A expectativa de ficar “limpo”, ou seja, abstinente, não é apenas do usuário, mas também de sua família e da sociedade. E muitas vezes é reforçada nos serviços de saúde, como única forma possível de tratamento. Não conseguir manter a abstinência, ou seja, “recair”, gera grande frustração no usuário, nos seus familiares e, às vezes, também nos trabalhadores de saúde. Daí a importância de elaborar um projeto terapêutico que distinga o ideal, o real e o possível, naquele momento, para cada ator envolvido: o usuário, sua família (compreendida aqui no sentido alargado e configurações contemporâneas) e o trabalhador.

Por isso, uma clínica da atenção psicossocial precisa operar com uma lógica centrada na singularidade dos sujeitos. Alguns deles vão querer insistir na abstinência como sua forma de lidar com as drogas, enquanto outros vão adotar estratégias de redução de danos e alguns destes, gradualmente, tentarão ficar cada vez mais abstinentes. O importante é que essa trajetória seja construída com o próprio sujeito, apoiando-o nas suas escolhas, de maneira a efetuar intervenções que busquem maior autonomia e corresponsabilização dele pelo seu cuidado. Essas características reforçam as tendências para a prática de uma clínica psicossocial.