Praticas coletivas (grupos) na Atenção Primária
Há uma rápida menção no caso sobre a possibilidade de se fazer um grupo, o "Bebê a bordo", como estratégia para cuidado das crianças. Ainda que o tema não tenha sido muito desenvolvido no caso, valem algumas reflexões.
O trabalho com grupos na APS é um recurso fundamental, pois permite organizar melhor os processos de trabalho e amplia a capacidade assistencial. Além disso, quando os trabalhos são bem conduzidos e planejados, não há perda de qualidade, inclusive com a possibilidade de ampliá-la. Quando pensamos num universo de mais de um milhar de famílias por equipe – muitas delas em preocupante condição socioeconômica – a prática coletiva dos grupos acaba sendo uma ótima alternativa. Os grupos são espaços de educação em saúde, que podem acontecer para a promoção e a prevenção em saúde, para a convivência ou mesmo com objetivos terapêuticos. Infelizmente, muitas vezes esses grupos são planejados e realizados apenas como forma de transmissão de informações por meio de "palestras" dos profissionais, sem que sejam garantidas uma participação ativa, a reflexão e a corresponsabilização das pessoas que os frequentam.
No exemplo do caso, um grupo com crianças lactentes seria um espaço precioso de problematização com as mães quanto às dificuldades no cuidado, de troca de experiências, de discussão sobre aspectos comuns e fundamentais dos primeiros anos de vida (desenvolvimento da criança, prevenção de acidentes, resfriados comuns e recorrentes, manejo da febre, cuidado com higiene e saúde bucal, por exemplo), e também de valorização do tempo dos profissionais da equipe. Informações abordadas em grupo não precisam ser retomas nas consultas, ou apenas lembradas rapidamente.
Trata-se de um espaço riquíssimo para a inserção da Equipe de Saúde Bucal em atividades "extracadeira". A própria equipe no caso aponta para esse fato. A Educação em Saúde Bucal para crianças tem uma importância inquestionável e permite a vinculação da Equipe de Saúde Bucal com a comunidade a partir das crianças, com uma ótima perspectiva de cuidado longitudinal e integral.
Para a realização de grupos é necessário planejamento e, se possível, a liderança de um membro da equipe para organização e manejo de eventuais dificuldades. Em alguns grupos pode haver fenômenos coletivos que variam desde a esfera terapêutica a andamentos desagregadores. Dessa forma, é importante que os profissionais estejam atentos a possíveis resistências e faltas, por exemplo. A participação de profissionais com formação específica (profissionais do NASF) em grupos é muito bem-vinda para auxiliar e capacitar os membros da equipe da ESF a compreender os fenômenos grupais. Para mais informações, sugerimos o estudo do capítulo de grupo do manual de matriciamento.