Maria do Socorro
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Anelise Riedel Abrahão




Acolhimento

"Acolher", segundo o dicionário, é "receber, admitir, dar acolhida". No entanto, o acolhimento como ato ou efeito de acolher define uma atitude, ou seja, uma ação de estar com, uma relação com algo ou alguém, e é nesse sentido que defendemos essa ação assistencial, por ser ela repleta de relevância no atendimento à população.

Apesar de a ideia do acolhimento parecer estar presente em todas as relações humanas, observa-se que esta não tem sido verificada com frequência nas práticas cotidianas, em que o cliente tem sido tratado com distanciamento e enquadrado nas regras preestabelecidas, de forma indiscriminada, ou seja, sem a valorização da sua necessidade individual.

A descaracterização das necessidades individuais do cidadão vem agregada a todo um contexto político-social voltado ao produto como volume assistencial, desprestigiando, portanto, a qualidade. Esse processo provocou na saúde uma espécie de "anestesia" da nossa capacidade de ausculta, reproduzindo assim a indiferença perante o outro. Essa atitude leva ao enfraquecimento das relações humanas, colaborando como consequência para a descrença coletiva nos serviços de saúde, interferindo negativamente na efetividade das suas ações (NEVES; ROLLO, 2006).

Como vemos, o Ministério da Saúde vem lançando aos profissionais um desafio: reativar nossa capacidade de cuidar e, para tanto, é imprescindível que estejamos atentos para acolher, tendo como princípios norteadores a indissociabilidade dos sujeitos com seu cotidiano e a coletividade em que estão inseridos (NEVES; ROLLO, 2006).


O acolhimento como pilar da assistência

A ideia do acolhimento nos serviços de saúde não é nada nova e já passou por diferentes interpretações. Tradicionalmente, é abordada como uma recepção administrativa em ambiente confortável ou ainda uma triagem administrativa e repasse de encaminhamentos para serviços especializados.

Ambos os enfoques têm sua importância; no entanto, se isolados dos processos assistenciais, se restringem a uma ação descomprometida, em que fica clara a preocupação com a queixa e/ou doença e não se evidencia uma abordagem ao indivíduo, repercutindo muitas vezes em um encaminhamento inadequado, sem avaliação do real potencial de risco, agravo ou sofrimento.

Para superar essas dificuldades, é necessário que a visão do acolhimento seja ampliada e articulada com o processo de trabalho e gestão dos serviços, sendo um recurso importante para favorecer a humanização dos serviços de saúde e, consequentemente, a credibilidade destes (TEIXEIRA, 2003).

Acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH), que não tem local nem hora certa para acontecer, nem um profissional específico para realizá-lo – faz parte de todos os encontros do serviço de saúde. O acolhimento é uma postura ética que consiste na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde (NEVES; ROLLO, 2006).

Segundo Neves & Rollo, o acolhimento como ação técnico-assistencial permite a análise da assistência com foco nas relações, pressupondo uma mudança na postura do profissional em relação ao usuário e sua rede social, reconhecendo o usuário como sujeito e participante ativo no processo de produção da saúde (NEVES; ROLLO, 2006).

As equipes de saúde frequentemente se deparam com questões como: Quem acolher? Qual é o horário do acolhimento? Em qual lugar?

Tais perguntas mostram, muitas vezes, a dificuldade de apreensão, por parte dos trabalhadores, do que vem a ser o acolhimento. A importância de envolver todos os profissionais, lembrando que muitas vezes o nosso usuário tem seu primeiro contato com o serviço por meio da recepcionista, do segurança, do auxiliar de limpeza, e não diretamente com os profissionais de saúde. Portanto, a "postura acolhedora" deve fazer parte das habilidades dos membros das equipes em sua relação com a população, em todos os momentos.

Referências

NEVES, C. A. B.; ROLLO, A. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. 2ª ed. Brasília, DF, 2006.

PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (Org.). Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: IMS-UERJ/ABRASCO, 2001. TEIXEIRA, R. R. O acolhimento num serviço de saúde entendido como uma rede de conversações. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (Org.). Construção da Integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: IMS-UERJ/ABRASCO, 2003, p. 89-111.

TEIXEIRA, R. R. O acolhimento num serviço de saúde entendido como uma rede de conversações. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (Org.).Construção da Integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: IMS-UERJ/ABRASCO, 2003, p. 89-111.

Especialização em Saúde da Família
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