![]() |
Aula 4 | Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental na Estratégia Saúde da Família | |
Tópico 02 | Territorialização em saúde: identificando os principais problemas de Saúde do Trabalhador e de Saúde Ambiental no território |
Tomando por base Pessoa (2010), entendemos que o território na práxis da saúde na atenção primária à saúde precisa ser desvelado pelos profissionais e comunidades, além dos limites das áreas adscritas e dos problemas emergenciais, que promovem alterações no estado de bem-estar das pessoas.
![]() |
Observação
De acordo com Dias et al (2009), entre as características da atenção primária à saúde que favorecem a inserção de ações de saúde ambiental e de saúde do trabalhador destaca-se o enfoque da territorialização. Este permite a delimitação e caracterização da população e de seus problemas de saúde, a criação de vínculo de responsabilidade entre os serviços de saúde a população adscrita, bem como a avaliação do impacto das ações. |
O conceito de território transcende a dimensão de espaço geográfico fixo. Ele está em permanente construção, apresentando características epidemiológicas, demográficas, históricas, culturais, políticas e sociais dinâmicas, que traduzem no confronto cotidiano entre as demandas de saúde, expressas pelos atores sociais e a oferta de serviços. Porém, mesmo esse enfoque ampliado de territorialização tem sido criticado por não contemplar toda a complexidade dos processos produtivos e suas consequências para a saúde e o ambiente, e as possibilidades de ação (DIAS et. al., 2009).
É importante rever o conceito operacional de território, de modo a contemplar questões como a contiguidade das exposições aos determinantes de saúde, a mobilidade das pessoas que circulam seja para trabalhar ou por outros motivos. Se é mais fácil pensar a organização das ações de saúde ambiental e de saúde do trabalhador na atenção básica, considerando as atividades produtivas domiciliares, ou de "fundo de quintal", ela se torna complexa, quando se trata de propor a assistência de trabalhadores que trabalham em locais distintos, por vezes, em outro município, muitas vezes distantes, como no caso dos trabalhadores migrantes recrutados para a plantação de fruticultura em empresas do agronegócio.
![]() |
Refletir
Algumas questões são colocadas para a reflexão: qual seria o limite das ações de saúde ambiental e de saúde do trabalhador na atenção básica nesses casos? Como organizar o cuidado de pessoas que vivem em um território e trabalham em outro? Como romper com o viés assistencial? O que fazer com as situações de risco geradas em um território, mas cujos impactos se fazem sentir em inúmeros outros? |
- Pessoa (2010, p.263) considera essencial que o método utilizado para realizar a territorialização em saúde de cunho participativo seja capaz de:
- debater os problemas sociais, procurando desvelar as origens e os efeitos destes sobre a saúde humana e de que forma as políticas públicas, principalmente a política de saúde, focando a APS, lida com essas questões no território;
- analisar de que forma os problemas sociais estão implicados com o modo de vida das pessoas, relacionando em primeira instância o mundo do trabalho, procurando identificar como este trabalho se constitui como mediador de novas formas de adoecimentos e sofrimentos no território, ou seja, identificar as necessidades de saúde dos trabalhadores e em que medida isso relaciona-se com a população em geral;
- identificar as transformações ambientais locais e analisar as repercussões sobre a saúde das pessoas, principalmente em relação à qualidade de vida;
- evidenciar as interrelações de saúde-ambiente-trabalho percebidas na vida comunitária e como as políticas de saúde ambiental, saúde do trabalhador e APS em um diálogo com a participação social vivenciam esse processo; e
- propor ações integrais em saúde, com o intuito de desenvolver práticas de saúde que contemplem a dimensão local, incorporando as ações de saúde ambiental e saúde do trabalhador na APS, não como 'um fazer a mais', mas como um fazer pertencente a ESF, porque parte das necessidades de saúde identificadas com origem no território.