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Mas quem se levanta é uma senhora abatida e com aparência envelhecida, como se tivesse uns 45 anos, descuidada, cabelos crespos e assanhados, olhos fundos e com olheiras das noites maldormidas, sem nenhuma maquiagem e um pouco mais gorda, sendo difícil precisar o quanto pelas roupas largas que vestia. Parecia bem mais baixa fora do sapato alto e usando aquelas sandálias de borracha um pouco sem cor pela sujeira acumulada.
Rita olha de novo para ela de cima a baixo e pergunta de novo, assustada, como se estivesse ainda sem acreditar:
– Darlene?
– Sim, doutora, sou eu. – responde Darlene, em tom baixo e incomodada com o olhar de Rita.
Ao chegar mais perto, Rita pôde ver melhor Danrley Anderson (o bebê de 15 dias) e constatar o que haviam dito Cleonice e Lucimar. Era uma criança linda. Pele clara, olhos azuis e uma face rosada e sorridente. Era realmente encantador. Tinha tanta vida que Darlene, já tão apagada, tornava-se quase imperceptível diante do brilho e da leveza do sorriso do filho.
– Que lindo teu filho, Darlene! Entre aqui. Vamos à minha sala para conversarmos um pouco. – fala Rita, ainda encantada com a beleza de Danrley Anderson.
Já na sala, Rita pergunta:
– Como está o Danrley, Darlene?
– Danrley Anderson, doutora. Meu Danrley Deus já levou. – retruca Darlene, irritada com a vivacidade da criança, que por onde passava chamava atenção.
– Desculpa, Darlene. Sei que ainda deve estar muito triste com a morte do Danrley. Mas agora tem que reagir e poder cuidar desta criança linda. Como ele está?– pergunta Rita, sem notar que os elogios a Danrley Anderson só aumentam a angústia e a irritação de Darlene.
– Está bem, doutora, não faz nada mais do que comer, dormir e ficar rindo o tempo todo.
O problema é que ele está amarelinho, não vê? Saiu da maternidade assim, mas estava menos, só nos olhinhos. Mas agora parece que piorou... Ele é muito quieto. – responde Darlene, irritada e lembrando-se do quanto seu filho Danrley era agitado desde pequeno.
– Que bom, então. Um filho quieto é o sonho de toda mãe. – comenta Rita, tentando melhorar o vínculo de Darlene com o novo filho. – Mas e a rotina dele, como tem sido? Tem tomado banho de sol? Tem feito xixi e cocô normalmente? – pergunta Rita, percebendo o incômodo de Darlene e tentando entrar nas questões mais objetivas.
– Como já disse, ele está muito bem. Não precisa se preocupar, que tudo o que vocês disseram está sendo feito. Toma banho todos os dias com água "quebrada a frieza", toma banho de sol, arrota depois de comer. Faz xixi e cocô várias vezes ao dia e não fica com a fralda suja nem um minuto. O xixi e o cocô não estão com cores diferentes, acho. Mais alguma coisa? – pergunta Darlene, já impaciente com a consulta.
– E o que ele tem comido, Darlene? – pergunta Rita, um pouco chateada com a rispidez de Darlene, mas tentando se controlar.
– Até semana passada era só o leite do peito, doutora. Mas ele é muito esfomeado, e daí eu comecei a dar uma mamadeira à noite para ver se consigo dormir uma noite inteira. – responde Darlene, suspirando e com ar de cansada.
– Hummm...– suspira Rita, preocupada em como poder falar para Darlene da importância de seguir com leite materno exclusivo sem culpabilizá-la.
– Já sei o que a senhora vai dizer, doutora. Que o leite do peito é que é bom, que esse outro leite é pra bezerro e não pra bebês, que no estômago dele é como se fosse uma feijoada de tão pesado para digerir e que ele dorme a noite toda não por estar bem alimentado, e sim por estar pesado. – responde Darlene, irritada. – Mas, se for pra me dizer isso, nem precisa continuar. Eu é que sei o que eu estou passando... – e começa a chorar.
– Calma, Darlene. Nós estamos aqui para te ajudar e não para te cobrar nada. Até porque o Danrley Anderson está muito bem. Perdeu um pouco de peso, mas isso é normal. Quanto ao amarelado, isso chama icterícia e nós vamos observar. Vi também que você já fez o exame do olhinho e do pezinho. Do olhinho está tudo bem e do pezinho vamos esperar o resultado... – Parabéns! – complementou, tentando acalmar Darlene. – Mas você tem que ter um pouco mais de paciência para dar o peito. Já conversamos sobre o quanto isso é importante...
– Desculpa, doutora. Tenho feito o possível para cuidar bem dele. Mas ainda está muito difícil... – comenta Darlene, ainda soluçando.
– O que você acha de chamarmos o Dr. Felipe para conversarmos juntos? – pergunta Rita, enquanto oferece um lenço a Darlene.
– Pode ser, doutora. Estou mesmo precisando escutar os conselhos do doutor pra me acalmar. – responde Darlene, secando as lágrimas. |
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