O caso Vila Santo Antônio nos é apresentado como um grande desafio para a Equipe de Saúde Bucal. O perfil do território mostra dificuldades geográficas para acesso, além da mudança da UBS ter se mostrado um entrave maior para a população acessar o serviço.
Mesmo que a Unidade Básica de Saúde (UBS) esteja agora localizada próximo ao Bairro Vitória, as atenções se voltam para a Vila Santo Antônio, que necessita de ações imediatas de atenção em saúde bucal, mesmo que o equipamento odontológico não esteja funcionando de forma satisfatória, conforme mostra a descrição das equipes de saúde e respectivas UBS em Cachoeira da Serra.
O fato de a maior parte da vila não ter instalações sanitárias mínimas sugere que a água que a população recebe também não deve ser tratada e, portanto, a fluoretação como método sistêmico de prevenção de cárie deve ser descartada.
Os primeiros passos para a Equipe de Saúde Bucal seriam o conhecimento do perfil epidemiológico em saúde bucal dessa população e a devida triagem de risco. Muito provavelmente, o perfil econômico social da população sugere uma alta prevalência de cárie, inclusive na população adulta. Assim, o dentista Érico e a ASB Mariane devem realizar ações de adequação do meio para remover focos urgentes de doença e organizar a demanda segundo o critério de risco de cárie.
Baseada nessa triagem e levando em consideração a dificuldade de acesso da população à Unidade e a falta de fluoretação na água, a Equipe de Saúde Bucal deve estruturar ações de fluorterapia tópica através de bochechos e aplicação de flúor gel nos indivíduos com maior risco à doença.
O território apresenta falta de espaços sociais para ações educativas em saúde bucal, mas estas podem ser realizadas utilizando a creche existente ou programando ações com grupos menores de pessoas nas residências de indivíduos que, na triagem, apresentarem maiores agravos, o que fortalece a importância das visitas domiciliares da Equipe de Saúde Bucal ao território. O constante fornecimento de kits de higiene bucal deve estar assegurado durante as ações educativas e as visitas domiciliares.
Organizadas a estratégia inicial de conhecimento do território e a adequação do meio bucal e estruturadas as ações de prevenção, a equipe deve se concentrar na organização da demanda para a assistência na Unidade. Os indivíduos triados no território ou na própria Unidade que necessitam de maior assistência deverão ter prioridade mesmo que respeitando a lógica de cobertura por famílias.
O caso de Jéferson reforça a necessidade de integração da Equipe de Saúde Bucal com a Equipe de Saúde da Família. A dificuldade de acesso à Unidade, que agora está mais longe do território que apresenta maior necessidade, aliada às condições de trabalho de grande parte da população, não propicia uma efetiva frequência a serviços que, culturalmente, muitas vezes podem ser vistos como "adiáveis", como a saúde bucal, deixando, em muitos casos, a demanda se transformar em demanda de urgência para aliviar dor. Isso provoca de um lado a mutilação cada vez maior de uma população já carente de serviços de reabilitação protética ou acarreta uma pressão sobre os serviços de atenção secundária em saúde bucal, como endodontia, para execução de tratamentos de canal para salvar dentes. A capacitação de ACS em saúde bucal e a permanente troca de informações entre esses profissionais e a equipe de saúde bucal podem facilitar o monitoramento e o rastreio de necessidades e devidas ações.
Vila Santo Antônio representa um caso desafiador para a Equipe de Saúde Bucal para lidar com todas as variáveis simultâneas de prevenção e assistência clínica. O correto diagnóstico do território, bem como das necessidades da população aliadas a estratégias de estimulação, educação em saúde bucal e integração de toda a equipe de saúde, pode facilitar as estratégias.
O processo saúde/doença de um território como Vila Santo Antônio reforça também a ideia de que o rastreamento e as ações devem ser frequentes, pois as dificuldades, sejam geográficas e/ou socioeconômicas, geram mudanças importantes no perfil de adoecimento da população, e a equipe de saúde deve estar a postos para acolher e lidar com essas mudanças de forma efetiva e eficiente.