Vínculo, acolhimento e abordagem psicossocial: A prática da integralidade

Daniel Almeida Gonçalves e Maria Luiza de Mattos Fiore

Prescrição e encaminhamentos entre profissionais

Devemos considerar as relações recíprocas entre os vários profissionais que interagem nos sistemas de saúde, por exemplo, entre enfermeiro vs. médico, médico de família vs. médico-especialista focal, médico e/ou enfermeiro vs. odontólogo clínico geral vs. odontólogo especialista.

As questões ideológicas dos profissionais de saúde se expressam principalmente na hora da prescrição e do encaminhamento. É necessário observar se a orientação da prescrição responde às reais necessidades do paciente, ou se foi feita para tranquilizar o médico, enfermeiro ou odontólogo. É comum existir uma pressão social, de laboratórios, protocolos de pesquisa, para que o profissional prescreva determinado medicamento, orientação em saúde ou intervenção no qual não acredita muito, ou não está de acordo com as possibilidades econômicas do paciente.

Outra questão na qual se evidencia a postura do profissional é o encaminhamento para um especialista. Balint (1984) nos lembra que é preciso ter cuidado para não participar de uma trama de omissão com consequente diluição da responsabilidade sobre aquele paciente. É frequente se manifestar, pelo ato de "passar para a frente", um desejo de não se responsabilizar mobilizado pelas próprias características do comportamento do paciente, por exemplo, quando se trata de um paciente desafiador, ou querelante, entre outros motivos. Diante de tais questões, é comum o envio a outro profissional, como da enfermagem para o médico, do médico de família para o psiquiatra, ou do odontólogo da UBS para o odontólogo especialista, de uma maneira descuidada, sem muitas explicações, para evitar a preocupação de como o paciente vai entender esse envio.

Tendo como exemplo a pessoa portadora de alguma doença mental, o temor de que se está catalogando a pessoa como louca traduz a posição ideológica do médico em relação à psiquiatria e à importância da avaliação da saúde mental no processo do adoecer daquele paciente. É uma situação que envolve uma ambivalência entre a capacidade de atender aquele doente e a impossibilidade de fazê-lo. Isso pode criar um clima de desconsideração e desconfiança, diante das queixas sem uma doença física evidente, que deve ser esclarecido.


    Portanto, não é suficiente fazer apenas o diagnóstico da doença, se não tiver uma ideia de como o doente a percebe e como entende suas palavras. Para evitar uma comunicação destrutiva, o profissional de saúde deve adaptar suas palavras a cada doente e situação que se apresenta. Isso significa ter alguma ideia da estrutura e dinâmica psicológica de seu paciente, de como esta ressoa em si, no próprio profissional, além de considerar o contexto que os envolve.

Especialização em Saúde da Família
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