Por outro lado, há uma forte suposição de que dentro do número de “casos ignorados” quanto à categoria de exposição ao HIV, provavelmente, encontram-se muitos casos “não declarados” de usuários de drogas. Note-se que, desde 2001, o Comitê Assessor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde definiu que as categorias de exposição múltiplas, que envolvessem uso de drogas injetáveis e transmissão sexual, teriam sempre como categoria de exposição hierarquizada principal o uso de drogas injetáveis.

Ou seja, se dentre os fatores de exposição à contaminação por doenças, a pessoa relatar que é usuário de droga injetável, este fator de risco vai ser considerado prioritário, quando se determinando as possíveis formas pelas quais se contaminou. Sabemos que o consumo de drogas não se dá de maneira uniforme em toda a população, apresentando características locais ou regionais com relação à escolha dos produtos consumidos e suas vias de utilização.

Além da alta vulnerabilidade individual e das estimativas epidemiológicas contundentes no mundo contemporâneo, algumas avaliações clínicas também indicam que os consumidores de drogas, uma vez infectados pelo vírus HIV e/ou doentes de AIDS, costumam ter um dos piores prognósticos relativos à manutenção da saúde, além de ter a morbidade e a letalidade aumentadas, se comparadas às de outros grupos populacionais.

Apesar disso, não é difícil se observar o quanto em muitos municípios brasileiros as ações de prevenção e assistência voltadas para essa população específica ainda são insuficientes, irregulares ou, na sua grande maioria, inexistentes. O Ministério da Saúde, ao apresentar suas diretrizes nacionais para uma Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas, reafirma ser esse assunto “um grave problema de saúde pública, reconhecendo a necessidade de superar o atraso histórico de assunção desta responsabilidade pelo SUS” e, propõe o enfrentamento da questão através do subsídio de uma construção coletiva (BRASIL, 2011, p. 6).

A invisibilidade que cerca a questão das drogas e seus usuários é um fato notório (no sentido de que as pessoas, inclusive os profissionais de saúde, não perguntam sobre isso. Não que a sociedade não veja que pessoas usam drogas, inclusive as ilícitas). Isso tem seus reflexos no relacionamento entre os profissionais de saúde e as pessoas atendidas nos serviços básicos e especializados. Muito raramente esse tema é incluído nas anamneses, entrevistas e consultas de avaliação clínicas.