ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS DE ENFRENTAMENTO ÀS DOENÇAS RELACIONADAS AO SANEAMENTO NA ALDEIA BORORÓ, TERRITÓRIO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO DO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA MATO GROSSO DO SUL

Abstract

O território-recorte da aldeia Bororó, mais especificamente a macro-área da Equipe Ireno Isnard é uma divisão organizacional de saúde do Polo Base de Dourados e compreende o fluxo de assistência fornecido pelo Distrito Sanitário Especial Indígena do Mato Grosso do Sul (DSEI MS) com sua contribuição político-administrativa. A extensão do território estudado é de aproximadamente 1.200 hectares, abrange 3.319 indígenas e impõe um processo de transformação sociocultural às etnias Guarani e Kaiowá devido à sua intensa aproximação com o centro urbano de Dourados, compreendendo um território de complexidade cultural, social, política e econômica. Tal aproximação, no entanto, não foi suficiente para fornecer uma estrutura igualitária de rede de saneamento, esgotamento e higiene ambiental tal qual se encontra na cidade, demonstrando as desigualdades sociais e iniquidades às quais esses povos indígenas são impostos. A alta incidência e prevalência de doenças infecciosas, parasitárias, tóxico-cutâneas, além de desidratação, zoonoses e potencialização de agravos oriundos da desnutrição, são consequências dessa falta de acesso à água limpa e potável e da falta de uma rede de esgotamento, expondo os moradores desse território aos mais diversos patógenos e toxinas oriundas do ambiente. Para ilustrar essa situação-problema, foram levantados alguns indicadores de saúde para comparação, dentre eles o Coeficiente de Mortalidade Geral, o Coeficiente de Mortalidade Infantil e seus componentes perinatal e pós-neonatal. Apesar da viés de análise, devido ao tamanho populacional de comparação, a mortalidades dos moradores do recorte territorial da Bororó calculada por causas específicas, demonstrou alta incidência por doenças infecciosas e parasitárias (38,5%), seguida de morte perinatal e neonatal (30,7%), sendo maior do que as causas externas (homicídios, acidentes, suicídio). O serviço de distribuição de água e o esgotamento são precários, não padronizados e possuem, ainda, uma estruturação frágil. Dados do IBGE em 2010 apontaram que neste ano mais de 76,6% da população indígena não possuía rede de abastecimento de água e ainda hoje, essa realidade pouco foi alterada pois as obras ainda permanecem atrasadas. Essa complexa situação-problema, seu processo saúde-doença do território e as disparidades sociais adjuntas me levou à reflexão para a criação de uma rede explicativa e de um plano de soluções, pautadas no conceito de Clínica Ampliada, promoção, prevenção e territorialização da saúde. As soluções foram construídas em conjunto com a comunidade, agentes indígenas de saúde e agentes de saneamento indígenas de saúde buscando um itinerário terapêutico. Propostas como desenho esquemático e mapeado do território, construção de poços artesianos e setorização da rede hidráulica foram levantadas nas ações educativas deste trabalho. Sendo assim, o médico foi capaz de articular junto à sua comunidade, estratégias de transformação do processo saúde-doença do território, proporcionando a esses indígenas a posição de atores no processo de construção de saúde do território.