A Violência Contra o Idoso


Um fator relevante de vulnerabilidade a que se encontra exposto o idoso é a violência.

A violência contra as pessoas idosas tem se constituído em uma vulnerabilidade importante nesta etapa da vida. A violência, também denominada de “maus-tratos”, conforme Minayo (2003), precisa ser vista sob, pelo menos, três parâmetros: demográfico, sócio-antropológico e epidemiológico.

A Rede Internacional para Prevenção dos Maus Tratos contra a Pessoa Idosa define a violência contra esse grupo etário como “o ato (único ou repetido) ou omissão que lhe cause dano físico ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista expectativa de confiança" (BRASIL, 2006, p. 2).

Deve-se considerar o recente interesse sobre o tema, vinculado ao acelerado crescimento nas proporções de idosos em quase todos os países do mundo. Esse fenômeno quantitativo repercute nas formas de visibilidade social do referido grupo etário e na expressão de suas necessidades.

As últimas duas formas ocorrem, principalmente, pela desigualdade social e são naturalizadas nas manifestações de pobreza, de miséria e de discriminação, na aplicação ou na omissão das políticas sociais pelo Estado e pelas instituições de assistência, maneira privilegiada de reprodução das relações assimétricas de poder, de domínio, de menosprezos e de discriminação (MACHADO; QUEIROZ, 2006).

No âmbito das instituições de assistência social e saúde, são frequentes as denúncias de maus-tratos e negligência. São preocupantes as situações de abuso e negligência no interior dos próprios lares, onde o choque de gerações, problemas de espaço físico e dificuldades financeiras costumam se somar a um imaginário social que considera a velhice como “decadência” (MINAYO; COIMBRA JUNIOR, 2002, apud MINAYO, 2003).

Clique e confira uma investigação feita com o objetivo de compreender a situação de violência que grande parte dos idosos brasileiros vivenciam.

O Enfermeiro deve estar atento para o fato de que a violência intrafamiliar, importante representação da violência interpessoal, é toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família. Violência intrafamiliar é aquela que acontece dentro da família, em casa ou fora dela, ou seja, nas relações entre os membros da comunidade familiar, formada por vínculos de parentesco natural (pai/mãe, filha/filho etc.) ou civil (marido/esposa, nora/genro ou outros), por afinidade (por exemplo, o primo ou parente do marido/da esposa) ou afetividade (amigo ou amiga que more na mesma casa) (BRASIL, 2006).

Por isso, é importante o acompanhamento das famílias dos idosos pela Equipe de Saúde da Família, especialmente pelo Enfermeiro, pois evidenciam que é no contexto familiar que as agressões contra os idosos são praticadas, em geral, pelos filhos homens. Estes e os cônjuges, são responsáveis por 2/3 dos casos de maus-tratos no cenário doméstico.

A proximidade e o vínculo da Equipe de Saúde com a família podem contribuir na identificação das várias formas e diferentes graus de severidade da violência intrafamiliar.

As diversas formas de violência contra idosos não se produzem isoladamente, mas fazem parte de uma sequência crescente de episódios, nos quais o homicídio é a manifestação mais extrema.

Existem condições particulares, individuais, familiares ou coletivas, que aumentam o risco de ocorrência de violência intrafamiliar. A pessoa idosa torna-se mais vulnerável à violência na medida em que apresenta maior dependência. O convívio familiar estressante e cuidadores despreparados ou sobrecarregados tendem a agravar essa situação.

Na Prática:

Uma dificuldade encontrada pelo Enfermeiro e pelos demais profissionais da saúde no manejo da violência contra os idosos, e também com relação a outros tipos de violências, é a precariedade em sua formação profissional para a realização do diagnóstico e a abordagem deste problema. Por isso, devemos estar tão atentos a este estudo e a tudo que ele está relacionado.

Tal deficiência na formação do profissional de saúde contrasta com a percepção de que a violência é um problema social de grande dimensão que afeta toda a sociedade, atingindo, especialmente, e de forma continuada, mulheres, crianças, adolescentes, pessoas idosas e portadores de deficiência.

A identificação de sinais de violência contra as pessoas idosas é frequentemente negligenciada no atendimento à saúde, quer pela dificuldade em identificá-los, quer pela ausência de suporte formal para auxiliar tanto a(s) vítima(s) quanto os profissionais. Essa identificação de sinais de violência contra as pessoas idosas é, também, com certa frequência, negligenciada no atendimento à saúde e deve ser notificada por meio de ficha apropriada.

Saiba Mais:

Esta ficha encontra-se disponível no Anexo 15 do Caderno de Atenção Básica n.º 19 do Ministério da Saúde.

Lembre-se de que a Constituição Federal de 1988 afirma como obrigação dos filhos a assistência aos pais. No entanto, estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, com base nas ocorrências registradas pela Delegacia de Proteção ao Idoso de São Paulo em 2000, revelaram que 39,6% dos agressores são filhos das vítimas, 20,30% seus vizinhos e 9,3% outros familiares (SOUZA; FREITAS; QUEIROZ, 2007).

É importante, para que as Equipes de Saúde da Família possam identificar as várias formas de violência, que sejam criados espaços de reflexão e capacitação sobre esse tema da violência nos serviços de saúde e nas demais instituições situadas na área de atuação da equipe.

Cabe às equipes a identificação dos casos suspeitos ou confirmados de violência, notificando-os, bem como a promoção de ações de prevenção dessas violências, por meio de educação em saúde com os familiares e estimulando uma rede de proteção à pessoa idosa.

É também, um de seus papéis, fomentar a cultura da paz e a promoção da saúde, estimulando hábitos e comportamentos saudáveis, como também propor estratégias intersetoriais que busquem ambientes e entornos seguros e saudáveis.

Chegamos ao final desta etapa, então, é hora de fazer uma autoavaliação sobre o conteúdo visto. Reflita! E vá além: faça esse conhecimento fazer parte do seu cotidiano de trabalho.

Bom aprendizado!

Créditos
Martini, Mello