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– Como posso ajudar você, Reinaldo? – indaga Marcelo.
– Doutor, eu não queria vir. Não é nada, foi minha mulher que me trouxe, pois tá doendo muito. Eu tava trabalhando catando papelão numa área do córrego aqui perto, onde junta bastante coisa, e daí escorreguei e alguma coisa me furou. Depois o meu tornozelo ficou uma bola e tá doendo. Mas eu só vim porque fiquei com medo de ser doença do rato. Doutor, eu quero aproveitar e mostrar esses machucados na minha boca, eles ficam ressecados, "racham" e nunca fecham, isso é grave? É perigoso? Dentro da boca também tem uma ferida, doutor. Vê pra mim?
– Por que você ficou com medo? – pergunta Marcelo.
– É que um amigo meu teve essa doença do xixi do rato e quase morreu, e ele trabalhava que nem eu, e acho que foi meio parecido. E esses machucados na boca doem, me incomodam e acho que pode ser doença ruim, sabe aquela que mata... câncer? Tem outros que não me incomodam, mas acho que não pode ser coisa boa... – comenta Reinaldo.
– Vamos por partes, Reinaldo. – afirma Marcelo, iniciando uma série de perguntas:
– Você teve febre?
– Por dentro – responde Reinaldo.
– Está com dor nas pernas?
– Não, só esse tornozelo...
– Onde fez o furo está vermelho?
– Tá.
– Já tomou vacina para hepatite e tétano?
– Tomei não, que eu me lembre. E isso protege da doença do rato? – pergunta Reinaldo.
– Não. Protege de outras doenças que também são importantes - responde Marcelo. – Este acidente está te atrapalhando?
– Tá, porque não consegui trabalhar esses dias. Acho que amanhã eu consigo. Se não trabalhar, não ganho; e eu comecei nesse negócio agora – comenta Reinaldo.
– Vamos examinar sua boca e lábios. Essas feridas existem há quanto tempo? Elas mudaram de tamanho, cor, forma? Você lembra? Você trabalha exposto ao sol, não é? Usa boné ou chapéu e algum tipo de filtro solar? E dentro da boca, o que você sente? Você é fumante? Faz uso de bebida alcoólica? – pergunta o médico.
– Hum, doutor, elas estão há um tempo, acho que seis meses ou mais, algumas doem e outras não! As da parte de fora, lábios, né? As da parte de cima e canto secam, racham e doem... Parece que essa do lábio inferior aumentou e escureceu, e ela não dói não! Essa está aí há mais tempo, eu acho... – diz Reinaldo. E acrescenta:
– Dentro da boca eu não senti nada nunca, mas percebi esse "machucado" outro dia que parei para olhar a boca no espelho... Doutor, isso é perigoso? Coisa ruim... – pergunta, preocupado, e continua:
– Eu fico o tempo todo no sol, catando latinhas, né? Uso boné, sim, mas esse tal de filtro nem sei o que é – comenta, rindo. E diz:
– Eu fumo desde os 14 anos, hoje tenho 45 anos... Faz tempo, né? Sei que não é bom para os pulmões, para saúde, dá tosse, falta de ar... Penso em parar, mas é difícil, né? –diz, preocupado.
– Eu hoje fumo bem menos por dia... A carteira de cigarros dura bastante... E bebo umas pinguinhas e cervejinhas, sim, de final de semana sempre e no final do dia, depende... Tem que ter uns trocados, né? – e ri meio envergonhado. – Mas não abuso senão a patroa fica brava...
O médico realiza um exame físico pontual. Está preocupado, pois já está quase dando o tempo da consulta de quinze minutos. Precisa examinar rápido.
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