Da tutela implicada à autonomia
O cuidado a pessoas em situação de grande vulnerabilidade, como as mulheres visitadas pela equipe do Consultório na Rua de Irubiba, exige criatividade, a reorganização dos serviços de saúde e disponibilidade dos trabalhadores para mudar padrões e rotinas estabelecidos. No relato acima, vimos que uma Unidade Básica de Saúde oferece o almoço, que por si já seria uma estratégia de redução de danos, em troca do tratamento supervisionado para tuberculose e AIDS. Articular o cuidado em rede é desafiante, pois exige paciência para lidar com as resistências de alguns trabalhadores e equipes, de maneira a apostar na corresponsabilidade pelo cuidado.

Se uma determinada intervenção, aparentemente tutelar, está articulada a um projeto que busca maior autonomia e corresponsabilização do usuário, ela seria uma espécie de cuidado baseado em uma tutela implicada, que busca avançar gradativamente para um cuidado mais autonomizador. É como oferecer muletas a uma pessoa que está com problemas para andar; mas, no processo de cuidado é necessário pensar também em como ajudá-la para que volte a caminhar com suas próprias pernas (MERHY, 2007). Um CAPS é um hotel? Um restaurante? Não é. Mas pode “estar”. O que não deve acontecer é a relação entre usuário e serviço se “perpetuar” nesses termos. Mas a mudança é tanto de responsabilidade da equipe, quanto do usuário.