Promoção da descontinuação do uso de benzodiazepínicos em uma comunidade do município de Agrolândia - SC.

Abstract

O uso excessivo e crônico de medicações ansiolíticas conhecidas como benzodiazepínicos é uma realidade em nosso país e no mundo. O que parecia ser uma classe farmacológica capaz de tratar vários Transtornos de Saúde Mental (TSM) logo se mostrou deletéria em outros aspectos, como a capacidade de induzir tolerância e dependência química. Tais medicamentos frequentemente são prescritos sem qualquer critério clínico e são renovados indiscriminadamente, constituindo uma verdadeira prática iatrogênica. Apesar de existir uma percepção geral entre a classe médica e entre os próprios pacientes de que é muito difícil e trabalhoso retirar essas medicações do cotidiano dos seus usuários, isto não é verdadeiro. A formação de uma boa relação médico-paciente que aponte os malefícios do uso crônico desses fármacos e o esclarecimento das dúvidas que os pacientes possam ter a respeito do assunto constituem fundamentos iniciais suficientes para que se estabeleça uma proposta terapêutica de retirada. Retirada esta que geralmente se estende por alguns meses e que deve ser monitorada - preferencialmente até o fim - pelo mesmo médico que a iniciou. Como proposta, este trabalho apresenta um projeto de intervenção já realizado entre Abril de 2016 e Fevereiro de 2017 para a retirada de benzodiazepínicos de usuários crônicos que são atendidos na Unidade Básica de Saúde (UBS) São João, no município de Agrolândia em Santa Catarina. Os usuários crônicos foram identificados em consultas médica de rotina quando estes procuravam atendimento e/ou renovação de receitas. Foi realizada uma abordagem informativa-educacional quanto aos malefícios particulares do uso crônico desses fármacos e uma proposta de retirada/substituição controlada e gradual oferecida, conforme cada caso clínico de forma individualizada. A prescrição de novos medicamentos também é utilizada como feramenta auxiliar para a substituição e retirada destas substâncias. Concomitante a isto, encontramos muitas vezes uma condição de base subdiagnósticada e subtratada em Saúde Mental que deve ser adequadamente abordada para que a retirada logre sucesso. De um total de 77 usuários crônicos identificados, 38 conseguriam descontinuar o uso (alguns em uso há mais de uma década), enquanto outros 21 ainda se encontram em processo de descontinuação. Quinze usuários se mostraram total ou parcialmente resistentes ao abandono desses fármacos.