Quando a pessoa chega sob constrangimento, o que é muito frequente em serviços que atendem pessoas com necessidades/demandas relacionadas ao consumo de drogas, a situação é mais complicada, pois estamos frente a uma situação em que a pessoa já foi desqualificada e destituída de seu poder contratual.

O manejo das situações iniciais para que se estabeleça uma relação contratual de reciprocidade requer paciência, tato e a capacidade de “estar com” o usuário. É preciso o “envolver-se”, numa atitude de empatia que transmite ao usuário o sentimento de que ele é escutado a sério, de que as suas palavras são válidas e valorizadas pelo profissional à sua frente, que se coloca a postos para compreender os problemas do usuário e para buscar os meios para ajudá-lo.

Validar as palavras do usuário não quer dizer que concordamos com tudo o que é dito, mas indicamos que aquilo que o usuário diz é legítimo, que o seu ponto de vista será sempre levado em conta na sequência do planejamento das ações.

É importante, nessas situações, evitar a relação do tipo “Jogo da Verdade” ou “A Razão está com...”. Esse tipo de relação invariavelmente leva a uma disputa de forças, em que a única regra e o objetivo é tentar impor o seu ponto de vista sobre o outro. Esse tipo de dinâmica de imposição pode gerar uma sequência crescente de atitudes cada vez mais impositivas ou agressivas e progredir para a agressão física de fato (seja tanto por parte do profissional quanto da pessoa que busca ajuda).

Nesses momentos, por exemplo, é comum chamar os profissionais da segurança para manejarem as situações de saúde que, como vimos, são inclusive fruto da conduta inadequada da situação.

Tentar manter-se numa atitude construcionista/contratualista, na qual o importante é a disposição para a construção de acordos consensuais para o bem viver, e daí a validação das palavras das pessoas é fundamento da reciprocidade. Esse é um momento muito importante para construir com o usuário o sentido para que ele permaneça na relação de cuidado.