Lembremos que o risco de isolamento social é muito frequente nesta ocasião. O risco de o pai culpar a mãe pelo ocorrido é muito comum, ou vice versa. É mais comum ouvir da “mãe” – “meu marido diz que eu mimei demais”. Um sentimento de perda de referências intensifica as relações.
Contribuir na desconstrução da culpabilização, uma herança da tradição judaico-cristã é um dos desafios dos trabalhadores de saúde. Podemos fazer isso por meio de algumas condutas:
- Manter a porta sempre aberta, eliminando, o máximo possível, barreiras de acesso. Especialmente, garantindo o direito das famílias de serem cuidadas, ainda que o familiar que usa drogas não deseje ou consiga se vincular ao serviço;
- Eliminar a postura do: “não podemos fazer nada, se ele (o usuário) não quiser vir aqui!”. Acolha se responsabilize. Trabalhe na aproximação possível, trabalhe ofertando o cuidado possível. Para a maioria das situações, somente por ouvir a expressão “Você não está mais só nesta situação, estamos com você!” a pessoa já sente diminuir o sofrimento, já se sente cuidada;
- Atuar nos territórios;
- Primar pela singularidade;
- Garantir permanente espaço de escuta;
- Se preparar permanentemente para a tarefa: atualizações; cursos; grupos de estudo; debates; encontros com convidados, para promover troca de conhecimento; entre outros meios. Para isso, o compromisso da gestão é imprescindível;
- Buscar parceria com as instituições de ensino;
- Problematizar com as famílias como se constituíram os valores que “pesam” sobre suas cabeças na atualidade, de modo a explicitar o fato de que aquilo que parece ser “verdade absoluta”, não raro, é um valor que foi concebido social e historicamente, por motivos que, muitas vezes, nos fogem ao conhecimento, tais como aqueles de fundo econômico ou político;
- Dar suporte às famílias para se constituírem como um grupo que protege, orienta, acolhe e cuida de seus membros;
- Ofertar informação clara, objetiva, sustentada por fatos e baseada em evidência científica;
- Prover atendimento em grupo de famílias ou individualmente para cada família, de acordo com a avaliação de gravidade, risco e sofrimento. Estimule a participação em grupos, onde o familiar poderá conviver com outras em distintos momentos e situações;
- Contribua para ampliação de “cenas” de vida para o familiar, do mesmo modo que para o usuário;
- Celebrar com as famílias.
Com a identificação de uma pessoa com problemas decorrentes do uso de drogas, muitas competências familiares são exigidas à medida que exigem resposta do grupo. Mas, experiência tem demonstrado que as figuras femininas são mais exigidas neste contexto.