O uso de drogas ou substâncias psicoativas (SPA) é condição histórica estruturante da maior parte das sociedades e as formas de consumo problemático ou abusivo são menos frequentes do que os usos para interações sociais construtivas e integradas.
Atualmente, a maioria dos consumidores de drogas, lícitas ou ilícitas, o faz de forma socialmente integrada, sem uso problemático e sem querer abandonar o seu hábito. Isso ocorre com a maioria dos usuários de álcool e maconha. Mesmo o tabaco, que um grande número de pessoas quer deixar de usar, para muitos é um hábito apreciado, ainda que conheçam suas consequências danosas para a saúde. Drogas de maior impacto de danos e de maior incidência de usuários compulsivos, como a cocaína não deixam de ter também usuários ocasionais. Pesquisas (clique aqui) demonstram que menos de um sexto das pessoas que experimentam cocaína se tornam dependentes.
Pesquisa nos EUA mostrou que do total das pessoas que experimentaram álcool, cerca de 15% se torna dependente, e de cocaína 16%, in Wagner, F. A. e Anthony, J. C. From first drug use to drug dependence; developmental periods of risk for dependence upon cannabis, cocaine, and alcohol. Neuropsychopharmacology, 26:479-488, 2002.

Buscaremos também analisar aqui as consequências do entendimento de que pessoas com problemas relacionados ao consumo de álcool e outras drogas perdem inevitavelmente a capacidade de conduzir suas próprias vidas de forma adequada, que se tornam impreterivelmente “escravos”, “dominados pela droga”, em um movimento de inversão onde a coisa (droga) torna-se sujeito e o sujeito (pessoa que usa droga) é coisificado. Tal entendimento sustenta uma atuação a partir da qual as pessoas precisariam ser tuteladas ou contidas. Essa posição constitui um retrocesso histórico frente à Reforma Psiquiátrica e ao cuidado implantado.