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Rita sai e vai à sala de Felipe e o chama. Antes de voltarem, conta um pouco o que se passou na consulta e sua percepção de que Darlene ainda está muito mal com a morte de Danrley e muito confusa em relação ao novo filho. Apesar disso, refere sua constatação de que a criança está muito bem desenvolvida. Em seguida, passados alguns minutos, voltam juntos à sala de Rita.
– Oi, Darlene, tudo bem? – pergunta Felipe. – Como estão os pontos do parto, já caíram?
– Tá tudo mais ou menos, doutor. As coisas não estão muito bem, não, mas é que minha saúde não tem andado bem mesmo... Mas hoje vim para trazer o Danrley Anderson, como a enfermeira Laís pediu quando foi lá em casa, com o agente Tiago. Ele continua amarelinho, e isso está piorando...
– Mas, pelo que a Rita estava me contando, você só não veio à consulta, mas está cuidando dele muito bem e descuidou do aleitamento materno, não é? Olha como ele está bem. – comenta Felipe, tentando aliviar o sentimento de culpa de Darlene.
– O senhor acha mesmo, doutor? A Rita também achou que ele está muito bem! – pergunta Darlene, esboçando um sorriso discreto.
– Claro, Darlene. E eu sou lá homem de mentir, oras! – brinca Felipe. – Mas eu já sei o que está acontecendo com você. – comenta Felipe em tom misterioso.
– Lá vem o senhor com as suas adivinhações, doutor. Até parece que é bruxo. Só não venha me fazer chorar, que eu não aguento mais. – fala Darlene, já com os olhos cheios de lágrimas.
– Isso não é adivinhação, Darlene. São apenas situações já esperadas que acontecem no ciclo de vida da maioria das pessoas. Não acontece só com você. – comenta Rita, abrindo espaço para que Felipe pudesse falar sobre a crise vital por que Darlene passa no momento, de famílias com filhos pequenos, e ainda agravada por um luto mal resolvido. – Não é mesmo, Felipe?
– Isso mesmo, Rita. – responde Felipe e, virando-se para Darlene: – Por exemplo, neste momento, acho que você deve estar muito cansada e sozinha e deve ter vários pensamentos ruins em relação ao Danrley Anderson. Mas isso acontece com praticamente todas as mães com crianças pequenas. Afinal, bebês precisam de muita atenção e mudam a vida de todos em casa. – comenta Felipe, enquanto toca a mão de Darlene.
– É assim mesmo que me sinto, doutor. Estou muito cansada e ainda tenho que ficar dando atenção para ele. Não aguento mais. E o Samuel anda meio desmiolado... – comenta Darlene, já com os olhos cheios de lágrimas novamente.
– Às vezes dá vontade até de jogá-lo na parede, não é mesmo? – exagera Felipe, tentando normalizar os pensamentos de Darlene, enquanto olha para Rita, pedindo apoio. – Quanto ao Samuel, falamos daqui a pouco...
Darlene arregala os olhos, enquanto Rita continua falando de sua própria experiência:
– No meu primeiro filho, eu tinha vontade de amordaçá-lo quando ele começava a chorar de madrugada. Mas não é isso que define ser uma boa mãe, Darlene. Nossas atitudes é que contam. Os pensamentos podem até ser ruins, mas o que fazemos por eles é que faz a diferença. E olhe para seu filho, como está lindo! Isso é o resultado dos seus cuidados. – e aponta para Danrley Anderson, sorrindo para Darlene.
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