Unidade 12 - Vila Santo Antônio
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Sandra Aparecida Ribeiro


Tosse crônica e tuberculose

O caso Jéferson nos permite refletir sobre causas de tosse, um sintoma muito frequente encontrado na clínica do dia a dia, que neste caso pode estar relacionado ao uso do crack, mas também pode estar associado à tuberculose. É papel das Unidades Básicas de Saúde com Estratégia Saúde da Família (ESF) realizar busca ativa para tuberculose em todo sintomático respiratório.

Jéferson é um paciente com risco biopsicossocial, proveniente de uma família em situação de maior vulnerabilidade, como muitas famílias atendidas pela ESF. Os profissionais de saúde devem ser acolhedores e são preciosa fonte de apoio ao sistema familiar. A equipe da ESF deve trabalhar de forma coordenada, valorizando-se a autonomia de cada um dos membros da equipe, lembrando que um depende do outro para que se possa dar continuidade ao atendimento, principalmente de casos complexos.

O genograma familiar identifica diversos pontos de vulnerabilidade. O caso mostra conflitos nos encaminhamentos e pontos de discordância que dificultam ações de promoção, prevenção e linhas terapêuticas. Da mesma forma, o ecomapa traçado para o caso em questão identifica que as ligações de Jéferson com o meio onde vive são desfavoráveis: alguns bares, ausência de escola e atividades de lazer, crescimento do tráfico e da criminalidade, baixa condição de higiene, ausência de organização comunitária e maior dificuldade de acesso à UBS pela mudança de local.

    Em 2010, a incidência de casos novos de tuberculose foi de 38/100.000 habitantes no Brasil, 40,5/100.000 habitantes no estado de São Paulo e 53,2/100.000 habitantes no município de São Paulo, podendo ser maior em grupos mais vulneráveis, como usuários de droga, moradores de rua, presidiários, alguns grupos de imigrantes com más condições de vida, portadores do vírus HIV etc. Cerca da metade desses casos é de indivíduos bacilíferos – aqueles que transmitem a tuberculose.

As equipes da ESF devem estar preparadas para acolher casos de maior vulnerabilidade, tentando oferecer atendimento imediato quando surge demanda espontânea ou de urgência, e lembrando que a ESF não faz só promoção e prevenção, mas também trata. Nesse caso, a equipe deve se esforçar para tentar desfazer a imagem da falta de acolhimento quando Jéferson foi encaminhado ao pronto-socorro porque se cortou com lata.

O conhecimento de um dos agentes comunitários de saúde quanto às intervenções de redução de danos deve ser valorizado e incorporado ao projeto terapêutico pela equipe, de forma que cada profissional possa contribuir e compartilhar suas experiências, com trocas de visões e ferramentas de manejo dos casos: um verdadeiro trabalho em equipe.

Nesse espaço, a clínica médica, a clínica da enfermagem, da odontologia e dos agentes comunitários se entrecruzam com vistas à melhoria da situação biopsicossocial e à construção de um projeto terapêutico singular, com priorização de problemas, exposição das principais dificuldades da equipe em relação aos problemas, profissionais que deverão participar do projeto terapêutico, reavaliações etc.

O trabalho deve ser efetuado em conjunto com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), porém não se deve isentar de responsabilidade, passando-a para terceiros, sob pena de perda do vínculo.

Especialização em Saúde da Família
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