A maneira de agir do enfermeiro Mário, que evitou responder com a mesma urgência com que lhe chegavam as demandas das mulheres, leva-nos a pensar na importância de manter a calma quando temos que lidar com a angústia alheia. Mário as escutou, tentando esclarecer o que elas de fato desejavam, e manteve-se aberto para lidar com as diferentes demandas, desde o desejo de ir ao CAPS ao de reduzir danos, através do uso da camisinha, da água e do protetor labial. Mario também marca a volta, um novo encontro, pois é no decorrer desses encontros que se constrói o cuidado.

Para lidar adequadamente com o sofrimento do usuário, precisamos lidar com a angústia que muitas vezes esse sofrimento nos provoca.

Outro sentimento frequentemente presente, tanto entre pessoas com dependência de drogas quanto nos seus familiares e nos trabalhadores que cuidam delas, é a frustração. Esta costuma ser gerada pela projeção de expectativas que “fracassam”, relacionadas a uma ideia de “cura” e abstinência que se espera manter pelo resto da vida e que, na maior parte das vezes, não se concretiza. A frustração gera cansaço e sentimento de impotência nos usuários e, também, nos trabalhadores. Entretanto, as idas e vindas, com períodos de maior controle e redução de uso, alternados a momentos de maior abuso e dependência, é o que se observa na maioria das pessoas dependentes de drogas.