Em relação ao tabagismo de Maria do Socorro, é preciso considerar os prejuízos desse hábito para o bebê durante a gestação e para os outros filhos que dormem no mesmo quarto do casal, que já apresentam sintomas sugestivos de asma persistente leve, os quais podem estar relacionados ao tabagismo da mãe e o prejuízo à própria saúde de Maria do Socorro, devendo ser devidamente orientada pela equipe sobre a importância da cessação ou, pelo menos, da redução do número de cigarros, uma vez que ela alega não conseguir interromper o hábito e evitar fumar dentro de casa para preservar a saúde dos filhos. Essa orientação terá mais efetividade se for construída sobre uma relação profissional-pessoa de confiança, desde que seja uma decisão negociada e compartilhada com Maria do Socorro, dentro das possibildades de aderência frente à constelação de problemas vivenciados no momento. É possível encontrar na fundamentação teórica Tabagismo/Asma aspectos importantes para abordagem do tabagismo. Em função do primeito contato, da prática da integralidade e da orientação familia, a Atenção Primária é "um recurso estratégico para o enfrentamento dos agravos vinculados ao uso abusivo de álcool, tabaco e outras drogas e as e diversas formas de sofrimento psíquico" (BRASIL, s/d), como era a situação de José que, além de portador de HIV/AIDS, é usuário de drogas. Para tanto, precisa muita vezes de uma articulação e apoio dos demais níveis de atenção, bem como presença integradora dos profissionais do NASF, na rotina da UBS.
O contexto exposto sugere que Maria do Socorro tinha problemas com o marido, provavelmente com algum ressentimento por ter adquirido HIV/AIDS em decorrência de relacionamentos extraconjugais do companheiro, incomodada também com seu quadro de dependência. Por outro lado, a paciente não refere nenhum parente ou amigo(a) que pudesse ajudá-la (rede de apoio social), além de demonstrar um completo isolamento social: "Ninguém na minha rua gosta de chegar perto da gente por causa da doença e do vício do meu marido". Assim, a complexidade do caso Maria do Socorro exige além do envolvimento de todos da equipe – incluindo a efetiva participação dos profissionais do NASF – a contrução de uma vinculação terapêutica e uma abordagem integral e familiar, de forma a oferecer um apoio mais efetivo à paciente, que passava por um momento muito difícil. Instrumentos como Ecomapa, genograma, elaboração de um projeto terapeutico singulares são valiosos neste sentido. Por meio destes instrumentos e metodologias, a equipe consegue se estruturar para o apoio de tal forma a orientar e apoiar a família à busca de benefícios assistenciais, previdenciários e sociais junto a organizações governamentais e não governamentais, tais como: Bolsa Família, creche para as crianças, cesta básica, transporte coletivo, enxoval para o bebê, fontes alternativas de renda, aprendizagem de novas habilidades e ofícios, participação em grupos temáticos para a troca de experiências sobre viver com HIV/AIDS, entre outras ações de apoio e solidariedade desenvolvidas pela sociedade civil, Todas as decisões devem ser pactuadas com Maria do Socorro, para que realmente atendam a seus anseios e necessidades, evitando que a equipe se fruste pela falta de interesse da protagonista do caso em relação ao benefício.
As consultas descritas, em que Maria do Socorro expôs suas angústias, medos, aflições e amarguras, demonstrou que os profissionais valorizaram a queixa e incentivaram a paciente a falar de seus sentimentos e necessidades, tal como é preconizado no Método Clínico Centrado na Pessoa. "A capacidade de escuta, sem prejulgamentos e imposição de valores, a capacidade de lidar com conflitos, a valorização das queixas e a identificação das necessidades são pontos básicos do acolhimento que poderão incentivar as mulheres a falarem de seus sentimentos e necessi¬dades" (BRASIL, 2010, p. 24). O tema Acolhimento, de Anelise Abrahão, traz uma reflexão sobre a importância dessa "postura acolhedora" nos serviços de saúde.