Ouvi falar que tem um material bom na prefeitura agora.
Após a auxiliar fazer o curativo, a paciente se despede, prometendo cuidar melhor da ferida.