Na década seguinte, em 2003, foi apresentada A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a usuários de álcool e outras drogas, cujos principais marcos institucionais foi a indicação dos Centros de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas (CAPSad) como serviço indutor do cuidado em rede e orientado pela estratégia da redução de danos.
No mesmo documento, o binômio usuário de álcool e outras drogas e sua família parece ter reconfigurado suas fronteiras face à estratégia da redução de danos e sua proposta de estabelecer a rede de saúde como local de conexão e de inserção (BRASIL, 2004c, p.10-11).
[...] a abordagem se afirma como clínico-política, pois, para que não reste apenas como “mudança comportamental”, a redução de danos deve se dar como ação no território, intervindo na construção de redes de suporte social, com clara pretensão de criar outros movimentos possíveis na cidade, visando a avançar em graus de autonomia dos usuários e seus familiares, de modo a lidar com a hetero e a autoviolência muitas vezes decorrentes do uso abusivo do álcool outras drogas, usando recursos que não sejam repressivos, mas comprometidos com a defesa da vida. [...]
Nunca é demais, portanto, insistir que é a rede – de profissionais, de familiares, de organizações governamentais e não-governamentais em interação constante, cada um com seu núcleo específico de ação, mas apoiando-se mutuamente, alimentando-se enquanto rede – que cria acessos variados, acolhe, encaminha, previne, trata, reconstroi existências, cria efetivas alternativas de combate ao que, no uso das drogas, destrói a vida.

A experiência dos grupos anônimos, cujo primeiro a surgir no Brasil foi Alcoólicos Anônimos, no final dos anos de 1940, trouxe para esses membros a necessidade de se criar um espaço próprio para a família. Eles criaram grupos de ajuda mútua para os familiares, os quais foram chamados de Al-Anon (familiares adultos de alcoólicos) e Alateen (familiares adolescentes de alcoólicos). De forma contraditória, apesar da expectativa da abstinência para os usuários, Lima (2012) chama atenção para a construção de mecanismos nesses familiares de tolerância àqueles que ainda se mantêm fazendo uso das drogas.
Nesse caso, como analisar, por exemplo, a experiência dos grupos familiares como o Al-Anon e o Nar-Anon, que, a despeito de estimular seus membros a apoiar a reabilitação do usuário no horizonte da abstinência, oferecem em espaço comunitário, laico e aberto, uma rede territorializada fecunda em termos de acolhimento, suporte, auto-conhecimento e apoio-mútuo? Itinerário que, inclusive, propicia em alguns núcleos familiares a convivência com o usuário sob os efeitos do recorrente uso prejudicial do álcool e outras drogas? (LIMA, 2012, p.5-6).